Cerca de 4.000 empresas de construção civil estão em risco de colapso no Algarve e as obras estão praticamente paradas, devido ao excesso de oferta e à falta de financiamento bancário, disse à Lusa um responsável do setor.
Numa região até agora dominada pelo mercado da segunda habitação, só no último ano cerca de mil pequenas e médias empresas entraram em processo de insolvência, o que deixou por acabar centenas de obras.
A redução do financiamento bancário para construção e compra de imóveis levou à saturação do mercado da oferta, apontou o representante da Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas e Serviços (AECOPS) na região, Manuel Gonçalves.
Como outra causa da estagnação, aponta ainda a quebra na procura pela segunda habitação por parte dos mercados britânico e irlandês, devido à crise europeia.
“Para a saturação do mercado imobiliário contribuiu também o excesso de oferta devido à colocação no mercado de imóveis cujos proprietários se confrontavam com dificuldades económicas resultantes das recentes medidas de austeridade”, destacou.
A suspensão de obras públicas, como as da empresa Parque Escolar e a reconversão da Estrada Nacional 125, agravaram também as condições financeiras dos empreiteiros e subempreiteiros.
Para a recuperação do setor, Manuel Gonçalves aponta o caminho do arrendamento e reabilitação urbana.
Também os autarcas do Algarve defendem “o mercado do arrendamento” como forma de revitalizar o setor da construção civil, uma das atividades que, além do turismo, mais contribuía para os orçamentos dos municípios.
O presidente da Câmara de Lagos, Júlio Barroso (PS), concorda com esse caminho, ilustrando com números a situação dramática que vive o seu município: em 2009 foram emitidas 178 licenças e desde então os números têm vindo a cair, até que, em 2011, foram passadas apenas 51.
A sua colega Isabel Soares (PSD), que preside ao município de Silves, queixa-se também das quebras das licenças pedidas e emitidas, mas acrescenta um outro fenómeno preocupante: “Tínhamos um conjunto de projetos aprovados, já licenciados, mas com a crise que a construção atravessa mais de metade dessas obras estão paradas ou nunca começaram”.
Segundo disse a autarca à Agência Lusa, “ultimamente os empresários nem sequer levantam as licenças, ou pedem constantemente prorrogações de prazos”. Fenómenos que têm como resultado que de 2008 para cá as receitas próprias do município desceram 64%.
Mais dramática ainda parece ser a situação de Faro, onde, de acordo com o presidente da Câmara, Macário Correia (PSD), o município está a emitir apenas 10 por cento das licenças para obras que emitia há cinco anos.
Aliás, basta uma simples passagem rápida pelo Algarve, para ver os efeitos do abandono da construção, com obras inacabadas ou a ritmo muito lento, em zonas de grande incidência turística, como é o caso de Albufeira.
Na zona poente daquele concelho, os projetos da marina, que de 1995 para cá foram crescendo a olhos vistos, hoje decorrem “a passo de caracol”, sob a alçada de uma empresa “sem músculo financeiro para o enorme esforço necessário à manutenção dos projetos”, disse à Lusa um antigo proprietário.
Entre 2002 e 2009 o triângulo formado por alguns dos antigos proprietários, a Sociedade Lusa de Negócios (sociedade gestora de fundos imobiliários do BPN) e a empresa Irmãos Cavaco acumularam 140 milhões de euros de prejuízos.
Em 2009, o passivo foi assumido pelos Irmãos Cavaco, que adquiriram a totalidade do capital, mas a falta de financiamento bancário e a mudança de estratégia – que já vinha de trás – arrastaram a empresa para uma situação que a fonte contactada pela Lusa considera agora inultrapassável, devido à presente conjuntura.
“Em vez de se investir no Turismo, em hotéis, aparthotéis, animação, como ocorreu entre 1995 e 2001, passou a investir-se em imobiliário e no mercado da segunda habitação”, justificou a mesma fonte, observando que a presente crise acentuou os efeitos da má opção então tomada.
Garantindo que se chegaram a reservar 130 apartamentos de férias numa única semana, a preços “muito razoáveis”, o empresário sublinha que hoje as obras se limitam à estreita faixa entre a marina e a estrada de São Rafael e ainda assim não saíram da fase das infraestruturas.
Ao lado, um T3 que em 2001 foi negociado por 200 mil euros é agora vendido a 140 mil e uma vivenda que há 11 anos valia 450 mil euros vale agora 300 mil.
Região sul
|
Sem comentários:
Enviar um comentário