Ao contrário do que sugere um título do DN, aliás como se percebe sem dificuldade lendo o corpo do artigo, a esquerda não está dividida na reposição dos quatro feriados que o anterior Governo suprimiu alegadamente para mostrar que não somos preguiçosos a uma Europa do Norte que, regra geral, trabalha muito menos dias por ano e tem mais feriados e férias do que nós, porém, na prática para determinar a transferência de um somatório de cerca de 150 milhões de euros por feriado suprimido do bolso de todos os que passámos a ter que trabalhar gratuitamente mais quatro dias ao ano para o bolso de quem passou a somar à sua conta bancária a riqueza gerada por esse voluntariado à força. Ao que parece, agora até os partidos da direita concordam em discutir a reposição da borla por si decretada. Fez-lhes bem perderem a maioria que lhes possibilitou legalizarem unilateralmente e à margem de qualquer diálogo toda a espécie de roubos, este incluído.
Será, portanto, dando-lhe o tempo necessário para que se cumpra a lei e em clima de consenso, que vai da esquerda à direita mais direita, e não no clima de divisão sugerida pelo mau jornalismo que aproveita qualquer coisa para mostrar de que lado está, que decorrerá a discussão pública da reposição dos quatro feriados. Certos quadrantes da nossa sociedade têm insistido imenso na força da tradição: para lhes fazer a vontade, em cima da mesa há uma proposta de tornar feriado também o Carnaval. A Igreja Católica abriu mão de dois feriados religiosos, não há razão alguma para que o Estado laico que somos desperdice a oportunidade de devolvê-los juntamente com o 5 de Outubro e o 1 de Dezembro como recordação e homenagem, por exemplo, aos heróis da revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891, do 16 de Novembro de 1922 que trouxe ao mundo o gigante da nossa Cultura que foi José Saramago ou desse 12 de Abril de 1761, tão importante para a História da humanidade como esquecido no país que foi o primeiro no mundo a legislar a abolição da escravatura –sim, fomos nós, Portugal. E podíamos bem tornar-nos também os primeiros a usar o 29 de Fevereiro para fazer pedagogia: por que carga de água é que de quatro em quatro anos somos obrigados a celebrar o ano bissexto a trabalhar gratuitamente? Temos ouvido com toda a insistência que não há almoços grátis, o desse dia continua completamente grátis, só para alguns e como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não é. Nos países anglo-saxónicos, onde o salário é pago semanalmente e não mensalmente, quem trabalha nesse dia não o faz de graça.
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