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terça-feira, 27 de junho de 2017

Passos Coelho põe-se debaixo de fogo alegando falso suicídio


Passos Coelho visitou ontem concelhos atingidos pelo incêndio que matou 64 pessoas e feriu mais de 200
Líder do PSD socorreu-se de boato para dizer que está a falhar a ajuda do Estado. Depois pediu desculpas
O foco sobre as responsabilidades na tragédia de Pedrógão Grande deixou ontem de estar apontado ao governo e passou a estar apontado ao líder do maior partido da oposição, Pedro Passos Coelho. Responsável: Pedro Passos Coelho.
Numa visita aos bombeiros de Castanheira de Pera (distrito de Leiria), o líder do PSD, para chamar a atenção para uma suposta ausência de apoio psicológico às vítimas do incêndio, afirmou: "Tenho conhecimento de vítimas indiretas deste processo, pessoas que puseram termo à vida, que em desespero se suicidaram e que não receberam o apoio psicológico que deviam. Devia haver um mecanismo para isso. Tem havido dificuldades. Ninguém me convence de que não há responsabilidades. O Estado falhou e continua a falhar."
A declaração do líder do PSD desencadeou de imediato uma tempestade de críticas no espaço público. E nessa altura nem era claro se se confirmava mesmo - ou não - a existência de um (ou mais) suicídios na sequência do incêndio (que provocou 64 mortos e mais de duas centenas de feridos).
"Corram com os boateiros!"
A PJ não confirmava, a GNR de Leiria também não, o presidente da Administração Regional de Saúde do Centro, José Tereso, idem. Já o presidente da Câmara de Pedrógão, Valdemar Alves - eleito pelo PSD mas agora recandidato pelo PS - desmentia duramente, falando à RTP: "Há sim é boatos, os mais diversos boatos. Peço às pessoas que não aceitem, corram com os boateiros, porque graças a Deus não há nenhuma confirmação de suicídios." Antes dos desmentidos - ou não confirmações -, um deputado do PSD eleito por Santarém, Duarte Marques, insistia, numa conversa online: "É verdade." Ao mesmo tempo acrescentava um suave reparo: "Eu não o teria dito em público."
"Não pode valer tudo!"
O PS começou imediatamente a atacar o líder do PSD. António Costa procurou colocar-se acima da polémica ("não vou estar aqui a entrar em debate com o líder da oposição, nem creio que seja isso que os portugueses esperam do governo" e "neste momento não vou contribuir com polémicas, [porque] não tenho teses, não tenho pontos de vista") e centrar-se na necessidade de esclarecimento do que se passou ("isto é fundamental porque temos de apurar todas as questões relativas a este acidente, primeiro porque o devemos à memória daqueles que faleceram, ao respeito que temos de ter pelas famílias e amigos das vítimas, e também porque temos esse dever com as populações daquele território e para todo o país. É preciso saber o que se passou para que, de futuro, não volte a acontecer").
Contudo, outros socialistas fizeram por ele as despesas dos ataques a Passos. No Facebook, a secretária-geral adjunta do partido, Ana Catarina Mendes, considerava "inqualificável que um ex-primeiro-ministro difunda um boato com esta gravidade! Não pode valer tudo! Mais respeito pelas vitimas e pelas famílias!" Inúmeros outros comentários do género, vindos da esquerda, foram-se multiplicando pelas redes sociais ao longo do dia.
A profusão de desmentidos à informação do suicídio obrigou o PSD a esclarecer-se. Quem deu a informação falsa ao líder do partido teve de dar o passo em frente. Foi João Marques, provedor da Misericórdia de Pedrógão e, além disso, candidato do PSD à câmara (de que aliás foi presidente durante 16 anos, até 2013. "Fui eu que dei ao Dr. Passos Coelho uma informação errada. Julguei que a informação era fidedigna e afinal não era. Felizmente não se confirma nenhum suicídio, ao contrário do que eu disse ao Dr. Passos Coelho. Peço-lhe desculpas públicas por isso", disse, ao Expresso.
PSD questiona Saúde
E depois disto só restou a Passos Coelho fazer o mesmo, ao final da tarde, quando entrava para a cerimónia de apresentação do candidato do PSD a Odivelas (ver foto): "Peço desculpa por ter utilizado uma informação que não estava confirmada." Ao mesmo tempo, reafirmava, no entanto, o que considerava ser "o essencial": "Temos hoje a confirmação clara de que o Estado falhou quando tantas pessoas perderam a vida como perderam, era muito importante que houvesse um mecanismo rápido de reparação." Ou seja: "Independentemente da culpa ou da responsabilização política, há uma responsabilidade objetiva do Estado." Enquanto isto, no Parlamento, o PSD divulgava um requerimento de oito dos seus deputados questionando o Ministério da Saúde sobre o apoio psicológico às populações, dado que "tem sido manifesta a insuficiência de recursos humanos".
O ministro da Saúde, pelo seu lado, assegurava que vai ser prestado apoio psicológico às populações afetadas pelos incêndios na região centro, além dos 840 atendimentos já efetuados, bem como outros tipos de cuidados de saúde.
Falando à margem da apresentação do futuro Hospital de Proximidade de Sintra, Adalberto Campos Fernandes dizia que esteve em contacto no fim de semana com o presidente da ARS, que se encontra a trabalhar com os centros hospitalares Universitário de Coimbra e de Leiria para ajustar a resposta às necessidades das populações. "A ARS [Administração Regional de Saúde] está a rever o que foi feito, até aqui eu sei, tenho conhecimento de que foram já feitos neste processo mais de 840 atendimentos pelas diferentes equipas de psicologia", garantia.
Misericórdia de Lisboa ajuda
A este serviço junta-se ainda o auxílio de duas técnicas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), que vão estar na zona de Pedrógão durante todo o verão. "Até 31 de agosto, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vai continuar a providenciar apoio psicológico com duas técnicas, que estarão no terreno dois dias por semana, sempre em coordenação com os serviços da Câmara Municipal de Pedrógão Grande e da Proteção Civil", adiantou a SCML ao DN.


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