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O mundo constantemente passa por transformações. No começo do século passado, historiadores, filósofos, líderes políticos, ditadores e trabalhadores fizeram história. Os direitos garantidos por lei hoje nem sequer existiam naquela época. Muitos, por conta disso, sofreram as consequências e acabaram perdendo a vida em prol do progresso no cenário econômico, político e cultural. O estilo de vida mudou, a perspectiva dos acontecimentos, o jeito de pensar e agir. O homem buscava incessantemente se reinventar.
Tive contato com um documentário que considero um das grandes obras-primas do cenário cinematográfico. Baseado no livro “A Era dos Extremos” de Eric Hobsbawm, “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, produzido por Marcelo Masagão e lançado em 1999, resgata parte da história do século XX, dando destaque à acontecimentos e figuras emblemáticas . O título do filme é bastante sugestivo mas difícil de ser compreendido logo de primeira. Eu mesmo, demorei um bom tempo para relacionar uma coisa a outra. Mas quando você pega o fio da meada, tudo se encaixa e começar a fazer sentido. Me encantei assim que assisti, pois é uma bela reflexão sobre quem somos e qual é a nossa verdadeira missão aqui na terra. Foi uma ótima sacada do diretor e teve o merecido reconhecimento no famoso Festival de Gramado, faturando o prêmio de Melhor Montagem e no Festival de Recife, ganhou nas categorias Melhor Filme, Melhor Roteiro e Melhor Montagem.
Apesar de não ter sido veiculado em todas as salas de cinema do país, o longa foi criado com o intuito de ser um material didático, apresentando uma soma de imagens impactantes e reais. É utilizado de forma ilustrativa no estudo da Sociologia em muitos colégios, como forma de elucidar questões específicas de cada época e fazer o aluno pensar, se emocionar, questionar-se.
O conteúdo apresentado não têm ordem cronológica. Foi organizado conforme a importância. Durante todo o documentário, o autor faz clara referência à morte, principal temática abordada. A partir daí, as histórias vão se entrelaçando e os personagens passam a ser conhecidos. Masagão também utiliza de sutilezas para deixar implícito algumas coisas. E em outros momentos, choca pelos detalhes. Para mim, uma das cenas mais marcantes do filme é a do alfaiate francês M. Reisfeldt, que queria provar para si mesmo que era possível voar. Para isso, ele criou uma roupa especial que “garantia” a realização do feito. Contudo, já imaginam o que aconteceu. Diante de nossos olhos, vemos Reisfeldt mergulhando em direção ao destino inevitável. Chega a ser assustador. Nos sentimos impotentes e insignificantes.
Outro exemplo que posso citar são os Kamikazes, nome dado aos pilotos de aviões japoneses carregados de explosivos cuja missão era realizar ataques suicidas contra os navios dos Aliados nos momentos finais da campanha do Pacífico na Segunda Guerra Mundial. No filme, a figura de Kato Matsuda ganha destaque como um dos muitos exemplos de jovens que destinavam-se a ter esse triste fim para poupar o sofrimento vivido na época. Antes de partir, ele deixou uma carta a família onde dizia: “conforta-me aquele velho ditado japonês; a morte é mais leve que uma pluma. A responsabilidade de viver é tão pesada quanto uma montanha”. Difícil julgar os outros numa situação como essa. Isso mostra que a vida é passageira. Mas algum decidem ir antes. Enquanto estamos vivos e saudáveis temos que aproveitar. Essa é uma das muitas lições que aprendi.
A trilha sonora é um show a parte. Win Mertens é um mestre na arte de compor músicas que mexem conosco e nos levam direto ao ponto. Impossível não se emocionar ao ouvir a melodia que conduz a trama enquanto vemos imagens da guerra, destruição, opressão. Mas nem só de tragédias vive o mundo. Talvez, uma das cenas mais lindas é quando Fred Astaire aparece dançando. A leveza e a graça dele são contagiantes. Logo depois, surge Garrincha, com toda a sua destreza e ousadia futebolística guiando a bola.
Além de cenas e recortes do cotidiano e de acontecimentos históricos, o documentário também faz referência à filmes do início do século, como “Um Cão Andaluz” de 1929, obra surrealista de Salvador Dalí. E assim, o longa percorre várias décadas e vai ganhando diferentes desdobramentos. E o final é surpreendente. Intenso, é assim como podemos descrevê-lo. Melhor do que dizer, é assistir. Pegue uma xícara de café e dê play!
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Postado ao som de Struggle for Pleasure – Win Menters (1983)
divinaloucura.wordpress.com
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