João Palma, magistrado do ministério público, ex dirigente do sindicato do ministério público, ao ser ouvido pelos jornalistas no congresso do sindicato desenvolveu teoria, com ar sério, a propósito de cumplicidades entre poder político, altos magistrados e juízes para proteger os mais poderosos e influentes (Ver aqui)
A bem mandada comunicação social traduziu as palavras do sindicalista, ou ex-sindicalista, que o “Ministério Público se agitava com a sucessão de Joana Vidal”. Nesse dia (ou perto), na época em que todos ficámos a saber que o Ministério Público agiu contra o ministro Centeno instigado pelo Correio da Manhã (como o MP reconhece), no dia em que a procuradora se manifesta, mais uma vez, preocupada com as sucessivas quebras do segredo de justiça, no mesmo dia (mais ou menos) em que dois desembargadores são constituídos arguidos por promiscuidade entre comunicação social, empresários e poderes judiciais, do sindicalista Palma nem uma palavra disse sobre a promiscuidade entre jornalistas e magistrados. Assunto tabu.
O assunto grave, o mais grave, o que conduz aos julgamentos populares resultam do conúbio entre magistrados e jornalistas, entre os agentes do sistema judicial os os agentes da comunicação. Sobre isso, do Palma vedeta mediática, moita carrasco.
Não conheço o magistrado sindicalista João Palma, a não ser de o ver nas festas sociais da revista Elas do Correio da Manhã, frequentadas também pelo desembargar Rangel, agora arguido.
Não conheço o magistrado sindicalista João Palma, a não ser de o ver nas festas sociais da revista Elas do Correio da Manhã, frequentadas também pelo desembargar Rangel, agora arguido.
Pelo facto de serem convidados e de terem aceitado o convite de uma revista do órgão de comunicação tido como o veiculo privilegiado da informação policial e judicial é legítima a associação do sindicalista Palma e do desembargador Rangel ao veículo privilegiado de notícias sobre casos mediáticos da justiça? Não, não é legítima, mas é justificável a má opinião de um cidadão a propósito destas presenças.
As festas do Correio da Manhã não eram bacanais, longe disso, eram apenas oportunidades para convívio, locais onde são proporcionados contactos em ambiente agradável. Sabendo o que sabemos do segredo de justiça, das suspeitas que recaem sobre os magistrados e polícias avençados pelos órgãos de comunicação, é sensato, é prova de sensatez, e até de inteligência, já agora, os magistrados andarem por estas festas de copo na mão?
Julgo, dentro do princípio de não bastar à mulher de César ser séria, mas também que o pareça, que estas participações do sindicalista Palma, enquanto magistrado, e do desembargador Rangel são provas de sensatez? Não. Julgo que seria de lhes exigir algum pudor, algum recato. Na verdade, o facto do homem do sindicato dos magistrados (ou ex) e do desembargador participarem nas festas sociais de um jornal é causa da sua presença na comunicação social como isentos e angélicos comentadores, ou é consequência do seu mediatismo? Na realidade eles configuram a cadeia de produção dos ditos “famosos”. Os famosos são famosos porque aparecem e aparecem porque são famosos.
O sindicalista Palma manifesta-se preocupado com a substituição da procuradora atual. Ora eu posso legitimamente pensar que esta procuradora geral foi complacente com os comportamentos do seu subordinado Palma – incluindo a acusação sublimar aos seus colegas e à instituição – e que o anterior, que ele critica, o contestou. Mais, rejeito o discurso moralista do sindicalista Palma. Contudo, como ele, por motivos que desconhecemos, “aparece” nos jornais e TV, os jornais e as TVs quando querem encontrar um eco para as manobras políticas que conduzem (neste caso influenciar a escolha do/a próximo PGR) vão buscar estes “famosos”, que emitem uma opinião que os órgãos de comunicação apresentam como sendo a da instituição.
De facto a chamada destes “famosos” ao centro da arena mediática resulta de um processo de mistificação e de manipulação. Nem a opinião dos “Palmas” representa o pensamento da instituição, nem os “Palmas” têm moral para se colocarem na primeira fila, impantes, a emitir pareceres e a arrotar postas de pescada.
João Palma representa um dado Ministério Público que produziu os resultados visíveis de justiça popular e de justiça de tiro ao alvo. É esse MP que ele defende. É a sua praia. A procuradoria da república devia impor moderação e pudor a estes seus funcionários, ou afastá-los como pragas.
(Carlos Matos Gomes, 04/02/2018)
estatuadesal.com
(Carlos Matos Gomes, 04/02/2018)
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