O momento conturbado da empresa de correios está a ser aproveitado por investidores que querem lucrar com a queda das ações. Resultados anuais serão cruciais para ditar o futuro da cotação da empresa em reestruturação
Os especuladores estão a atacar as ações dos CTT apostando na sua queda. Investidores, entre as quais a BlackRock, a maior gestora de ativos no mundo, têm posições avaliadas em mais de 35 milhões de euros para lucrar com eventuais descidas. Os especuladores aumentam a pressão num momento em que a empresa ainda está longe de recuperar do tombo de mais de 30% provocado pelos resultados abaixo do esperado no terceiro trimestre e pelo corte de dividendos. Ainda assim, há grandes entidades, como o Goldman Sachs, a mostrar confiança na empresa.
A pressão do mercado levou a administração dos CTT a anunciar um plano de reestruturação que levantou preocupações no regulador, a Anacom, e em alguns partidos. A empresa colocou em marcha um plano de reestruturação de três anos que prevê, entre outras medidas, a saída de 800 trabalhadores e corte da rede de lojas. O momento mais conturbado está a ser aproveitado pelos especuladores que apostam na descida das ações.
As posições curtas, que servem para lucrar com eventuais quedas das ações dos CTT, equivalem a 7,13% do capital da empresa, segundo os dados da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). No final de 2017 essa posição era de 6,73% e no final de outubro de apenas 3,56%. É a empresa da bolsa portuguesa mais atacada pelos especuladores.
Para lucrarem com eventuais quedas, estes investidores pedem ações emprestadas a acionistas dos CTT ou a entidades que fazem custódia de títulos, pagando-lhes uma comissão. Após garantirem esse empréstimo, vendem as ações e recompram-nas mais tarde para as devolver aos seus donos. A título de exemplo, quem abrisse uma posição curta nos CTT a 31 de outubro com um milhão de ações vendia-as nessa data a 5,06 euros, encaixando mais de cinco milhões de euros. Se tivesse encerrado essa aposta na sexta-feira necessitaria apenas de 3,4 milhões para as recomprar e devolver a quem as emprestou. Teria lucrado 1,6 milhões de euros. Mas se as ações tivessem subido nesse período incorria em perdas. A tática também pode ser posta em prática com recurso a instrumentos financeiros derivados.
Resultados anuais decisivos
Existem seis entidades com apostas relevantes na queda das ações. A maior pertence a um fundo especulativo britânico, a Marshall Wace, que nos últimos anos tem feito raides na bolsa portuguesa. Também a BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, e a gigante JPMorgan Asset Management querem ganhar com descidas das ações. No passado, estas duas gestoras chegaram a ser acionistas de referência dos CTT. O JPMorgan tinha sido também o banco que montou a entrada em bolsa da empresa; agora apostam na queda.
Mas há outros grandes investidores que têm opinião diferente. A poderosa Goldman Sachs tem estado a comprar ações e detém 2,46% da empresa. A Gestmin de Manuel Champalimaud, maior acionista da empresa, tem reforçado a aposta de que os CTT vão superar a fase de pressão no mercado. Desde o início do ano subiu a posição de 11,26% para 12,43%.
Para saber quem vai vencer esta batalha será necessário aguardar pelas contas anuais. Steven Santos, gestor do BiG, diz ao DN/Dinheiro Vivo que "a divulgação de resultados no dia 7 de março pode ser um momento crucial para sabermos se a ação continua colada aos mínimos históricos ou se inicia uma recuperação visível". Caso os números sejam positivos, a tática dos especuladores poderá sair furada. "O elevado posicionamento curto poderá acelerar as subidas caso os CTT entreguem resultados acima do esperado. No fundo, as posições curtas representam ações que serão recompradas se a empresa apresentar uma melhoria dos resultados", explica o especialista.
O peso dos investidores curtos "sugere que há investidores institucionais que acreditam que o plano de reestruturação não é suficientemente profundo ou que tem um elevado risco de execução", considera. O plano prevê o corte até 2020 de 800 trabalhadores, afetando sobretudo a área operacional, e a venda de 30 ativos não estratégicos, bem como a reorganização da rede de lojas. Objetivo? Obter uma contribuição positiva de até 45 milhões de euros para o EBITDA recorrente.
Desde janeiro, 22 estações CTT têm vindo a ser encerradas, substituídas por pontos de acesso parceiros, decisão que gerou forte contestação das populações e forças políticas. Há o receio de que a qualidade do serviço postal seja afetada, numa altura em que a Anacom apertou os critérios de qualidade do serviço universal postal e o governo vai criar um grupo de trabalho para analisar o dossiê. Do lado dos trabalhadores a pressão não dá tréguas. Na próxima sexta-feira os CTT preparam-se para enfrentar a terceira greve nacional em dois meses. Sindicatos contestam o encerramento das estações e os despedimentos e pedem a reversão da privatização da empresa.
Com Ana Marcela
www.dn.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário