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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


Da amizade




Quem é nosso amigo? Aquele que sabe apreciar as nossas qualidades, que sabe captar 
os movimentos do nosso espírito, aquele em quem podemos confiar com a certeza de 
sermos compreendidos. Aquele a quem podemos confiar o nosso dinheiro e até os 
nossos filhos, porque tomará conta deles como se fosse seus. Aquele que nos consola 
mas que também sabe dizer-nos onde erramos. Aquele que nos aconselha sempre para 
o nosso bem e que age de forma a não nos ofender, respeitando a nossa dignidade. 
Aquele que não nos inveja, que não fala mal de nós e que, pelo contrário, nos defende 
das calúnias, dos ataques malévolos. Alguém que está sempre do nosso lado na difícil 
luta da vida. Que quer saber se estamos bem, mesmo quando estamos longe, e que 
está sempre pronto a acorrer quando pensa que precisamos dele. Que nos faz justiça 
quando os outros nos tratam injustamente.

A amizade é uma forma de amor, impregnada, entretecida de moralidade. O amigo 
está sempre do nosso lado, mas exige de nós um comportamento correcto, como o 
que impõe a si mesmo em relação a nós. Os amigos são iguais no afecto, nos direitos 
e nos deveres.

Existem três tipos de relações amorosas. As ligações fortes, as medianas e as fracas. 
As ligações fracas são as que estabelecemos com os conhecidos, os colegas, os vizinhos,
 para com os quais não experimentamos sentimentos fortes nem obrigações 
particulares. (…) Pelo contrário, as ligações fortes resistem ao tempo e às frustrações, 
como as que se estabelecem entre pais e filhos, e vice-versa. A mãe fica do lado do 
filho faça ele o que fizer (…) O amor de mãe está para além do bem e do mal. 
Mas também são fortes as ligações que se estabelecem com o enamoramento (…) 

A relação com os amigos, pelo contrário, pertence à categoria das ligações médias. 
Enquanto a paixão surge de improviso e, como um furacão, impele os dois amantes 
a viverem juntos, sacrificando ao seu amor qualquer outra relação, a amizade 
constitui-se lentamente através de encontros sucessivos, e cada indivíduo continua a ser igual a si mesmo. 
Ela não pede que as pessoas se desliguem do passado para renascerem, para constituírem uma nova entidade 
social que reorganiza o mundo à sua volta. Naturalmente, também os amigos têm pontos de vista 
semelhantes, partilham muitos valores. Mas como individualidades distintas, cada um tem o seu mundo privado, 
que o outro tem de respeitar e mesmo proteger. Por isso, a amizade é livre, serena, não opressiva. 
Por isso mesmo, porém, exige atenção e delicadeza.

(…)

 Francesco Alberoni in Viagem pela alma humana


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