Palazzo Ducale: sumptuosidade a cada metro quadrado
Os livros de história (e mais atualmente, as séries de TV) mostram Veneza como uma potência econômica e militar em séculos idos. Tudo isso, obviamente, se converteu em riqueza, mas nem sempre é possível observar na cidade atual o luxo advindo do poderio de outrora. Experimente, então, visitar o Palazzo Ducale, na praça San Marco.
Este prédio, construído entre os séculos XIV e XV, sintetiza todo o poder da república que, em seu apogeu, dominou as principais rotas comerciais do Mediterrâneo e das Índias. Percorrer os corredores e salas do Palazzo Ducale é se deparar com um mundo sem fim de tapeçarias, utensílios de ouro, afrescos e quadros a óleo esplendorosos.
O Palazzo Ducale era a moradia do doge (duque), o governante máximo da Sereníssima República de Veneza. Também era a sede do Ducado e abrigava todos os principais gabinetes administrativos. Hoje, abriga um museu espetacular.
Para os mais curiosos, há ainda a opção de fazer os “itinerários secretos”, com o lado obscuro do Palazzo Ducale. Aqui você terá acesso aos “poços”, celas muito mais inóspitas e insalubres que as encontradas na chamada Prisão Nova. Você desce por um sótão e chega a locais como a Sala dos Inquisidores e a infame Sala da Tortura. Por fim, há o acesso à Chancelaria Secreta e uma passagem para o Conselho dos 10, já no “Lado A” do palácio.
Visitando o museu
O Palazzo Ducale consiste em um amplo edifício com três alas, em forma de U, colado à Basílica de San Marco. Logo ao entrar, você tem acesso ao pátio central. Para chegar à loggia, espécie de “sobreloja”, passe pela imponente Escada dos Gigantes, ladeada por duas estátuas de mármore reproduzindo os deuses Marte e Netuno, obra de Sansovino.
O mesmo artista é o autor do próximo trabalho: a Escada de Ouro. Ela dá acesso aos pavimentos superiores e seu teto é ricamente decorado com estuque branco e molduras douradas de 24 quilates. Por sua beleza, era utilizado como caminho para cerimônias com participação do doge.
No primeiro piso, a Sala dello Scudo deixa os aficionados por história de queixo caído. Logo na entrada surgem dois gigantescos globos terrestres e mapas da Europa, África e Ásia, datadas de 1762. Há ainda representações iconográficas de Veneza em 1511 e 1729. Pelos desenhos, é possível ver como o tecido urbano da cidade quase não mudou em 500 anos.
Na Sala delle Volte e ambientes contíguos, estão antigos aposentos do doge, familiares e pessoas mais próximas. Ainda é possível encontrar alguns resquícios dessa época, como lareiras e outros equipamentos de conforto. Em todo o museu há pinturas e esculturas que retratam os doges mais importantes. Um quadro traz os nomes de todos os doges de Veneza, de 697 até 1797, quando o exército de Napoleão dissolveu a república. Reproduções do Leão de San Marco, um felino alado que é o símbolo máximo do Ducado, também são comuns.
As salas institucionais
Se você ficou impressionado com o luxo e a ostentação exibidos até agora no Palazzo Ducale, prepare-se para o prato principal. No segundo pavimento, as salas institucionais estão forradas de pinturas a óleo, cercadas por molduras douradas e mármore Carrara. Não há nenhum espaço nas paredes e no teto que não estejam cobertos por algum trabalho artístico.
Nas salas do Collegio, Senato e del Consiglio dei Dieci (Conselho dos Dez) se reuniam as personalidades políticas que governavam a República. Essas câmaras têm janelas voltadas para o Canal de Giudecca, iluminando o ambiente e tornando a visita ao Palazzo Ducale mais agradável.
Também voltada para o canal está a Armeria. A sala de armas contém armaduras, arcabuzes, canhões e todo o tipo de arma utilizada nas incontáveis guerras na qual se envolveu a República. Se o belicismo não te interessa, vá para as janelas, que oferecem uma visão esplêndida da região, com destaque para a Igreja de San Giorgio Maggiore, que fica de frente ao Palazzo Ducale.
Contemplar essa belíssima vista será importante para armazenar o oxigênio que irá lhe faltar em seguida. A Sala del Maggior Consiglio é gigantesca (53 metros de comprimento por 25 de largura), e coberta por tantas obras de arte e reproduções históricas que é difícil se ater a todas elas. Se for escolher um único trabalho para apreciar, concentre-se no quadro que representa o Paraíso. É a maior pintura a óleo do mundo e foi realizada pelo mítico Tintoretto no final do século XVI.
Se você está com vertigem ao ver tanto luxo, é chegado o momento de ir às salas de julgamentos e a Prisão Nova. A ligação entre o Palazzo Ducale e as celas é feita pela mítica Ponte dos Suspiros. Ela tem esse nome porque permitia aos condenados a última visão do mundo exterior, antes de serem encarcerados. Eles então suspiravam pela liberdade perdida. Em alguns calabouços é possível ver desenhos dos antigos prisioneiros.