AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "Pó do tempo"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A INDÚSTRIA FOSFOREIRA


Existiram na Benfeita, entre 1870 e 1895, três fábricas de fósforos de enxofre, conhecidos na época por palitos fosfóricos ou lumes de enxôfre.
No começo do séc. XIX, foram realizadas algumas tentativas com o uso de combinações ou misturas de produtos químicos que favorecessem o início de uma chama. Alguns desses processos utilizavam misturas de fósforo e enxofre, outros ainda hidrogénio gasoso, mas todos de alto risco e difícil utilização.
Começaram, então, a aparecer os primeiros fósforos, alguns bem perigosos e bem fedorentos, como os conhecidos “Congreves” e “Luciferes”. Porém, foi apenas em 1845 que o sueco Carl Lundstrom patenteou os primeiros “fósforos de segurança”, com ignição controlada, manufacturados a partir de fósforo vermelho e que só se inflamavam quando friccionados contra uma espécie de lixa, colocada no lado de fora da embalagem.
Só mais tarde a fabricação de fósforos entrou na indústria nacional, em oficinas e fabriquetas espalhadas um pouco por todo o país. A Benfeita não fugiu à regra e, em 1890, já existiam 3 fábricas de fósforos na nossa aldeia. Chamavam-se elas: Santa Clara, de Lourenço dos Santos (localizada logo à saída da Ponte do Cabo, sobre a Ribeira da Mata), Tanque, de Manuel Martins e União, de Augusto dos Santos. Embora de estrutura e composição quase exclusivamente familiar, estas pequenas fábricas tinham já uma capacidade de produção anual superior a um milhão de caixas, cada uma, ocupando um lugar de destaque na produção nacional, não obstante a falta de instalações adequadas, maquinaria e mão-de-obra especializada, além dos difíceis acessos à aldeia.
Antes do 25 de Abril na Benfeita e no resto do país em 1895  marcou a queda de uma indústria que mantinha activos, na Benfeita, 47 postos de trabalho. Nesta data, o então Presidente do Concelho e Ministro da Fazenda, Conselheiro Hintze Ribeiro fez desaparecer, por decreto, as 69 fábricas de fósforos espalhadas pelo continente do reino e ilhas adjacentes, entregando o exclusivo do fabrico de acendalhas e palitos, ou pavios fosfóricos, à Companhia Portuguesa de Fósforos que abriu duas fábricas de grande porte; uma em Lordelo do Ouro, no Porto, e outra no Beato, em Lisboa. A mão-de-obra existente foi, então, deslocalizada para as novas fábricas e garantidos os postos de trabalho, embora tivessem optado por uma indemnização todos aqueles que não puderam ou não o quiseram fazer.
Dadas as precárias condições de segurança em que se manuseavam estes materiais altamente inflamáveis sucediam-se, em todo o país, situações de pequenos e grandes incêndios, alguns provocando vítimas humanas e elevados prejuízos materiais, dado que, grande parte destas fabriquetas se encontravam instaladas em pequenas lojas, “roubadas” aos animais, existentes nas próprias habitações. As más condições de protecção em que se realizavam 12 a 16 horas de trabalho diário, perante a indiferença das autoridades, associadas aos perigos de emanações tóxicas, constituía um elevado risco de vida pois poderia causar necrose ou gangrena dos ossos e poderia levar à morte. A ignorância e a pobreza da população permitia a exploração de mão de obra não qualificada, maioritariamente mulheres, a troco de um salário baixíssimo, embora alguns proprietários tivessem conhecimento desta doença mas estivessem mais preocupados em aumentar os seus lucros.
Este monopólio de produção de fósforos de enxofre, integrais e amorfos, de cera e de madeira, que foi dado em exclusivo, pelo prazo de 30 anos, ao negociante do Porto, Francisco António Borges, viria a sobreviver à Primeira República. Expirado o prazo concedido, cria-se a Sociedade Nacional de Fósforos, que herda os alvarás de produção da Companhia Portuguesa de Fósforos, tornando-se numa das mais importantes unidades do sector a nível nacional. A sua extensa linha de produção integra todos os trabalhos desde corte e tratamento da madeira, à realização da “massa” dos fósforos e respectivo embalamento. Mais tarde, em 1926, surge em Espinho, outra empresa importante, a Fosforeira Portuguesa e, no Porto, ainda mais duas Companhias, a Continental e a Lusitana.
A vulgarização do uso do isqueiro (já inventado em 1816, pelo alemão Johann Wolfgang Döbereiner) viria a fazer decair esta notável indústria. Perante isto, Salazar, lançou a “Licença Anual para uso de Acendedores e Isqueiros”, numa tentativa de refrear a sua crescente utilização, já que causava um enorme rombo na indústria fosforeira nacional, para ela revertendo toda a receita das licenças emitidas, bem como o valor das multas aplicadas pela inobservância da lei; embora, neste caso, 30% se destinasse ao fiscal autuante. Já sem aplicação prática, mau grado a existência de um extenso “corpo de fiscais” para punir e dissuadir a utilização de isqueiros, na via pública, esta lei acabou por ser abolida em 1970.
Mas, com a globalização, a indústria fosforeira portuguesa nada pôde fazer para resolver a crise que se instalou no sector e que pôs em causa a sua viabilidade no nosso país. Trata-se do problema da concorrência, resultado da importação de fósforos dos novos países da União Europeia e de países terceiros, como a China.
A Sociedade Nacional de Fósforos sucumbe, deixando atrás de si, as suas famosas colecções de caixas e carteiras de fósforos, temáticas e publicitárias, muito ao gosto dos apaixonados coleccionadores filumenistas. Por arrasto da mudança dos hábitos de consumo, as grandes e importantes fábricas fosforeiras portuguesas, que produziram durante décadas autênticos objectos de colecção, que alimentaram o filumenismo, acabaram por entrar em decadência e encerrar.
A Fosforeira Portuguesa é trespassada em Setembro de 2006, recebendo a partir dessa data a designação de Chama Vermelha estando, actualmente, localizada em Vila Nova de Gaia e sendo a única empresa portuguesa a produzir fósforos, na Península Ibérica, e das poucas a nível mundial.
Hoje, a produção de fósforos já não tem a importância económica de outrora. Com os avanços tecnológicos que estão à nossa disposição, é difícil imaginar como a indústria fosforeira possa competir por muito mais tempo, nos moldes tradicionais, com os novos isqueiros electrónicos chineses, a gás, recarregáveis ou descartáveis, de todas as cores e formatos, tanto na utilização por fumadores como no lar, nas cozinhas, fogões e esquentadores, e em lareiras e barbecues; de baixo custo, fácil utilização, maior segurança e durabilidade.
A marca Quinas, era uma das mais populares da Sociedade Nacional de Fósforos, que chegou a produzir mais de 16 biliões de fósforos nas suas quatro fábricas, sediadas no Porto e em Lisboa. Com poucas pessoas a terem licença, ou a quererem usar, para isqueiro, o fósforo sempre foi parte integrante da vida dos portugueses, e esta era uma empresa 100% nacional, com tudo a ser produzido por cá com mão de obra nacional. Deixo aqui algumas imagens de caixas que todos devemos ter visto lá por casa. A marca ainda existe, utilizada por outra fábrica que ficou com o direito do nome.
A marca Quinas, era uma das mais populares da Sociedade Nacional de Fósforos, que chegou a produzir mais de 16 biliões de fósforos nas suas quatro fábricas, sediadas no Porto e em Lisboa. Com poucas pessoas a terem licença, ou a quererem usar, para isqueiro, o fósforo sempre foi parte integrante da vida dos portugueses, e esta era uma empresa 100% nacional, com tudo a ser produzido por cá com mão de obra nacional. Deixo aqui algumas imagens de caixas que todos devemos ter visto lá por casa. A marca ainda existe, utilizada por outra fábrica que ficou com o direito do nome.
foto de cronica do rochedo
Foto de desaparecido mas não esquecido Foto de cronica do rochedo
Estado Novo
No tempo do Estado Novo foi indispensável esta autorização individual, quem não possuía ficava sujeito a multa pesada. Esta lei imposta na época servia para salvaguardar a produção de fosforoso nacionais

centrodeestudosportugues1.wordpress.com

Sem comentários: