“O Senhor nos proteja dos ímpetos ambientalistas de quem nunca roçou mato

Dizer Rústico

A desgraça que se abateu sobre as populações do Pinhal Interior de Leiria, muito particularmente no concelho de Pedrógão Grande, deve merecer da nossa parte algum comedimento na abordagem da temática dos Incêndios.
Não significa isto que não se devam apurar as responsabilidades, técnicas e políticas, da actuação dos serviços da protecção civil. Não significa, também, que não se deva debater e responsabilizar a incúria de sucessivos governos, deste também, na permissão e no estímulo das suas políticas ao abandono do campo, à desertificação do interior, à gestão florestal ao sabor dos interesses mercantis do monopólio da indústria da celulose, ao adiamento sistemático da implementação de um Plano Nacional de Ordenamento da Floresta (que exige políticas públicas independentes dos interesses mercantis, uma intervenção multifacetada, recursos consideráveis e tempo, muito tempo).

Porém, o odor dos mortos e a incompetência política de sucessivos governos não nos permitem, digo eu, enveredar pelo verbo fácil, menos ainda quando não se tem noção nenhuma da realidade concreta.
Vem isto a propósito do dedo acusador dirigido aos habitantes do interior, de muito escriba da praça, acerca da falta de limpeza das matas, as bouças, dos pequenos proprietários.
É particularmente curioso ver um qualquer copinho-de-leite, do alto da sua experiência em catar ervas daninhas nas floreiras e plantas aromáticas da varanda, clamar contra os velhos rústicos que, com o corpo carcomido pelos anos, já não limpam as matas em torno das suas aldeias.
Ai que bom que era criar umas brigadas ecológicas, de viçosos copinhos-de-leite, equipada com enxadas e machados, moto-roçadeiras e moto-serras, e enviá-las por esses montes fora a desbastar matagais, a abater sem contemplações mimosas e giestas.
Que belo exemplo dariam e quão mais felizes todos nós seríamos!
Tenência, meus senhores, tenência!
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Arouca, 23 de Junho de 2017

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