A MENSAGEM DE UM ESTOIENSE
"Romeiro ou Almocreve..."
Com a devida ajuda do meu filho Nelson, vou passar-te o meu poema dedicado à minha e nossa tradicional Festa da Pinha, que faz parte integrante da minha publicação escrita, recolhida com a máxima fidelidade e gravada ao vivo no ano de 1994.
Este poema, poesia livre, ganhou os Jogos Florais desse ano, por unanimidade do Júri de selecção, o que me dá enorme prazer e gosto, poder divulgar mais profusamente e dedicar a todos os "almocreves" e "romeiros" tradicionalistas e defensores da secular tradição.
A mensagem que deixo aos mais jovens e que ainda pouco conhecimento possuem da Festa da Pinha é a de continuar a manter a tradição, se possível não deteriorando as suas raízes, vestindo um traje simples ou mais imponente mas de homenagem ao homem rural, do Algarve, de Estoi e arredores que saídos com os produtos da terra, nos seus muares, subiam Serra do Caldeirão acima em direcção ao Alto Alentejo e Beiras interiores, trocando e comercializando os produtos da região, figo, amêndoa, alfarroba, peixe seco, sal e outros e trazendo em troca produtos ou dinheiros que comercializavam.
A viagem, longa e perigosa, levava-os até Ludo, onde os seus patrões recebiam os proventos conseguidos e colocavam vinho e comida para comerem farta e abundantemente. Depois de bem comidos e melhor bebidos, seguiam rumo a suas terras, Estoi em especial, sendo aí esperados por suas famílias e amigos, que os aplaudiam e de novo os festejavam com comidas e bebidas que colocavam nas ruas depassagem.
Não havendo nesse tempo elecricidade, a entrada era preenchida com archotes acesos que também serviam para afugentar os lobos que os perseguiam na dura e longa viagem.
"Almocreves" porque era essa a sua profissão e frente ao cruzeiro da Srª doPé da Cruz, depositavam alecrim em honra da padroeira.
Estavam organizados em Confrarias e o nome de Pinha poderá advir dos pinheiros onde acampavam e das pinhas que traziam para as fogueiras, havendo outras versões como o devir em "pinha" em "pinhoca" um aglomerado de pessoas, que se juntavam em"pinha" para melhor se defenderem dos ataques dos lobos famintos.
A lenda é lenda e poucas publicações existem que esclareçam, mesmo a Monografia de Estoi de Ataíde de Oliveira é omissa no assunto desta festa que tem vindo a ser prosseguida por gerações e gerações de Estoienses.
Eu e alguns entusiastas de Estoi, somos oriundos dos finais da guerra de África, tendor e tomado a festa após 5, 6 anos de paragem no ano de 1968 e tendo chegado até aqui com toda a pujança e cada vez maior participação.
O que mais me desagrada não é ver milhares e milhares de pessoas a assistir ao cortejo de ida e de volta, é sim o "abandalhamento" que alguns "pseudo-almocreves" têm vindo a adoptar, sem qualquer rigor cultural e didáctico, desrespeitando os trajes simples e usuais, a saber:
-Botas do campo, calça de cotim, sarja, surrubeco, linho ou algodão, as actuais gangas é uma solução moderna, cinta preta ou vermelha por cima de camisa de linho ou algodão de cor branca, colete preto, castanho ou cinzento, um lenço garrido ao pescoço e chapéu de feltro à montanheiro, se possível ornamentado por cravos, rosas, malvas ou malmequeres (pampilhos). Não são chapéus de cabedal, de cow-boy e de palhaque lhe dão aquele toque sublime.
Hoje, pela profusão de cavaleiros e amazonas presentes no dia 2 de Maio, é usual a compra de fatiotas de alto gabarito e de excepcional qualidade e visibilidade.
Aceita-se, embora os"almocreves" não seguissem para as suas jornadas tão bem "aperaltados"!...
Por outro lado, a imagem que é dada para o exterior por dezenas de tractores engalanados a rigor e algumas charretes ou carroças que ainda se atiram à jornada, é fortemente prejudicada por individuos que sem qualquer respeito pelas regras e tradições, se sentam sobre os motores de tractores, sem qualquer adereço festivo, uma ou outra palmeira por vezes arrojando pelo chão, de camisas abertas, chapéus de "marroquinos" ou cow-boys, de cerveja ou garrafão empunhado ao ar, tremendamente embriagados e que conferem à Festa da Pinha aquele sinal que os seus defensores acérrimos de todo repudiam, de tal forma isso é assim que já ouvi de um responsável da nossa G.N.R. afirmar na nossa presença, que aquilo da Festa da Pinha é a "festa dos bêbados"... Lamentável!
Já agora, ninguém defende que as garrafas de cerveja sejam partidas no alcatrão assim que são consumidas, como não somos defensores do "roubo de flores" para ornamentar as viaturas, como alguns julgam ser "tradição".
Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha!
É este o grito que mais gosto de ouvire que gritarei até que as forças e a cabeça mo permitam fazer.
A tradição manda ir à Pinha e repartir no Ludo os petiscos e as bebidas que cada um tem orgulho em apresentar, junto aos caracóis às sardinhas assadas no braseiro, ao borrego cheiroso e apelativo ao folar de Estoi e aos rissóis da "Manelinha" patrona da Rádio Simão, emissora oficial da nossa tradicuonalFesta da Pinha.
Viva a Pinha - Viva a Pinha cacete!
(Joaquim Aleixo)
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