O escândalo já foi há muito tornado público. A selecção olímpica da Rússia apareceu inúmeras vezes recentemente envolta em casos de fraude por doping, com acusações graves de deturpação ostensiva da verdade desportiva e de ocultação oficial de provas dessa prática antidesportiva.
O Comité Olímpico Internacional (COI) e algumas Federações internacionais (como a do Atletismo) avaliaram essas irregularidades (manipulação sistematizada e centralizada de controlos antidoping) e suspenderam para além dos próprios atletas em causa, a participação da própria equipa nacional, como o atletismo no Rio. Contaram para o processo de investigação com o contributo de um delator, Rodchenkov, director do laboratório antidopagem de Moscovo até 2015 e residente nos EUA. E no epicentro da grave situação estava o Ministro dos Desportes, Vitali Mukto, muito próximo da liderança de Putin.
A Rússia apareceu assim publicamente exposta, desprestigiada, e castigada, atingindo-se o máximo da condenação com a proibição da participação como nação com bandeira e hino nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno deste ano na Coreia do Sul, restando-lhe a humilhante participação “neutra” dos seus atletas com bandeira olímpica. Agora o Tribunal Arbitral do Desporto anulou a suspensão de 28 de 43 banidos da Olimpíada de Sochi, mas isso não parece demover o COI, que permanece desconfiado do sucesso dos atletas russos. Sabe-se que em outros países, individualmente ou como nação, há suspeitas igualmente claras de práticas que afectam a seriedade da prática desportiva. Mas a Rússia (mesmo descontando a possibilidade de ser vítima de politicas de isolamento e de confronto) por desleixo ou por estratégia excedeu as piores expectativas.
Menos badalado, mas atual, está a ser o caso da prática de abusos sexuais sobre as jovens ginastas dos Estados Unidos da América. Foram identificados lugares e responsáveis pelos abusos, nas equipas técnicas e em médicos que acompanham os atletas. São práticas generalizadas e que certamente contaram com a conivência e silêncio de muitos. Durante 30 anos, foram identificados 156 casos de abusos, disfarçados de procedimentos médicos. A Federação de Ginástica já se demitiu ou foi demitida e a imagem do país não fica nada bem no que concerne á protecção de direitos de menores. Não sei se o Comité Olímpico Internacional se vai pronunciar sobre o sucedido.
São indesculpáveis a leste ou a ocidente, na Rússia ou nos Estados Unidos da América, ou em outros países, as práticas que por nacionalismo exacerbado, ou por ganância ou por exercício de despudor, violam as mais elementares regras cívicas ou de bom senso. Importa que as grandes potências sintam a necessidade de atuarem como exemplo, como membros de referência da comunidade internacional. Não basta olhar com desprezo, superioridade ou presunção para os que pela dimensão, desenvolvimento ou outra razão não ultrapassaram níveis civilizacionais adequados. Importa que se olhe para a realidade com atenção e por vezes alguma prudência. O desporto, mesmo quando inexoravelmente adquire dimensão mercantil, não é excepção.
CR
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