Na sequência da crise imposta por quatro demissões forçadas, o executivo foi remodelado. Entretanto consuma-se a ruptura política da direita, confirmando a mudança drástica do mapa partidário francês.
O Presidente Emmanuel Macron nomeou na quarta-feira o segundo Governo de Edouard Philippe, que apresentara protocolarmente a demissão após as legislativas. Não se trata no entanto de um mero formalismo pois implica uma remodelação ministerial, imposta pela renúncia de quatro membros do Governo, por “razões éticas”, na sua primeira crise desde as eleições. Facto relevante é a ruptura na bancada parlamentar de Os Republicanos (direita). A cena política continua a deslocar-se aceleradamente.
Outra novidade é a nomeação de Stéphane Travert, socialista histórico e um dos fundadores do movimento presidencial A República em Marcha (LRM), para o Ministério da Agricultura e Alimentação. O MoDem (centro, de François Bayrou) passa a estar representado apenas por duas figuras: Jacqueline Gourault, nova ministra adjunta do Interior, e Geneviève Darrieussecq como secretária de Estado das Forças Armadas.Ao fim do dia, o porta-voz do Eliseu anunciou o novo gabinete “Philippe 2”. Os principais ministros mantêm os seus postos. Seguem-se as novidades. A empresária e alta funcionária Françoise Parly, antiga colaboradora de governos socialistas, substitui Sylvie Goulard como ministra das Forças Armadas; a jurista Nicole Belloubet, do Conselho Constitucional, sucede a François Bayrou na Justiça; o senador Jacques Mézard, do Partido Radical de Esquerda (próximo do PS), substitui Richard Ferrand na Coesão Territorial; Nathalie Loiseau, directora da Escola Nacional de Administração e alta funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros, sucede a Marielle de Sarnez, como ministra encarregada dos Assuntos Europeus.
Os dois ministros do MoDem, François Bayrou e Sylvie Goulard, tal como Marielle de Sarnez, pediram a demissão na sequência das suspeitas de implicação em casos de empregos fictícios, em que funcionários do partido teriam sido pagos com fundos do Parlamento Europeu. Antes deles demitira-se Richard Ferrand, ministro da Coesão Territorial e “braço direito” do Presidente, alvo de um inquérito judicial preliminar sobre uma operação imobiliária.
De Bayrou à direita
François Bayrou, responsável pela apresentação da lei sobre a moralização da política, ficou numa posição insustentável perante as suspeições que afectam o MoDem. Numa conferência de imprensa, ao fim da tarde, disse ter resignado para evitar o desgate do Presidente da República. Negou qualquer prática ilegal do seu partido: “Nunca tivemos empregos fictícios.” Condenou a cultura da “carta anónima” e das denúncias anónimas nas redes sociais e na imprensa. “Quando a Justiça descobre esses elementos é obrigada investigá-los e a abertura de um inquérito é apresentada como uma pré-condenação e a máquina louca põe-se em marcha.”
O MoDem permanecerá na maioria governamental. Vários analistas consideram que Bayrou será uma figura incómoda para Macron. Houve já públicas divergências entre ele e o primeiro-ministro. Reafirmou que uma razão suplementar para a resignação é a vontade de ter “liberdade de palavra”.
A notícia mais relevante do dia será outra: o irreversível divórcio na direita. Duas dezenas de deputados de Os Republicanos (LR) decidiram formar um grupo parlamentar à parte e associaram-se aos centristas de direita da União dos Democratas e Independentes (UDI). Esperam mais adesões. “Passaram o Rubicão”, diz um jornalista. Vão votar a confiança no Governo de Edouard Philippe — um dos seus — e fazer uma “oposição construtiva”.
Representam a antiga corrente liberal que se fundiu com os gaullistas em 2002. Um dos grandes impulsionadores é o senador Jean-Pierre Raffarin, antigo primeiro-ministro de Jacques Chirac
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