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quinta-feira, 29 de junho de 2017

Cidade de Deus: A saúde mental sob fogo cruzado



Cidade de Deus, um projeto de habitação dos anos 60 concebido para alojar pessoas das favelas ​cariocas*​, tornou-se, ao longo dos anos, numa das zonas mais *perigosas d​o Rio de Janeiro​, situada na zona oeste do município, longe das ​idílicas imagens conhecidas ​pelos turistas.
Em 2002, o filme, cujo título é exatamente o nome do bairro, deu a volta ao mundo. Se uns viram o sucesso da película de Fernando Meirelles com entusiasmo, outros, no entanto, temeram que o que foi chamado pelos críticos como a glorificação da violência mais não fizesse do que aumentar o preconceito contra os residentes.
Mas a verdade é que a Cidade de Deus passou posteriormente, como várias favelas brasileiras, por um processo de reabilitação e de pacificação. Em 2011, recebeu mesmo a visita do então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acompanhado pelo presidente do município (Prefeito) e pelo governador do estado fluminense.


Nos últimos anos, no entanto, as coisas têm sido bem diferentes.

Tal como em várias favelas o Rio de Janeiro, a crise económica e financeira que afeta o Brasil tem contribuído para aumentar a tensão socia*l e da frustração da populações. E o *desemprego afeta com mais virulência as classes com menor poder de compra.
Em locais como a Cidade de Deus, a violência tem vindo a intensificar-se de tal forma que os tiroteios entre grupos de narcotraficantes e agentes da polícia recordam o clima de guerra que se vivia nos anos 90.



Muitos são os que começam a acusar os danos psicológicos de uma vida em permanente tensão. Especialistas no terreno falam num aumento dos casos de ansiedade e de depressão – em alguns casos, agravada – em todas as faixas etárias.

A convivência com episódios de extrema violência poderia explicar este fenómeno.
No entanto, ainda muitos residentes na Cidade de Deus precise​m​, com urgência, de assistência médica​ e psicológica, este tipo de serviços brilha pela sua ausência nesta zona pobre do Rio de Janeiro.
Tiroteios, o principal medo
Segundo a Associated Press, vários residentes contaram à agência que, quando deixam a favela para irem trabalhar, ficam em contacto permanente com amigos, vizinhos ou família e avisam se há um tiroteio.
O ruído das armas é cada vez mais habitual e tornou-se quase quotidiano, interrompendo o quotidiano de trabalhadores, crianças e famílias.
Se tal acontecer, terão de esperar que termine o chamado fogo cruzado. É que uma bala perdida pode matar.
Amnistia Internacional Brasil criou, neste sentido, uma aplicação gratuita chamada Fogo Cruzado, que ajuda os moradores da cidade a localizarem tiroteios em tempo real, com dados fornecidos por utilizadores e redes sociais.
Medo também da polícia
Se o medo dos grupos de criminosos é real, a verdade é que algumas das intervenções da polícia são também causa de sofrimento para quem vive em zonas como a Cidade de Deus, em particular para as crianças.
Muitos sofrem dos mesmos sintomas de meninos que cresceram em zonas de guerra, tal como os pais, segundo os especialistas em saúde mental do Instituto Fiocruz, entrevistados pela Associated Press.
Segundo o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes do Rio de Janeiro, 45% dos residentes das favelas teme que a polícia os confunda com criminosos e 75% acreditam que a polícia é mais violenta nas favelas do que noutras zonas da cidade.
Segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro do Governo do estado do Rio de Janeiro morreram, em 2016, mais de 900 pessoas durante intervenções policiais, o triplo de 2013. A mesma instituição espera que os números voltem a subir este ano.

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