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quinta-feira, 22 de junho de 2017

A MORTE QUE ALIMENTA O RIO MARA NO SERENGETI

Uma equipe de cientistas quantificou pela primeira vez o impacto dos afogamentos em massa de gnus em sua migração anual através do rio Mara, que cruza os territórios do Quênia e da Tanzânia, atravessando as reservas de Serengeti e Masai Mara. Só para que se tenha uma ideia, a biomassa dos cadáveres dos animais seria o equivalente à de acrescentar os corpos de dez baleias azuis ao ecossistema a cada ano.


A morte que alimenta o rio Mara, no Serengeti
Gnus atravessando o rio Mara. Nesse momento muitos se afogam. Via: Chris Dutton
A cada ano, mais de um milhão destes animais cruzam o rio Mara em busca de pastos frescos protagonizando uma dos espetáculos mais surpreendentes da natureza, é a maior migração animal da terra. Para entender o que significa isso, dê uma olhada no vídeo "Migration",logo abaixo, feito pelos irmãos Will e Matt Burrard-Lucas.

Uma das cenas mais famosas é a que acontece com frequência quando os gnus se amontoam para chegar à outra margem e alguns morrem afogados ou devorados entre por crocodilos, mas quantos perdem a vida na tentativa e como isto impacta o ecossistema?
Pese ao que pareça, não são os crocodilos os que consomem a maior parte dos corpos

A equipe de Amanda Subalusky fez a conta e publicou os resultados nesta segunda-feira na revista PNAS. O trabalho, que necessitou de cinco anos de observações sobre o terreno e analisou uma década de registros históricos, oferece algumas surpresas. A primeira é que morrem ao redor de 6.200 gnus a cada ano no rio, isto é, umas 1.100 toneladas de biomassa equivalente à de dez enormes baleias azuis que alguém jogasse periodicamente em suas águas. A segunda é que os crocodilos mal consomem uma pequena parte de todo este alimento e são as demais criaturas do rio que fazem um autêntico banquete de carne durante meses.

- "O rio Mara está no caminho de uma das maiores migrações terrestres do planeta", diz Amanda. - "Durante o pico da migração, os gnus cruzam o rio em várias ocasiões, o que resulta às vezes no afogamento de centenas deles. Nosso estudo é o primeiro em quantificar estes afogamentos e como impactam a vida do rio."

Os dados indicam que entre 2001 e 2015 os afogamentos em massa aconteceram todos os anos menos dois e que a carne dos gnus compõe entre 35 e 50% da dieta de seus peixes mais comuns. Os carniceiros terrestres mais frequentes são o marabus e abutres, que consomem ao redor do 6 a 9% dos tecidos macios. Devido a sua baixa taxa metabólica, os crocodilos devoram 2% dos corpos que ficam no rio.
Durante anos, os ossos seguem proporcionando fósforo ao rio
A morte que alimenta o rio Mara, no Serengeti
Dezenas de cadáveres no rio Mara depois de um afogamento em massa. Via: Chris Dutton
- “Esta contribuição dramática distribui nitrogênio ao terreno, além de fósforo e carbono à rede alimentícia do rio", assegura Emma Rosi, co-autora do estudo. - "Primeiro os peixes e os carniceiros devoram os tecidos macios, depois os ossos dos gnus vão soltando lentamente seus nutrientes ao sistema, alimentando às algas e influindo na cadeia alimentar durante décadas."

Os autores analisaram os isótopos presentes na carne de gnu e analisaram sua presença nos diferentes animais da cadeia, além de monitorar com câmeras seus comportamentos.


Um aspecto interessante são os diferentes ritmos que se decompõem os corpos dos gnus e são devorados. As partes macias duram entre duas e dez semanas no ecossistemas, enquanto os ossos podem estar presentes até sete anos e convertem-se em fontes de fósforo em longo prazo.

- "Os afogamentos em massa apresentam uma estampa interessante", resume Emma. - "A presença da carne putrefata de animais dispara a presença de nutrientes no ecossistema, mas uma vez que o cadáver desaparece, os ossos -que constituem quase a metade da biomassa- seguem alimentando o rio."
O que estamos vendo é como uma janela para o passado
A morte que alimenta o rio Mara, no Serengeti
"Salto da Vida" - Foto vencedora do concurso de fotografias da Sony de 2014. Via: Cheung Lai-San
- "O rio Mara é um dos últimos lugares da Terra em que ainda podemos estudar como o afogamento de grandes animais migratórios influi nos ecossistemas aquáticos", acrescenta David Post, co-autor do estudo.

Isto se deve ao fato de que a maioria de manadas migratórias, como as de bisões, quagas e gazelas do Cabo foram extintas (junto com a espécie) ou reduzidas significativamente a pequenas populações.

- "O que acontece aqui é uma janela para o passado, quando os grandes rebanhos migratórios eram livres para perambular pela paisagem, e os afogamentos seguramente tiveram um papel importante nos rios de todo o mundo", conclui Amanda.


www.mdig.com.br
Fonte: Phys.

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