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sábado, 1 de fevereiro de 2014

A VERDADE SOBRE OS ACONTECIMENTOS DOS DIAS 24 e 25 DE ABRIL 74 NA ESCOLA PRÁTICA DE ARTILHARIA, Vendas Novas.

A VERDADE SOBRE OS ACONTECIMENTOS DOS DIAS 24 e 25 DE ABRIL 74 NA ESCOLA PRÁTICA DE ARTILHARIA, Vendas Novas.

Enviado por A25A



Senhor Artur Aleixo Pais, Director da Gazeta de Vendas Novas e autor da Obra: EPA:  das origens ao alvorecer do III Milénio.


A VERDADE SOBRE OS ACONTECIMENTOS DO DIAS 24 e 25 DE ABRIL 74 NA ESCOLA PRÁTICA DE ARTILHARIA, Vendas Novas.

Quando li, há alguns dias, a sua narração, no livro: “EPA: das origens ao alvorecer do III Milénio, sobre os acontecimentos nos dias 24/25 de Abril 74, a páginas 185 a 189, nem queria acreditar, no que lia, por ter um carácter completamente delirante, e contrariar em absoluto a narração seca, mas verdadeira, do relatório de operações também publicado a páginas 193 e 194 do mesmo livro, o que, devia ter merecido da sua parte, se não houve dolo, mais cuidada atenção.


Assim, toda a narrativa de ter sido o meu camarada, o então,  Capitão Santos Silva, às 23 horas do dia 24 de Abril de 1974, quem  deteve o comandante e tomou a unidade é completamente falsa.

O Sr. Capitão  Santos Silva estava na altura em diligência em Tancos e só depois do toque de ordem,  lá pelas 17h, e  não sei bem quando, para não lançar suspeitas é que ele e o tenente Ribeiro Baptista se dirigiram para Vendas Novas.
 

Todavia os preparativos para a tomada da unidade iniciaram-se bem cedo no dia 24, porque já conhecíamos a ordem de operações,  dia D e hora H e acções a desenvolver. Neste contexto   tudo se iniciou com a preparação da EPA para recepção ao Ministro o Exército em 25 de Abril 74, assim para  se demonstrar um  maior grau de prontidão  da bateria de ordem pública, a que viria para Lisboa, ficou 50% municiada,  isto é, com 50% do seu material de fogo devidamente acomodado nos tractores do obus 8.8.

Contrariamente à sua narrativa não foi o Sr.  capitão Santos Silva que ficou com os oficiais que iam tomar a unidade, na sua casa, a ouvir  a rádio   à espera da senha – “E Depois do Adeus”,  mas sim, a equipa por mim chefiada, então tenente, e de que faziam  parte os tenentes Henrique Pedro e o tenente Amílcar Rodrigues. Estávamos à escuta da senha no quarto do tenente Sales Grade, que veio por decisão crucial, por mim tomada,  em cima da hora, a substituir o tenente Amílcar, por   este não estar presente à hora 22 e 55’ e no local aprazado, ou seja,  no  quarto do tenente Sales Grade que foi sempre o nosso posto de escuta rádio da BBC.  Aquela  DECISÃO, POR MIM TOMADA, FOI CRUCIAL, porque podia ter abortado a tomada da unidade, ou esperado pelo tenente Amílcar, factos que  poderiam ter tido  consequências imprevisíveis para a consumação da tomada da unidade e para o próprio movimento do 25 de Abril 74, como é por demais evidente.

A  acção do assalto armado ao gabinete do comandante foi de uma transcendência absoluta, da maior dificuldade e patriotismo, só por uma causa superior, tenentes com 25 anos  de idade pegam em armas municiadas, para prenderem o seu comandante, e, nomeadamente, no caso da EPA,  o 2º comandante, o tenente coronel Nascimento,  militar de grande prestígio, que pessoalmente muito admirava. Por tudo isto, este grande feito não pode, nem deve ser vilipendiado por tão grosseira narrativa.

O gabinete do Comandante foi de facto assaltado, sem qualquer perda de tempo, imediatamente  a seguir aos primeiros acordes da 1ª senha, tendo a EPA estado sozinha na Revolução até à 2ª senha . a Grândola vila Morena – às 0h do dia 25 de Abril.

O assalto foi feito de G3  carregadas e em riste,  às 22 e 55 , porque se julgava que comandante estava armado.  No momento do assalto estava, no seu gabinete, numa reunião com os comandantes de bateria   a prepararem a visita  do Ministro do Exército general Andrade e Silva. Esta reunião foi marcada, previamente, para depois do jantar, para facilitar a detenção às 23h.  Assim, não é verdade que o comandante já estivesse no seu quarto e tivesse sido chamado pelo Sr. Capitão Santos Silva para uma reunião de urgência no seu gabinete,  o que, ele nem sequer compreenderia e seria completamente suspeito, e, mesmo um despropósito, uma tonteira, que nunca esteve prevista, nem se realizou.

O Sr.  comandante  estava, sim, reunido com os comandantes de Bateria e o 2º Comandante, de acordo com um plano anteriormente decidido, na ausência do Sr. Capitão Santos Silva que como  já referi estava em Tancos, numa missão da sua especialidade de observador aéreo de artilharia.

Nesta reunião, como já se disse,  o então, meu  camarada capitão Santos Silva não estava presente, e creio mesmo que a esta hora não estaria na unidade, mas se estava contrariamente  narrativa apresentada, neste episódio não teve qualquer interferência, nem poderia ser visto, tornava-se suspeito, consequentemente,  quem explicou a situação ao Sr. Comandante foi o, então Sr. Capitão Patrício, que o deteve, depois da hesitação inicial, face ao modo de rompante,  como a equipa, por mim chefiada, entrou no gabinete do comandante, como consta do relatório de operações, tendo sido eu o primeiro elemento a entrar, e a ter impedido que o comandante se deslocasse para a secretária, onde, se suspeitava que tivesse uma pistola. Também aqui e, como é óbvio,  na hora da tomada da unidade não existiu qualquer diálogo entre o  Sr. Comandante e o  Sr. Capitão Santos Silva, o diálogo referido entre ambos, garantindo aquele capitão deu  todas as condições de conforto e apoio logístico ao comandante, neste momento, é uma inaceitável ficção.

O comandante foi detido e conduzido sob escolta armada por mim chefiada, para uns quartos de oficias números 21 ou 22, ficando guardado pelo alferes Correia, por sinal, meu vizinho que ficou tão admirado e estupefacto quanto eu  com tão estapafúrdia narrativa dos factos.

Também é totalmente falso que tenha sido, o então, Sr.  capitão Santos Silva a deter o 2º comandante, ou que este  tivesse sido esquecido, ou estivesse em sua casa, como consta da sua narrativa, ou que nesta hora e dia tivesse entregue qualquer arma a Sr. Capitão Santos Silva,  ou  que estando à civil em sua casa, como se diz na sua narrativa, o  Sr. capitão Santos Silva lhe tenha dado qualquer tempo para se fardar,  para ser detido às ordens daquele referido meu camarada.

De facto o que se passou, como consta do relatório de operações publicado naquela obra, páginas 193-194 e também assinado pelo mesmo meu camarada capitão Santos Silva e todos os intervenientes, e que é a verdade,   é que o 2º Comandante nunca foi  esquecido por ninguém e, muito pelo contrário, merecia a maior das atenções no plano de tomada da unidade, feito por três tenentes, dos quais um era eu, que colaborei com muito empenho.  A razão de tanto cuidada advinha de se Considerar   que estaria armado com pistola-metralhadora e com ligações à GNR local, por tudo isto e  como   2º Comandante também, teria de estar naquela reunião de comando, inevitavelmente, como de verdade estava.


Quem o deteve àquela hora,  22 e 55,  foi o tenente Sales Grade, pelo facto daquele se encontrar numa sala em frente do gabinete do Comandante, e foi o 2º Comandante que se surpreendeu com a presença do tenente Sales Grade, ele conhecia-nos bem, como comandante do grupo de instrução, o que, não acontecia com o comandante, para quem éramos desconhecidos, portanto, foi o Sr. 2º comandante que exclamou para o Sales Grade :

Também você está metido nisto! Ao que o meu camarada, com toda a calma deste e do outro mundo, respondeu: As circunstâncias assim o exigem, meu comandante! O tenente Sales Grade praticava yoga e recusava a prática de qualquer acto de violência.
Como resulta claro e inequívoco   toda a narrativa de que o  Sr. Capitão Santos Silva     se  deslocou à casa  do 2º Comandante  e o ter detido não  tem qualquer fundamento, nunca aconteceu.

O Sr. Capitão Santos Silva só toma parte nos acontecimentos do dia 24 de Abril  74, depois da unidade tomada, logo a narrativa de que foi ele a tomar a EPA não tem qualquer base de factualidade. De verdade só  é , o facto que  ficou a comandar a unidade por ser o mais antigo, após o momento em que se apresentou na unidade que deve ter sido entre as 23 e 30 e as 0h, logo, já bastante depois, em termos do tempo militar, do acontecimento fundamental e decisivo, a tomada da unidade, às 22h e 55’.


Também não corresponde à verdade algumas adesões massivas de graduados como é referido na  sua narrativa, do que também é dado testemunho no relatório da operação. As categorias militares em que a adesão foi total foi dos capitães e subalternos do quadro permanente e todos os oficiais, furriéis, cabos milicianos e soldados do serviço militar obrigatório, (SMO), outros graduados não aderiram, tendo eu  próprio me deslocado  ao Polígono de tiro a casa de alguns para os motivar para acção, o que não consegui. Como consta do relatório quem não aderiu e estando presente na unidade,  por motivos de segurança, ficou detido, como é óbvio e  era absolutamente necessário

Tendo presente o relatório de operações e a sua  narrativa completamente desfasada da factualidade e este texto, espero que faça o que a sua consciência e ética tiver por conveniente, para repor a verdade histórica e a atitude moral.
 

De facto  já tinha ouvido falar em reescrever a história, mas pensei sempre que isso não acontecesse entre nós, e nunca  deste modo e com esta extensão, em que a sua narrativa nada tem a ver, mesmo nada, com a história.
 

Em nome da História acrescento finalmente que para além de mim  e do Furriel Sequeira trabalharam na equipa de dinamização externa da EPA, o que, toda a gente de Vendas Novas sabe e até o Expresso, pela voz do Coronel Sousa e Castro, já  publicitou, o,  então, capitão Amílcar Rodrigues responsável pela  secção de relações externas da EPA, em minha substituição, no chamado Verão quente, com um larga intervenção na área de  Mora a Coruche, objecto de uma reportagem fotográfica internacional, e, ainda, o  então capitão Castro Pires, o Aspirante Guerra, com filmagens na RPT1, também há uma  minha em Cabeção  em que digo, como se processa o apoio do MFA  á reforma agrária e que raras vezes foi para o Ar, foi no ano passado,  e também  entre muitos outros, o Furriel  Nogueira. De facto o Furriel Sequeira era um militar que muito prezava naquela altura, mas não era o único.

Quanto aos que ficaram a dar instrução e aos que andaram fora dos quartéis, isso não foi uma opção pessoal de cada um, foram sim,  missões atribuídas pela hierarquia do Exército, pelo General CEME.

No meu caso foi eleito democraticamente Delegado do MFA,  pelos oficiais da EPA, como reconhecimento pelo meu trabalho em todo o processo do MFA. Todos foram   eleitores e  qualquer um podia ser eleito,  houve outros votados, ganhei por maioria expressiva.
 

Pelo modo como desempenhei essas funções, tive várias vezes acesso directo ao General CEME, na presença dos comandantes, o que está documentado em fotografias e  fui louvado em OUTUBRO de 74, por  ser um oficial “ sempre indiferente ao trabalho e aos sacrifícios. Oficial desembaraçado e activo, voluntário para trabalhos de missões difíceis, de grande pureza de sentimentos tem-se revelado pela dedicação, espírito de camaradagem e elevado entusiasmo” (Osnº 230 de 7 OUT 74,  assina o coronel Torres de Magalhães, que era da linha hierárquica normal, isto é, não graduado ou promovido pelas estruturas do MFA).

Considerando a imperatividade da história ser  história, vou dar conhecimento desta minha diligência a sua Excelência o General Chefe do Estado Maior do Exército, ao  SR. Comandante da Escola Prática de Artilharia, à Associação 25 de Abril, à Câmara Municipal de Vendas Novas, que já o galardoou por serviços honestos e verdadeiros prestados à comunidade,  à Associação Portuguesa de Autores, a outros órgãos de informação e, desde já, espero que faça a devida correcção histórica na publicação, bem como no jornal que dirige, a Gazeta de Vendas Novas, como a medalha de mérito – ouro que lhe foi atribuída pela Câmara torna imperativo,  e os sete volumes de história sobre Vendas Novas que já publicou.

Com a máxima indignação que a Constituição a República Portuguesa permite e pela verdade histórica e o imperativo moral mínimo.


João António Andrade da Silva

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