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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Assis convoca opositores de Costa para encontro no sábado


Eurodeputado considera "impensável" e "erro histórico" acordo com PCP e BE, mas diz que não vai apelar aos deputados para desrespeitarem a disciplina de voto.


começou a contagem das espingardas no ps
Em vésperas da discussão do programa do Governo da coligação, Francisco Assis convoca os militantes do partido que discordam do rumo que o secretário-geral está a seguir para um encontro sábado, na Mealhada.
Os opositores de António Costa, apesar de estarem em minoria nos órgãos do partido e no próprio grupo parlamentar, acreditam que “representam metade do eleitorado do PS”. “Metade do eleitorado socialista está assustado com a deriva que o partido está a seguir e isto que nós estamos a fazer comparado com o que os apoiantes do actual secretário-geral fizeram à anterior direcção não é nada”, afirma fonte socialista, agitando com o risco de o PS guinar completamente à esquerda. “O partido corre o risco da 'pasokização' e 'syrização'. Há aqui uma deriva à esquerda e isso é muito perigoso”, adverte a mesma fonte, considerando que o partido “deve ter uma reserva, evitando pôr as fichas todas em António Costa” numa próxima disputa da liderança.
A realização deste encontro está a deixar o aparelho do partido nervoso. A mobilização está a ser grande e são esperados militantes de todo o país. A organização conta com a presença de aproximadamente duas centenas de pessoas, entre militantes de base, ex-dirigentes do partido e presidentes de câmara. Poucos deputados devem marcar presença. Eurico Brilhante Dias, que integrou o secretariado nacional do anterior secretário-geral, António José Seguro, deverá ser um dos poucos deputados a deslocar-se à Mealhada, o mesmo acontecendo com os líderes das distritais do partido, até porque alguns deles foram eleitos deputados.
“É muito importante demonstrar ao próprio país que há, de facto, no PS quem defenda uma solução distinta daquela que aparentemente está a prevalecer e que para mim é um erro histórico”, afirma Francisco Assis, que considera ”impensável um entendimento do PS com o PCP e o Bloco”. O eurodeputado socialista reconhece que tal como ele “há muita gente no PS que está contra um entendimento” e declara que, ao assumir uma divergência com a linha oficial do partido, contrai responsabilidades, às quais – frisa – não se furta. “Não estou indisponível para nada nem nunca estive. Mas esse agora não é o meu objectivo neste momento”, sublinha o ex-líder da bancada parlamentar do PS, frisando que a “questão fundamental neste momento é mostrar que este caminho é um caminho errado e que é perigoso para o PS”.
Ao PÚBLICO Francisco Assis diz não ter dúvidas de que o PS pode “pagar caro esta aproximação à esquerda” e refere que “um governo desta natureza é um governo com uma grande incapacidade para fazer reformas": "Um Governo do PS apoiado por um partido tão conservador como é o PCP e por um partido tão contraditório como é o Bloco de Esquerda inibe-nos de ter a capacidade de promover reformas que o país precisa”.
Sublinhando a importância de o país fazer “reformas sérias”, Assis vinca a necessidade de o “PS ter a sua agenda reformista como acontece com a direita”. “A direita tem uma agenda reformista ultraliberal que não é a nossa. Nós temos de ter uma agenda reformista verdadeiramente social-democrata e eu não acredito que com este entendimento à esquerda essa agenda reformista se possa levar a cabo com sucesso”, afirma.
Em declarações ao PÚBLICO, o eurodeputado reafirma a ideia de que o “PS deveria assumir-se como partido da oposição com sentido de responsabilidade e, a partir da oposição, construir uma alternativa de governação ao país. É isso que os portugueses esperam do PS neste momento”.
Para já, afasta qualquer cisão no partido, mas assume que “há determinados momentos em que as pessoas têm a obrigação perante a sociedade de se assumirem e de afirmarem as suas posições": "E é isso que eu estou a fazer”.
Quanto ao encontro, deixa a garantia que não vai aproveitar a reunião de sábado para apelar aos deputados do PS para que desrespeitem a disciplina de voto. ”Não vou apelar a que desrespeitem a disciplina de voto porque a disciplina de voto é importante”. Porquê? “Porque se não o país entra num quadro de ingovernabilidade.” “Há princípios que têm de ser respeitados”, aponta.

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