Quando todos se alinharam no cultivo da batata dita normal, uma terra que marca o início do Algarve resistiu, mantendo-se firme na plantação de um tubérculo estranho, comprido, por vezes pontiagudo. Agradecemos a teimosia porque é por ela que temos a Batata Doce de Aljezur.
Produto de Aljezur mas não só
Primeiro que tudo, façamos justiça a um outro concelho, o de Odemira, que em parte é responsável pela produção deste produto – o que faz dele filho do Algarve mas também do Baixo Alentejo.
No entanto, a grande cobertura do seu cultivo acontece em Aljezur, o que lhe valeu o epíteto terra da batata doce e que bem pode ser confirmado olhando para o brasão de uma das freguesias do concelho, Rogil, que conta com a planta de batata doce na parte de baixo do escudo.
Juntas, as freguesias destes dois concelhos formam a IGP (Indicação Geográfica Protegida) da Batata Doce de Aljezur.
Esta região portuguesa que se aporta no extremo sudoeste europeu dispõe de condições particulares para a sua produção, sobretudo nas planícies de pouca arborização e nas charnecas secas típicas da Costa Vicentina. Condições essas que confluem com aquelas encontradas do outro lado do Atlântico, de onde a batata foi trazida.
A razão principal é a qualidade dos solos que escondem as batatas – tendo chãos arenosos, pouco sólidos, e um subsolo comprimido, o que acontece é que estas raízes não têm muito espaço para crescer em comprimento, atrofiando-se ao invés, ficando carnudas. Mas, além do solo, não podemos descartar o tempo que lá faz, de um sol quente, por vezes muito quente nos meses de geração (que vão de Março a Novembro, sensivelmente), o que terá o impacto pretendido no açúcar, fundamental para que a Batata Doce de Aljezur dê primazia à parte do doce.
A colheita e a cura têm igualmente um papel central. É importantíssimo que se retirem os tubérculos antes das primeiras chuvas aparecerem e que a cura seja feita, numa primeira semana, ao relento, mas antes que o ar fique frio – razão pela qual o mês limite para o processo seja o de Novembro.
A lenda da Batata Doce de Aljezur
Conta-se entre os aljezurenses que a conquista definitiva de Aljezur aos mouros foi feita com a ajuda de uma poção mágica, a lembrar aquela que Astérix tomava para limpar romanos.
Segundo a lenda, a poção não era mais do que uma espécie de feijoada de batata doce, que fortaleceu os exércitos de Paio Peres, Mestre da Ordem de Santiago, e levou os Cristãos a arrasarem as forças contrárias de tal forma que os próprios sarracenos ficaram estarrecidos.
É desta crença que surgiu o dito popular em Aljezur: no passado ajudou um nobre, mesmo sendo comida de pobre.
A lenda, obviamente, não pode ser levada à letra, até porque sabemos que a batata (doce ou normal) só chegou à Europa bem depois disso, enquanto descoberta do Novo Mundo, quando o Velho Continente decidiu ser hora de se virar para fora. Ainda assim, é reveladora de como o povo de Aljezur e arredores vê a sua batata: um produto com um passado longínquo, enraizado na mais irreversível identidade do seu território.
Utilizações gastronómicas
A Batata Doce de Aljezur (que é sempre tida na variedade Lira) é matéria prima para variadíssimos pratos ou produtos: pudim, pastéis, tortas, feijoada, sopa de feijão ou pão são alguns deles. Até filhoses e compotas e aguardentes.
A ela estará sempre associada a classe mais pobre, como de resto se verificou com a batata normal para os transmontanos. E é nessa faceta de prato do povo que ainda é preferível ser comida, assada ou cozida, dando primazia à polpa.
Recentemente, vários restaurantes e até chefs domésticos resolveram adoptar a batata doce em detrimento da convencional – pelo valor nutritivo e pelo palato -, como acompanhamento de refeições ou como simples petisco (neste último caso, a preferência vai para a sua fritura).
Festival da Batata Doce
É tal a estima que Aljezur tem por ela que já lhe dedicou um evento. Acontece no fim do mês de Novembro, quando a colheita já foi feita, e dura um fim de semana inteiro.
Além de envolver um punhado de restaurantes e tascas na preparação de pratos onde a batata doce é interveniente, promove a sua utilização na doçaria regional.
Anualmente, por ocasião do festival, é também costume ser comunicado um novo desígnio para a batata vicentina: aconteceu recentemente quando dois cervejeiros (curiosamente, um alentejano e outro algarvio, precisamente a origem geográfica da Batata Doce de Aljezur) criaram uma cerveja composta por ela, de nome Tuber Bock.
A feira é complementada com a exposição e venda de outros produtos, salientando-se o artesanato aljezurense.
Onde ficar em Aljezur
Há várias dormidas possíveis em Aljezur, sendo que se destacam as diversas casas tradicionais (e deixe-se lá os hotéis de luxo para as cidades).
Mencionamos, entre outras, a Carpe Vita no morro junto ao castelo, a simples mas confortável Casa Azul que conta com dois quartos, e a também típica Casa da Amoreira que se faz acompanhar de uma pequena horta e goza de vista para Aljezur.
www.portugalnummapa.com
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