Um testemunho histórico e corajoso - Lições para o presente e para o futuro.
Carta Aberta a Mikhail Gorbatchov, Secretário-Geral do PCUS
Escrita em Outubro de 1987, o destinatário estava então no auge do seu poder na URSS, dois anos e meio depois de assumir o poder no Partido e no Estado soviético, dois anos e meio passados em intensas actividades contra-revolucionárias, preparatórias do posterior desmantelamento do socialismo na pátria de Lenine.
A autora, Tatiana Khabarova, figura destacada entre os cientistas sociais e políticos soviéticos e uma comunista indefectível, decide escrever uma carta aberta a Gorbatchov na qual, com manifesta coragem e fidelidade aos ensinamentos do marxismo-leninismo, afronta os "apparatchik" da direcção do Partido e, discutindo todo o percurso do PCUS, originalmente revolucionário e depois tomado pelo oportunismo de direita, denuncia frontalmente a deriva teórica e política que se apossou do Partido naqueles dois anos e meio. Cruzando na sua análise os princípios e bases metodológicas do marxismo-leninismo com uma viva e contundente crítica às erradas orientações económicas, sociais e políticas seguidas pela direcção do Partido, traça um painel impressivo da marcha para o abismo que entretanto já estava em curso.
Texto rico de fundamentações teóricas e de avaliações rigorosas aos acontecimentos e orientações que estavam a cavar a sepultura do Partido e da sociedade socialista, aí fica um trecho no final da carta que exemplifica bem as justas e corajosas críticas da autora.
"Seria melhor acabar com a construção de sucessivas «meias-verdades» inquietantes (e Vós, ao que parece, tendo-vos dedicado excessivamente a isso), e dizer às pessoas a única verdade indivisível sobre o nosso destino passado e presente, pela qual anseia o instinto de classe de qualquer soviético sensato e patriota, e que inevitavelmente, tarde ou cedo, terá de ser dita: que nós rejeitamos de uma vez por todas os projectos delirantes de instituir o desemprego e os preços de «mercado» no nosso Estado; abandonamos a linha abertamente renegada e regressamos à linha geral marxista, leninista-stalinista (não se pode formular de outra maneira), do nosso desenvolvimento; à linha em que os preços baixavam anualmente, não havia corrupção massiva e subornos no aparelho administrativo, na medicina e nas instituições de ensino, em que não havia comércio de munições nas unidades militares, aviões estrangeiros a aterrar à luz do dia na Praça Vermelha, maquinistas embriagados que adormecem a conduzir um comboio com centenas de passageiros, um ministério da Indústria que degenerou totalmente, com o envolvimento do ministro, numa organização
criminosa; em que os bens essenciais não eram divididos na origem em duas categorias (com o rótulo de «especial» e sem rótulo); e em que sabíamos que no Krémlin se comia exactamente o mesmo tipo de salchicharia que nos era vendida na loja em frente. Se dissessem isto às pessoas, todos veríamos como o povo finalmente suspiraria de alívio, como compreenderia «para onde o chamam», e abrir-se-iam realmente novos amanhãs radiantes, e não novos becos sem saída pela frente.
Aliás, isso sim constituiria uma verdadeira, genuína e total democratização da nossa vida social, uma vez que a essência e a finalidade da democracia proletária consistem não em substituir, de tempos a tempos, uma «elite» por outra, mas, no presente como no futuro, não dar campo económico a nenhum tipo de elitismo."
Texto de leitura fácil e muito estimulante na pesquisa teórica que realiza sobre as realidades que trata, é simultaneamente uma grande lição de coragem comunista, de firmeza na defesa dos princípios marxistas-leninistas, especialmente quanto ao que deve ser o funcionamento profunda e genuinamente democrático de um partido comunista - no poder ou fora dele -, tal como da sociedade socialista pela qual lutam todos os verdadeiros revolucionários.
Aqui: http://www.hist-socialismo.com/docs/Khabarova_Carta_Aberta_%20Gorbatchov.pdf o texto integral da carta, de leitura indispensável.
oassaltoaoceu.blogspot.pt
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