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terça-feira, 26 de junho de 2018

Vilarinho das Furnas


A insólita aldeia de Vilarinho das Furnas, no Minho, esconde-se por baixo de águas, e não há aqui nenhuma metáfora a querer dar segundos sentidos às palavras. Literalmente, Vilarinho das Furnas é uma aldeia-submarino, escondida por baixo do Homem, entre o vale da Serra Amarela e da Serra do Gerês, nas que são conhecidas como Terras de Bouro. E, tal como um submarino, de vez em quando vem à superfície, quando o nível das águas desce, fenómeno raro e sazonal, aproveitando a pouca secura que o Minho tem nos meses de Verão. A sua história poderia ser um clássico da Disney, não fosse ela acabar tão mal.
Olhar para Vilarinho das Furnas é como apontar olhos a ruínas romanas perdidas e escavadas debaixo dos actuais solos portugueses. Aqui a diferença é que o amargor é maior, por se tratar de um passado mais recente, de pessoas que ainda hoje estão vivas e deixaram de ter uma realidade tão sua por interesses maiores que não eram os seus. É mais isso que custa, saber que uma aldeia granítica terminou a sua história por vontades alheias e não por saída dos seus filhos. Restam-nos os meses quentes para lembrarmos este pedaço de cultura comunitária agro-pastoril minhota, uma espécie de parente falecido do que ainda é hoje a povoação de Rio de Onor, em Trás-os-Montes. Uma antiga povoação que poderá ser romana ou até celta, que lembra a que Uderzo e Goscinny criaram quando inventaram Astérix: aqui também havia um Zelador, o líder da aldeia, e os Seis, meia dúzia de representantes das famílias que lá moravam – todos eles, Zelador e os Seis, tinham o seu cargo a prazo, tratando-se em todos os casos de posições rotativas entre os habitantes de Vilarinho das Furnas.
Esta ideia de comunitarismo foi-se dissipando a partir de 1970, quando o anúncio de uma barragem ali mesmo em cima saiu para a imprensa. Pouco a pouco, os aldeões levaram o que conseguiram dali para fora. Em 1972, aquando da inauguração da desta imponente parede fluvial, já Vilarinho das Furnas era uma aldeia fantasma, pronta a ser engolida. E foi mesmo engolida pelo Homem, nome do rio mas também da espécie animal que montou tal ideia, numa coincidência de termos que dificilmente se encontrava mesmo que se tentasse. A barragem ficou-lhe com o nome, para a lembrar. É o mínimo.
Antigos moradores que foram indemnizados com amendoins e bananas para de lá saírem, ainda hoje se reúnem para a invocação de memórias. Muitos dispersaram-se por outros casarios nortenhos, uns mais perto, outros mais longe, alguns recorreram à emigração. Fundaram “A Furna”, uma associação que protege o que resta da cultura da aldeia, já que em matéria pouco sobra, e o que sobra está quase sempre oculto. A ela junta-se o Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas. Muito pouco para substituir o que antes havia, mas melhor que nada.
Coordenadas de GPS: lat=41.765813 ; lon=-8.207066

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