Contou-me que o comboio que costuma apanhar de manhã para a escola tinha deixado a estação cinco minutos antes da hora. Como a estação de Vila Nova de Cacela não tem funcionários, assim que arranjei tempo fui à de Vila Real de Santo António, não para pedir o livro de reclamações (de que serve?) mas para tentar saber quem era o maquinista por forma a explicar-lhe, mais tarde, que as pessoas precisam dos serviços à hora, não antes.
– Bom dia, pode dar-me um horário?
A senhora da bilheteira estendeu-mo com um sorriso simpático.
– Agora pode chamar-me o seu superior?
– E de que assunto se trata?
– Um dos meus filhos apanha o terceiro comboio da manhã para ir para a escola, e o de hoje saiu da estação antes da hora e o pai é que teve de o levar.
– Ah, isso… Saíram todos com cerca de meia hora de atraso, minha senhora. – a leveza e naturalidade do seu tom de voz daria para legitimar todos os atrasos do mundo. – Esse que ele viu partir antes da hora não era o terceiro adiantado, era o segundo muito atrasado.
– Olhe, e já agora, o que se costuma passar com o que vem de Tavira às sete e pouco da tarde?
– Então: para esse muitas vezes não há máquina e é suprimido. – piscou os olhos e sorriu outra vez.
Que justificação pode haver para tamanhos atrasos em carreiras matinais e numa estação de partida? Como podemos ter máquinas podres e carruagens nojentas a este ponto? Qualquer linha marroquina tem melhores comboios que estes…
Vim-me embora a pensar na tristeza de se permitirem tantas incompetências e lacunas nas extremidades provincianas de um país tão pequeno. Não nos dará isto vergonha a todos?
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