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domingo, 5 de agosto de 2018

A HISTÓRIA DOS POTIGUARAS



NAÇÃO POTIGUARA

Os potiguaras (termo tupi que significa comedores de camarão) 
fazem parte da família linguística Tupi Guarani e habitavam toda a costa 
da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão.

Estima-se que sua população chegava a cem mil pessoas até a aparição dos portugueses, em 1500. No começo os conflitos eram raros, mas com o tempo os indígenas sentiram que o usufruto das suas terras estava ameaçado e reagiram com força.
Iniciava-se a saga de uma das culturas autóctones mais valentes do Brasil. Ao longo dos séculos 16 e 17, os nativos resistiram ao projeto de colonização lusitano. Aliaram-se, primeiro, aos franceses; depois, aos holandeses. Quando estes foram expulsos do Brasil, em 1654, a retaliação veio a galope e grande parte de sua população sumiu do mapa, apesar da Lei Régia de 1548, determinando que se dessem aos índios bons tratos.


Índios de Albert Eckhout

As leis de proteção e reconhecimento continuavam a serem escritas, como o Alvará, de 23 de novembro de 1700, que estabelecia uma légua de terra para cada aldeia de 100 casais, corroborado depois pela Lei de Terras de 1850 e da Lei de 1860, que resguardava as terras dos índios aldeados.
Na prática, os índios estavam largados à própria sorte, mas se mantiveram com alguma tranquilidade no Litoral Norte da Paraíba entre os rios Camaratuba e Mamanguape.
No início do século XX, quando viviam relativamente estabilizados em suas terras, mesmo sem a homologação das demarcações, o território potiguara foi, mais uma vez, usurpado por invasores.
Primeiro, com a construção da Companhia de Tecidos Rio Tinto, da família de imigrantes suecos Lundgren (Os Invasores do Século XX), localizada as margens do Rio Mamanguape, onde ocorreram grandes desmatamentos.


Demarcação da TI Potyguara na Baía da Traição. Foto: Tiuré, 1981

Na década de setenta, a cana-de-açúcar, protagonista no século XVII, voltaria à cena, dessa vez como monocultura das usinas de álcool, invadindo e cercando de canaviais as exíguas terras dos nativos.
Os Potiguaras, então, fizeram valer seu espírito guerreiro do passado e foram à luta pelos seus direitos. As armas, daquela vez, foram a base de argumentos e convicções. Organizaram-se e buscaram reconhecimento.
Em 1991, finalmente, a primeira demarcação da Terra Indígena Potiguara foi concluída, delimitando-se um território de 21.238 hectares. Dois anos depois, a TI Jacaré de São Domingos foi homologado, com 5.032 ha.
A batalha por justiça, no entanto, se mantém. A TI Potiguara de Monte-Mor, com 7.487, que pretende recuperar áreas tomadas pela indústria têxtil e por algumas usinas de açúcar, ainda precisa ser homologada.
Próximo à Barra do rio Guaju, na Vila do Sagi, no Rio Grande do Norte, a aldeia Ultrabanda, onde vivem 103 famílias, sequer teve seus 75 hectares de terras demarcados. O núcleo representa o último remanescente dos índios potiguaras no Estado, onde, quem nasce nele, é chamado de potiguar.

OS POTIGUARAS DO SÉCULO XXI



Os Potiguaras do século 21 têm seus pés apoiados no presente, mas o 
movimento de resgate de sua cultura, tão expressiva no passado, é 
um passo fundamental para as atuais e futuras gerações reafirmarem 
sua identidade. As escolas indígenas vêm revolucionando 
esse processo.



Desde 2002, as trinta e duas aldeias têm unidades de ensino fundamental com professores bilíngues, sendo que, quatro delas (São Francisco, Monte-Mor, Três Rios e Acajutibiró) recebem também alunos do ensino médio.
Nesses treze anos, muita coisa mudou. A língua Tupi, que até então aparecia de forma inconsciente, em palavras soltas e esparsas no meio de frases, em português, aos poucos, ressurge na boca do povo.
“No início, não havia demanda. Hoje, está faltando professor. Muitos querem participar do Toré, inclusive, adultos. É o fortalecimento da nossa cultura”, diz o professor Josafá Freire, potiguar da gema e coordenador do projeto em toda a Reserva.
As aulas, além da grade normal de qualquer escola no Brasil, ensinam gramática da língua tupi, história étnica e arte e cultura potiguara.

O RITUAL SAGRADO

O Toré é um ritual sagrado dos índios do nordeste brasileiro que resistiu a tudo e a todos. Nem mesmo centenas de anos em longos processos de aculturação foram capazes de minar esse culto que está na essência do espírito guerreiro dos Potiguaras.
A cerimônia, fechada, é uma celebração à identidade e à união das aldeias, e acontece em diferentes situações. Comemorar uma colheita, uma conquista, a exemplo das demarcações e homologações de suas terras ou, até mesmo, homenagens em dias de luto.
No passado, as batalhas vencidas pelos Potiguaras contra as forças portuguesas sempre eram festejadas com o Toré.
O rito é dançado em três círculos sobrepostos. No centro do primeiro círculo, formado pelas crianças e adolescentes, ficam os tocadores de bombo (tambor), a gaita (flauta feita de bambu) e a caixa; o segundo anel é composto pelas lideranças (caciques e pajés); no maior arco dançam os adultos, sempre em movimentos circulares, no sentido horário.



PINTURA POTIGUARA

A pintura Potiguara é uma de suas expressões culturais mais representativas. Usada durante o ritual do Toré, ela é a mais pura tradução dos antepassados indígenas.
O urucum reproduz o sangue vermelho e a força dos guerreiros. Retirar sua tinta é muito simples. A semente é aberta, depois, com as próprias mãos, os nativos pintam o rosto.
A cor preta do jenipapo evoca a Mãe Terra, fonte de energia. Sua extração é bem mais complexa, sendo necessários três dias em que é preciso mexer o caldo com as raspas do fruto, a cada duas horas, até chegar à tonalidade e textura certas.
No Dia do Ìndio, 19 de abril, é realizado um grande Toré, aberto ao público, na aldeia São Francisco.

A RESERVA INDÍGENA

A Reserva dos Potiguaras tem 33 757 hectares (Terra Indígena Potiguara - 21.238 hectares; TI Jacaré de São Domingos - 5.032 ha; e TI Potiguara de Monte-Mor - 7.487 ha), repartidos em três áreas adjacentes, nos municípios de Baía da Traição, Rio Tinto e Marcação.
Sua população é estimada em vinte mil pessoas, distribuídas em 32 aldeias e nas cidades de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto.
Cada aldeia possui um cacique. A reserva, como um todo, é comandada por um Cacique Geral.
Os potiguaras desenvolvem agricultura de subsistência de culturas como o milho, feijão, mandioca, macaxeira e inhame; a pesca artesanal, no mar e nos manguezais; o extrativismo vegetal da mangaba, dendê, caju e batiputá; e a criação de galinhas, patos, cabras, bovinos e cavalos. O turismo de base comunitária é incipiente, mas merece atenção destacada, por se mostrar uma forma da população indígena, ter um controle sobre seu desenvolvimento econômico em que os benefícios permanecem dentro das aldeias.



OS POTIGUARAS E AS GUERRAS CRISTÃS




Uma das etnias indígenas que mais sofreram com 
catequizações impostas por nações colonizadoras foram os potiguaras. 
No auge da guerra político-religiosa que atingia a Europa, desencadeada pela 
reforma protestante e a contrarreforma católica, os nativos brasileiros ficaram 
no meio do fogo cruzado das doutrinas cristãs.
Na Paraíba, a evangelização católica começou, com força, em 1587, quando as expedições da União Ibérica passaram a ter a presença de religiosos. No início, o trabalho das missões era feito pelos jesuítas que pregavam e também tentavam coibir a violência dos colonizadores contra os índios.
Os desbravadores estrangeiros e bandeirantes, no entanto, ignoravam os decretos pontifícios favoráveis aos autóctones, expedidos em 1537, em que o papa Paulo III proibia a escravização, além de rechaçar a crença de sua irracionalidade, declarando-os capazes de receberem a fé cristã.


Jesuítas no Brasil Colônia

A Igreja Cristã Reformada, por sua vez, veio para o Brasil sob a bandeira holandesa, em 1630, ocasião em que grande parte dos potiguaras viu neles os libertadores da opressão exercida pelos invasores luso-hispânicos.
Na medida em que os holandeses avançavam no Nordeste, eram introduzidas congregações reformadas.
As ações começaram em cima do trabalho feito, anteriormente, pelas ordens religiosas dos jesuítas, franciscanos e carmelitas que já tinham ensinado algumas orações, a confissão apostólica, além de ter realizado batizados.
Em 1638, os próprios índios potiguaras, na Paraíba, que chegavam a expulsar padres de seus núcleos, solicitaram um pastor nas aldeias. Os escolhidos foram David à Doreslaer e Johannes Eduardus que, além de ampliarem o trabalho missionário, se dedicaram ao ambicioso projeto de instituir o catecismo em tupi
O pastor Eduardus traduziu trechos da bíblia e David organizou o livro “Uma Instrução Simples e Breve da Palavra de Deus”, escrito nas línguas brasiliana, holandesa e portuguesa.
A obra, que tinha notas e formulários para batismo e Santa ceia, foi impressa na Holanda e distribuída no Brasil pela Companhia das Índias Ocidentais, em 1641.
No começo do movimento de Insurreição Pernambucana, em 1645, que culminou com a expulsão dos holandeses, dez anos depois, uma série de trocas de cartas entre líderes potiguaras tornou-se o símbolo da guerra de propaganda religiosa que separou seu povo.


Insurreição Pernambucana

Do lado católico-português (a guerra da restauração já tinha separado Portugal da Espanha), o Capitão Antonio Felipe Camarão e o Sargento-Mor Diogo Pinheiro Camarão. No outro flanco, o Regedor e Comandante do Regimento de Índios na Paraíba, Pedro Poty e o Regedor de Índios do Rio Grande do Norte, Antonio Paraupaba, aliados da Companhia das Índias Ocidentais.
As mensagens, escritas em tupi, tentavam convencer os oponentes a mudarem de lado e se entregar.
A primeira carta, destinada a Pedro Poty, foi enviada em 22 de outubro, por seu primo, Diogo Pinheiro Camarão:
“Sois um bom parente. Sai desse lugar, que é como o fogo do inferno. Não sabeis que sois cristão? Por que vos quereis perverter? Por que vos quereis perverter? Se os Portugueses têm êxito na guerra é porque, sendo cristãos, o Senhor Deus não permite que fujam ou se percam, por isso desejamos muito que vos passeis para nós, e isso garantido pela palavra do grande capitão Antônio Philippe Camarão e de todos os capitães dos Portugueses”
Em 31 de outubro, dia da Reforma Protestante, o articulado Pedro Poty, cheio de convicção, responde:
“Não acrediteis que sejamos cegos e que não possamos reconhecer as vantagens que gozamos com os holandeses entre os quais fui educado. Jamais se ouviu dizer que tenham escravizado algum índio ou que tenham assassinado ou maltratado algum dos nossos. Eles nos chamam e vivem conosco, como irmãos. Em todo o país encontram-se os nossos, escravizados pelos perversos portugueses, e muitos ainda o estariam, se eu não os tivesse libertado. Os ultrajes que nos têm feito, mais do que aos negros, e a carnificina dos da nossa raça, executada por eles, na Baía da Traição, ainda estão bem frescos em nossa memória. Abandonai, portanto, primo Camarão, esses perversos ”
Ambos os primos morreram antes do final da chamada Guerra da Luz Divina, conhecida também por Insurreição Pernambucana. Camarão faleceu em 1648, depois da primeira batalha de Guararapes, e Poti, no ano seguinte, foi preso no Cabo de Santo Agostinho, na segunda batalha dos Guararapes, quando foi aprisionado.
Em 1652, o herói potiguara morreu em um navio português que o levava para ser julgado pelo Tribunal da Santa Inquisição, em Lisboa.


BAÍA DA TRAIÇÃO



Quando estamos relaxados em alguma das 
belas praias do município 
de Baía da Traição, a 92 quilômetros de João Pessoa, é intrigante pensar 
na origem 
do nome dessa região histórica do litoral norte da Paraíba.
Há diferentes versões para sua terrível designação, mas, em todas elas, o fato inquestionável é que houve uma grande emboscada por aqui, no prelúdio da ocupação portuguesa.


Festa na Baía da Traição por ocasião da demarcação da TI Potyguara. Foto: Tiuré, 1981

A explicação mais aceita remete à 1ª expedição exploratória de 1501, comandada por Gonçalo Coelho e acompanhada pelo navegador florentino Américo Vespúcio que depois descreveu o sangrento episódio ao rei de Portugal, D. Manoel.
Na ocasião, alguns marinheiros da frota de corsários foram enviados para fazer contato, após acenos amigáveis dos índios potiguaras. Em terra sucumbiram, surpreendidos e devorados pelos antropófagos nativos.
Ciladas à parte, a extensão da Baía da Traição chegava, naquela época, até à barra do rio Guaju, na atual divisa com o Rio Grande do Norte, e tornou-se o epicentro comercial de pau-brasil, traficado pelos franceses que, ao contrário dos lusitanos, não despertaram antipatia local, em virtude da relação respeitosa e estritamente mercantil com os nativos.
A extração da cobiçada madeira, valiosa na Europa por conta da cor avermelhada de sua casca, usada em tecidos, durou quase cem anos, até os invasores serem expulsos do Brasil.

INVASÃO HOLANDESA

Em 1625, após um breve período de relativa paz, a Baía da Traição voltaria a fazer jus ao seu nome, pelo menos do ponto de vista lusitano.



Saíam de cena os franceses e o pau-brasil. No século XVII, o enredo de improváveis parcerias entre índios e conquistadores europeus foi protagonizado pelos holandeses, pelo comércio de açúcar e, mais uma vez, pelos índios potiguaras.
Naquele ano, depois de ocupar, por apenas 365 dias, a cidade de Salvador, capital da Capitania Hereditária da Bahia, os holandeses foram repelidos pelos portugueses e refugiaram-se, com sua esquadra de 26 navios, na Baía da Traição. Assim como os franceses, os holandeses foram recebidos como parceiros de guerra pelos notórios potiguaras que viam neles os libertadores da opressão imposta pelas forças ibéricas.
Pouco tempo depois, ainda em fuga, a frota partiu para Amsterdã com a promessa de voltar e levando alguns nativos, a bordo, entre eles, o lendário Pedro Poty.
O plano era alfabetizá-los e educá-los na doutrina cristã reformada e retornar, cinco anos depois, com toda a força bélica da Companhia das Índias Ocidentais, usando os potiguaras como líderes, aliciadores e tradutores da reforma protestante.
Importante destacar que antes dos confrontos iniciados em 1625, a Holanda tinha uma parceria com os lusos no Nordeste brasileiro, onde haviam investido no maquinário de processamento da cana-de-açúcar e cuidavam de parte do refino. A sociedade durou até 1580, quando a Espanha aproveitou um vácuo de poder, em Lisboa, e incorporou o reino português (e suas colônias).
Os espanhóis romperam o acordo sobre a produção de açúcar, ruindo uma relação que já não era boa, uma vez que a Holanda, ex-colônia da Espanha, conseguira sua independência em 1581.

INVASORES DO SÉCULO XX




O pequeno município de Rio Tinto em nada se parece 
com uma cidade nordestina da Paraíba. A arquitetura europeia 
de grande parte de suas casas e estabelecimentos, a igreja central, 
uma grande fábrica desativada e um misterioso palacete, que fica 
mais afastado, segue o estilo inglês dos edifícios de Manchester, na 
Inglaterra, com seus típicos tijolos aparentes.
A intrigante peculiaridade das construções de Rio Tinto remete a um passado próspero e, ao mesmo tempo, obscuro.
Em pleno século XX, a história de usurpação estrangeira do território potiguara no litoral Norte paraibano se repetiu.
A invasão, daquela vez, foi encabeçada pelos irmãos Frederico e Arthur, da família de imigrantes suecos Lundgren. Em 1907, com a morte do pai Theodor, a dupla herdou a Fábrica Paulista, em Recife, considerada como uma das mais importantes manufaturas de tecidos do país.


Vista área da fábrica de Rio Tinto

Com o objetivo de expandir os negócios, a segunda geração dos Lundgren comprou, em 1917, uma isolada área de 601 quilômetros quadrados, próxima ao rio Mamanguape.
Parte da região pertencia à aldeia potiguara Jaraguá que teve moradores desalojados e grandes porções de sua Mata Atlântica desmatada para a construção de uma fábrica, assim como para alimentar, de lenha, suas respectivas caldeiras.
Em 1924, com toda a pompa e isenção de impostos estaduais, foi inaugurada a Companhia de Tecidos Rio Tinto que viria a se tornar uma das maiores da América do Sul.
O distrito homônimo transformou-se em uma remota vila operária, com ruas divididas de acordo com a hierarquia dos cargos ocupados na indústria. As casas seguiam a mesma organização. Iam das mais simples, sem luz elétrica e água encanada, ocupadas por operários, muitos deles indígenas que foram expulsos de suas terras, até as residências mais luxuosas, equipadas com toda a infraestrutura, que eram habitadas por técnicos e diretores europeus, em sua maioria, formada por alemães.
Afastada da vila, a mansão fortaleza dos Lundgren, que hoje faz parte das terras potiguaras, cercada por altos muros e portões de ferro, servia como morada ocasional da família. Dentro do palacete, uma sala/tribunal com um grande púlpito corrobora até hoje a terrível fama dos irmãos Frederico e Arthur, de coronéis implacáveis da indústria.


Palacete dos Lundgren

O controle dos operários, pagos por peça produzida e desencorajados a qualquer manifestação, era rígido.
O policiamento particular vigiava o acesso à vila e apenas pessoas autorizadas pela Empresa podiam permanecer em Rio Tinto.
Na década de quarenta, greves e um violento levante dos operários, no fim da Segunda Guerra Mundial, que exigiam a expulsão dos funcionários germânicos, revelavam a insatisfação, não só em relação à ausência dos direitos trabalhistas, mas, também, com a presença de supostos membros e simpatizantes nazistas. Reza a lenda que a fábrica serviria de fachada para a enigmática Operação Odessa, montada com o objetivo de receber e acobertar criminosos de guerra. Para quem quiser saber mais sobre a tese do esquema de proteção e fuga nazista, ocorrido na Argentina, e tentar encontrar semelhanças com a história em Rio Tinto, a dica é o livro A verdadeira Odessa, do escritor Uri Goñi.
Teorias tupiniquins à parte, os alemães ficaram e a Companhia de Tecidos Rio Tinto continuou funcionando bem até 1960, quando exportava para Europa e para os Estados Unidos e tinha 15 mil funcionários.
No final da década de sessenta, com a perda de mercado e crises econômicas da indústria têxtil, os Lundgren começaram a vender, gradativamente, suas terras para produtores da cana-de-açúcar. No começo dos anos noventa, a fábrica estava totalmente desativada. Atualmente, a família recebe o aluguel de 80% das casas de Rio Tinto.
Os potiguaras, por sua vez, conseguiram recuperar e demarcar 7.487 hectares das terras indígenas de Monte-Mor que aguardam sua homologação. Assim que a ratificação sair, a ideia é transformar a mansão, apelidada pelos moradores locais de castelo de Hitler, em um grande memorial indígena.




HERÓIS E VILÕES


Imagem de André Vidal de Negreiros

ANDRÉ VIDAL DE NEGREIROS

Filho de portugueses, André Vidal de Negreiros nasceu no ano de 1606, em um engenho na várzea do rio Paraíba, atual Município de Santa Rita.
Foi um dos líderes e heróis da Insurreição Pernambucana que culminou com a expulsão dos holandeses. Pelos êxitos militares e pela reconhecida capacidade estrategista, foi nomeado, sucessivamente, governador das capitanias do Maranhão e do Grão-Pará, em 1655, de Pernambuco, em 1657, e de Angola, no ano de 1661. Morreu de causas naturais, em 1680.
Em 2012, por Decreto-Lei, seu nome foi inscrito no seleto Livro de Heróis da Pátria, disposto no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Imagem de António Filipe Camarão

ANTÓNIO FILIPE CAMARÃO

Comandante dos índios potiguaras, aliados dos portugueses, foi, junto com André Vidal de Negreiros, um dos líderes e heróis da Insurreição Pernambucana.
Não se sabe, ao certo, em que ano e local nasceu. Foi educado pelos padres jesuítas e batizado em 13 de junho de 1612, quando teve o nome mudado para Antonio (santo do dia) Filipe (em homenagem ao Rei da Espanha, Filipe III) Camarão (tradução para o português de Poti).
Em 1930, ano da invasão neerlandesa na costa de Pernambuco, começou a participar, à frente de sua tribo e ao lado de sua mulher, Clara Camarão, em ações de emboscadas na defesa das capitanias de Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Bahia.
Como recompensa, além de muitos soldos, recebeu, da Coroa Espanhola, a patente de Capitão-Mor dos índios, e a Comenda de Cavaleiro da Ordem de Cristo, tornando-se fidalgo.
Na Insurreição Pernambucana, Filipe Camarão participou de decisivos combates, entre eles, a primeira batalha dos Guararapes, em que comandou a ala direita do exército pernambucano. Morreu em 1648, um mês após a icônica luta, em razão de ferimentos. Assim como André Vidal de Negreiros, teve seu nome inscrito no Livro de Heróis da Pátria.
O Exército Brasileiro, por sua vez, denomina a Sétima Brigada de Infantaria Motorizada como Brigada Filipe Camarão.

ZOROBABÉ

Espécie de anti-herói, esse temido líder potiguara lutava sempre com a perspectiva de obter alguma vantagem diante da guerra.
Zorobabé combatia os portugueses, mas trocou de lado em 1599, após perder, junto com os aliados franceses, uma importante batalha na Serra da Copaoba, no agreste da Paraíba. Desde então, passou a prestar serviços às forças lusitanas e tornou-se um dos maiores caçadores de escravos quilombolas da história do Brasil.
No episódio mais conhecido, atacou sem autorização o Quilombo do rio Itapucuru, em Sergipe, onde matou a maior parte dos negros. Os sobreviventes foram vendidos para comprar roupas e armas.
Em 1608, temendo-se que ele voltasse a se rebelar contra a Coroa, foAi preso e enviado à Évora, Portugal, tornando-se o primeiro exilado brasileiro da história. Depois de sofrer várias tentativas de assassinato, morreu na prisão.


PEDRO POTY

O grande líder Potiguara Pedro Poty pôs fim à crença da submissão passiva dos índios aos interesses das nações colonizadoras.



A ATALAIA DO FORTE VELHO



Um mirante erguido pelas monarquias de Portugal 
e Espanha (União Ibérica) por volta de 1585 é muito mais do que uma 
construção histórica de arquitetura militar.
Ali, nasceu a Paraíba, com a construção do Forte de São Felipe e São Tiago, em meados do séc. XVI, 1584. Forte Velho, primeiro local onde aportaram os portugueses, no período colonial; a segunda construção foi o Mirante do Atalaia, localizado no alto de uma colina que servia como oratório e observatório na defesa das terras  no entorno do estuário, entre os rios e o mar. Esses foram os marcos iniciais da colonização e da implantação da Capitania da Paraíba.


Forte Velho foi a primeira sede da Capitania da Paraíba. Teve como administrador Dom Francesco de Castejon, nomeado pelo General Diego Flores Valdez, o Colonizador, em nome do Rei Felipe II da Espanha e I de Portugal.
Forte Velho está localizado ao Norte do Município (Distrito de Livramento), à margem esquerda do Rio Paraíba, fazendo parte de um complexo paisagístico, onde se destacam o estuário, a Ilha da Restinga, Praia de Costinha, Ilha do Stuart, Ilha dos Porcos, Ilha Tiriri, Ilha da Santinha, Ilha Felix de Belli e as praias fluviais de Forte Velho, da Ribeira, Tambaúzinho e do Jacaré. Os rios Paraíba e seu afluente Sanhauá serviram como rota de navegação das quatro expedições marítimas que objetivaram fundar a Capitania da Paraíba e a sede definitiva, Nossa Senhora das Neves, em 1585, hoje, João Pessoa.


Acesso: BR 101(Norte) – PB 011 (Via do Turismo) - ( Entrada de Bebelândia).
Distância: Santa Rita - 31 Km (Centro) - João Pessoa 43 Km.
Clima: Quente e seco, tornando-se úmido no inverno.
População: Aproximadamente, 2.500 Habitantes.
Vegetação: Manguezais, Mata Atlântica, coqueirais, mangueiras, cajueiros.
Atividades Econômicas
Pesca: Caranguejos, mariscos, crustáceos , peixes e sururu.
Agricultura: Cana-de-açúcar e culturas de subsistência.
Turismo: Excelente potencial a ser explorado como atividade econômica.
Cultura: Coco de roda  e outros folguedos, além do artesanato e a culinária.





www.trilhasdospotiguaras.com.br

Sua surpreendente história começou em 1625 quando, ainda jovem, foi levado da Baía da Traição, junto com outros seis índios, para a Amsterdã, na Holanda, onde estudou, por cinco anos, a língua estrangeira, assim como a doutrina da re


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