Pagar a dívida com cuecas de algodão?
A direita tenta fazer passar a ideia de que o objectivo de toda a política económica é o equilíbrio das contas públicas e que este é a fonte exclusiva do progresso económico e social. A política económica deixa de discutir objectivos de médio ou longo prazo, os cidadãos deixam de pensar no país que quem, tudo se resume a saber quanto de vai cobrar de IMI, se a sobretaxa deve ser reduzida, reembolsada ou consolidada, se os funcionários públicos devem ter vencimentos baixos ou serem declarados propriedade do Estado e sujeitos a um regime de escravatura em nome da salvação nacional.
O governo tenta fazer passar a ideia de que o Estado apenas se deve limitar à gestão de um Estado cada vez mis diminuto, cabendo às empresas todas as opções económicas. O modelo económico não deve ser o resultado da vontade colectiva dos cidadãos, mas sim o resultado das decisões económicas das empresas. A democracia serve apenas para decidir onde ficam as rotundas e as eleições para escolher os que mais cortam na despesa pública e nos direitos laborais. O futuro do país é decidido pelas empresas e o mesmo é dizer que pelos grandes bancos, o verdadeiro parlamento deixa de estar em São Bento e os deputados não passam de palhaços, as assembleias que tudo decidem são as do BPI ou do Millennium, mesmo que aí sejam os catalães ou os angolanos a mandar.
Neste país onde os cidadãos sem capital não passam de um fardo a qualidade da escola pública não é uma prioridade, o SNS deve centrar-se nos mais pobres e investir numa qualidade orientada para esse “segmento de mercado” rejeitado pelo sector privado e os quadros mais qualificados só são necessários ao país na medida em que as empresas os contratem.
Neste quadro o crescimento apenas é importante para assegurar receitas fiscais que paguem os juros da dívida soberana e assegurem o funcionamento de um Estado mínimo e com quadros cada vez menos qualificados e prestigiados. A forma mais fácil de atingir crescimento com este modelo é apostando nas empresas que produzem bens com baixo valor acrescentado, que contratam mão de obra pouco qualificada.
O governo desprezou o crescimento durante três anos e agora tenta empurrar o país para um modelo de crescimento miserável, assente na desvalorização dos portugueses e naquilo que de pior tem o nosso sector empresarial. Esta abordagem miserável do crescimento significa menos riqueza a médio e longo prazo e a incapacidade do país de gerir recursos suficientes para o livrar da dívida externa.
A solução para o futuro do país passa por criar valor e para isso é necessário apostar na produção de bens de elevado valor acrescentado o que pressupõe a aposta em empresas que empregam trabalhadores cada vez mais qualificados. O absurdo desta opção do governo português está no facto de enquanto a generalidade dos países desenvolvidos estarem a enfrentar um problema de escassez de recursos humanos qualificados, Portugal está a forçar a sua melhor geração a encontrar emprego no estrangeiro.
Este governo aprece querer pagar a dívida soberana com cuecas de algodão e é por isso que se quer baixar ainda mais os salários, que se oferecem quinhentos euros aos licenciados, é para isto que temos ministros como os nossos, gente sem ideias, sem competência e com intenções muito duvidosas.
jumento.blogspot.pt
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