Creio bem que há uma imensa maioria dos portugueses que não respeita as televisões nacionais. Que vê nos canais à disposição autênticos esgotos a céu aberto, feita com péssimos empregados de microfone.
É claro que há excepções, também era melhor que assim não fosse. É de uma excepção que quero registar aqui. Na Sic, ontem pela hora do almoço, uma entrevista esplendorosa de dignidade humana de um homem que ficou na sua aldeia para combater o flagelo. Disse com a simplicidade dos Grandes: «Fugir? Eu fico aqui a defender o que é meu». Quatro filhos vieram ter com ele, três homens e uma mulher. Com eles vieram (de fora) alguns dos seus amigos também para ajudar. Calcula-se pelo seu depoimento esclarecedor, mas contido, que a luta desigual foi titânica.
A sua sobriedade claudicou brevemente quando narrou o que sentiu no momento dramático em que viu um dos filhos numa frente de fogo, em grande perigo, e… não pode continuar a falar pela comoção que dele se apoderou.
Recompôs-se e informou que enquanto os homens estavam na luta contra as labaredas, a sua filha recolhia os habitantes da aldeia através do seu carro e transportava-os para a sua casa, que dali distava alguns quilómetros, colocando a salvo a todos.
O “lélé” do micro perguntou-lhe, cretinamente, se ele não queria deixar algumas palavras de agradecimento aos amigos dos filhos e a estes, pela ajuda vital que lhe deram. Virou um pouco a cabeça, a ¾, voltou-se para o rapaz e abanando a cabeça balbuciou um «não é preciso». Com os olhos molhados, com a maior DIGNIDADE de que me lembro num ser humano, num rosto endurecido e bonito falou assim: «o que é eu lhes vou dizer?».
Jamais esquecerei aquele olhar de infinita gratidão e de uma doçura viril, de quem sabe exactamente a grandeza de um Homem.
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