O terror parece tornar-se numa banalidade e, no entanto, morre gente, aos milhares.
Que valem as palavras, num mundo que nelas tripudiou, que com elas mentiu e formou um vergonhoso muro de embustes?, que valem?
O terror parece tornar-se numa banalidade medíocre, e, no entanto, morre gente, muita gente, aos milhares, enquanto as palavras se atropelam no vazio das circunstâncias. "Uma vida nada vale, mas nada vale uma vida", disse-o, melhor do que ninguém, André Malraux. Foi daqueles, entre centenas deles, franceses, que me formaram. Devo à França, alfobre da liberdade, o homem que sou.
E o homem que sou não pode calar o fundo da questão: onde reside a causa deste mal que nos envolve a todos? Sem desejar ir mais longe, se nos lembrarmos da cimeira dos Açores, em que W. Bush, Aznar e Tony Blair, com Durão Barroso a servir de vassalo, programaram a invasão do Iraque, talvez descortinemos a raiz do horror.
Sem esquecer Donald Rumsfeld, o sinistro secretário de Estado norte-americano, que beneficiou com a "reconstrução" do país devastado. Nenhum deles foi punido, e qualquer deles merecia o escarmento universal, pelos crimes de guerra cometidos. E, acaso, pela humilhação inútil provocada a Saddam Hussein, e pela mentira hedionda do material de destruição maciça, logo denunciada e não ouvida por um dos investigadores, o sueco, imediatamente silenciado. Nada justifica a retaliação que, um pouco por todo o mundo, os que se consideram ofendidos e espezinhados têm praticado.
Mas quando o agravo e o crime passam impunes, e a justiça aplicada a uns é escondida a outros, os povos têm a represália como justificada. A chacina de Paris, dez meses depois do assassínio no Charlie Hebdo, não encontra fundamentação, a não ser no ódio e na perversidade, afinal provocados pela insânia de um presidente e pelo estupor dos seus cúmplices. Nós, portugueses, temos um conhecimento dramático dessa demência, em forma de "política".
Nos últimos quatro anos, a mentira mais despudorada obteve, em Portugal, carta-de-alforria, com as consequências que se conhecem. Um dos cavaleiros do Apocalipse pateou no nosso corpo colectivo; os outros três estão espalhados pelas sete partidas, e, agora como há dez meses, escoiceou em Paris. Há uma guerra brutal, e sob diversos disfarces políticos, que está a dizimar as nossas mais fundas convicções e a fazer do conceito de fraternidade um valor desprezível. Por detrás desta miséria, o dinheiro e o lucro.
http://www.cmjornal.xl.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário