Bruxelas tem um processo de decisão demasiado lento, argumenta Macron. Na NATO há um conflito com Trump. Assim, nove países vão cooperar em operações internacionais.
As forças francesas assumiram a operação de 2013 no Mali

Descontente com os contornos de um plano de cooperação permanente para a Defesa, constituído no final do ano passado por 25 Estados-membros (PESCO, na sigla inglesa), a França decidiu aliar-se a outros oitos países para criar uma força comum de intervenção militar.
No projecto, à margem da União Europeia, estão Portugal, Espanha, Alemanha, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estónia e o Reino Unido – que Paris consegue assim manter como aliado chave nesta área, independentemente do “Brexit”.
A ideia desta força, cujo compromisso foi formalizado segunda-feira com a assinatura de uma carta de intenções, é agilizar os procedimentos para actuar conjuntamente em missões militares de interesse europeu.
Por exemplo: “Se tivéssemos que voltar a fazer uma operação como a Serval, iniciada em 2013 no Mali, desejaríamos fazê-la entre vários países. Mas os atrasos e as decisões na UE ainda são demasiado demoradas face à urgência que uma situação crítica pode requer”, explicou Florence Parly, ministra da Defesa de Emmanuel Macron, numa entrevista publicada no domingo pelo jornal Le Figaro. África será o destino mais provável destas operações, tratando-se de uma área de grande interesse para a segurança europeia.
“Assinámos este compromisso com Macron, é um fórum para abordar a cultura de compromisso em termos de defesa e de serviços secretos. E Espanha tem protagonismo neste campo”, disse ao El País a nova ministra da Defesa do Governo liderado pelo socialista Pedro Sánchez, Margarita Robles. A ministra falava a partir do Luxemburgo, onde os responsáveis pela Defesa estão reunidos.
Esta iniciativa foi esboçada inicialmente num discurso que Macron proferiu na Universidade Sorbonne em Setembro de 2017, quando defendeu a necessidade de “se ir mais longe” do que vai a cooperação estrutura no âmbito da UE. “A nossa incapacidade para actuarmos juntos de forma convincente questiona a nossa credibilidade como europeus”, disse então.
No núcleo de países que começou por defender uma maior integração na defesa europeia estava Itália, que agora fica de fora desta iniciativa. É o resultado dos embates que o novo Governo italiano (uma coligação entre um partido de extrema-direita, a Liga, e o anti-sistema Movimento 5 Estrelas, ambos muito eurocépticos) já teve com Paris, nomeadamente a propósito da recusa de Roma em deixar desembarcar navios de ONG com centenas de pessoas resgatadas do Mediterrâneo a bordo.
Esta iniciativa quer-se lançada à margem da União, por causa das limitações que esta acarreta, e também da NATO, isto por causa das posições do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que exige aos parceiros europeus da Aliança Atlântica um aumento dos seus gastos em defesa. O plano de Macron é conseguir a reafirmação da autonomia europeia, pelo menos de um grupo de países.


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