Costumes dos Anussim nas tradições familiares
Do século XVI ao século XVIII, judeus portugueses foram forçados se converter ao Catolicismo. Eram levados até pias batismais a força, muitas vezes até mesmo puxados pelas barbas. Esses judeus eram chamados de “cristãos-novos”. Muitos desses judeus continuaram praticando Judaísmo escondidos, apesar de na rua parecerem cristãos católicos. Esses, que continuaram mantendo costumes judaicos, receberam o nome de “marranos” (palavra que significa “porco”). Com o passar do tempo e com a militância do “Santo Ofício”, mesmo sob ameaças de tortura em porões de Igrejas e até mesmo de morte na fogueira, eles preservaram suas tradições de uma forma adaptada, mas que ainda assim servia para identificá-los como judeus.
Em 1500, o Brasil é descoberto e desde a chegada de Cabral e começam a vir ao Brasil judeus, que logo ja eram milhares, que foram forçados a conversão no Cristianismo. Um a cada quatro com “nome português”, era judeu. Grande parte do “povo brasileiro” de hoje descende destes judeus portugueses e é possível encontrar milhares de descendentes diretos ou indiretos deles.
Em 1997, o Professor Eduardo Mayone Dias, professor emérito da Universidade da Califórnia (UCLA), sugeriu uma lista de perguntas e de costumes que podem indicar uma possível origem judaica de uma família. A lista obviamente é incompleta, pois não abrange todos os costumes possíveis. Na verdade ainda há muito o que se acrescentar, embora boa parte dos principais costumes estejam listados. São apresentadas aqui práticas possivelmente já esquecidas pelas tradições familiares no decorrer dos tempos. Se você possui um sobrenome "português" (principalmente dos que constam em nossa lista de "Sobrenomes usados por judeus da Inquisição"), compare tais práticas com as tradições de sua família, se possível com a ajuda dos familiares mais antigos que possuir (pais, tios, avós, bisavós e outros familiares mais antigos) e verifique sua possível ascendência judaica.
Família
- Alguém, pai, avô, ou outro parente, já falou algo sobre a família ser de judeus?
- Alguém da família fala/falava alguma língua desconhecida? Parecia com o espanhol? Era totalmente desconhecida?
- Algum parente evita ou evitava igrejas católicas? As Igrejas, mesmo católicas, que os familiares frequentavam não tinham imagens? As Igrejas tinham divisão, com local para os homens e local para as mulheres ficarem? Qual a relação dos familiares com a igreja católica e com os membros do clero? (uma relação de aversão, ironia, chacota, raiva, desprezo pode indicar origem judaica).
- Alguém da família participava de reuniões secretas, ou de encontros onde só homens ou só os pais podiam ir? Ou de algum grupo de oração secreto?
- Os nomes bíblicos são/eram comuns entre os familiares?
- Era comum o casamento consangüíneo? Tataravós, bisavós, avós, pais ou familiares casaram entre primos e/ou tio com sobrinha.
Ritos de Nascimento e Infância
- Colocar a cabeça de um galo em cima da porta do quarto onde o nascimento iria acontecer.
- Depois do nascimento, a mãe não deveria descobrir-se ou mudar de roupas durante 30 ou 40 dias. Ela deveria permanecer em repouso em sua cama, e afastada do contato com outras pessoas, pois segundo a Lei, a mulher fica impura durante vários dias após um parto (Levítico 12). Parecida com esta prática é a de afastar-se do contato com o esposo no período menstrual, em que também é considerada impura (Levítico 15. 19-33).
- Ainda durante esses trinta dias, a mulher só comia frango, de manhã, de tarde e de noite. Dava “sustância”, força para a recuperação.
- Lançar uma moeda prateada na primeira água de banho do bebê.
- Dizer uma oração oito dias depois de nascimento na qual o nome do bebê é citado. Realizar a circuncisão ou mesmo batizar o menino ao oitavo dia de nascido.
- Acender alguma vela ou lamparina no quarto onde o parto ia acontecer, porque o menino não podia ficar no escuro até ser batizado (ou circuncidado).
- Logo após o batismo, raspar o óleo da crisma e colocar sal na boca da criança.
Ritos Matrimoniais
- Os noivos e seus padrinhos e madrinhas deveriam jejuar no dia do casamento.
- Na cerimônia, as mãos dos noivos eram envoltas por um pano branco, enquanto fazia-se uma oração.
- Da cerimônia seguia-se uma refeição leve: vinho, ervas, mel, sal e pão sem fermento.
- Noivo e noiva comiam e tomavam do mesmo prato e copo.
Refeições
- A prática de jejuns era comum.
- Era proibido comer carne com sangue. Às vezes também se retiravam os nervos, com uma faca especial para tal.
- O sangue caído ao chão no abate do animal era coberto com terra ou mesmo propositalmente derramado todo ao chão e depois coberto com terra.
- A faca usada no abate de animais era testada na unha.
- Ovos com mancha de sangue eram jogados fora.
- Não se comia carne de porco, pois é considerada impura.
- Não era permitido cozinhar carne e leite juntos. Ás vezes esperava-se um tempo entre a ingestão do leite e da carne.
- Comia-se apenas comida preparada pela mãe ou pela avó materna.
- Um menino jejuava durante 24 horas antes de completar 7 anos.
- Costumava-se beijar qualquer pedaço de pão que cai no chão.
- Era proibido comer carne de animal de sangue quente que não tivesse sido sangrado. Havia certas restrições quanto aos tipos de peixe comestíveis: os peixes “de couro” (sem escamas) não serviam para consumo, e às vezes só os peixes do mar podiam ser ingeridos. Moluscos e mariscos também eram proibidos.
Costumes
- Acender velas nas sextas-feiras à noite.
- Celebrar a Páscoa, e jejuar durante a Semana Santa. As datas da Páscoa Cristã e da Páscoa judaica freqüentemente coincidem.
- Limpar a casa nas sextas-feiras durante o dia.
- Era proibido fazer qualquer coisa na sexta-feira à noite (até mesmo lavagem de cabelo).
- Realizar alguma reunião familiar nas sextas-feiras à noite.
- Aos sábados, velas eram acesas diante do oratório e deveriam queimar até o fim do dia.
- Evitar trabalhar aos sábados. Sábado era o dia do banho bem tomado e de vestir roupas novas.
- Dizeres comuns: “O Sábado é o dia da glória”, ou “Deus te crie” (HayimTovim), para quando alguém espirrava.
- Comemorações diferentes das católicas, como o “Dia Puro” (YomKippur) ou algum feriado de Primavera. Era costume de alguns acender no Natal oito velas.
- Quando acontecia algo ruim, rasgavam-se as vestes.
- Um costume ainda muito comum hoje em dia era varrer o chão longe da porta, ou varrer a casa de fora pra dentro, com a crença de que se o contrário fosse feito as visitas não voltariam mais. Na verdade esta prática está ligada ao respeito pela Mezuzah (caixa com texto bíblico), que era pendurada nos portais de entrada, e passar o lixo por ela seria um sacrilégio.
- Pedir a benção para os pais na hora da saída e da chegada em casa. Normalmente ao abençoar um filho, neto ou sobrinho, costumava-se fazer com a mão sobre a cabeça.
- Como o dia judaico começa na noite do dia anterior, o início de um dia era marcado pelo despontar da primeira estrela no céu. Então o sábado começava com o surgir a primeira estrela no céu na sexta-feira. Se uma pessoa demonstrasse alguma reação publicamente com relação a tal estrela, ela seria alvo de suspeitas. Um adulto consegue conter-se, mas uma criança não. Então ensinava-se às crianças a lenda de que apontar estrelas fazia crescer verrugas nos dedos.
- Tradição de seguir as fases da lua (Salmo 104.19), correlacionando com o ciclo agrícola.
- Deixar restos de grãos nas lavouras para os pobres.
- Tradição de não jogar alimentos fora e aproveitar tudo.
- Prática de usura (empréstimos com juros), tanto em dinheiro como objetos e coisas. Atração pelo comércio e por pedras preciosas (ex: ouro e prata). Destaque pelo excesso de trabalho, ganância e inteligência.
- Mantinham-se unidos e transmitiam as tradições familiares aos filhos. Os filhos eram educados e recebiam educação religiosa (costume antigo, com fim de despistar inquisidores). Em geral eram religiosos, com fé, mas sem santos e imagens.
- Antes de beber, jogar um pouco de bebida para o santo (tradição com origem no vinho derramado para Elias no ritual de Pêssach, a Páscoa Judaica).
- O uso de barba cerrada sempre foi um costume judaico.
- Uso de expressões como “Que massada” (uma fortaleza judaica que foi destruida), ou “pagar a siza” (sizá é imposto em hebraico) ou “fazer mezuras” (reverência à mezuzah). Ainda expressões como “a carapuça serviu”, que é referência aos chapéus usados por judeus na Idade Média para diferenciar dos não judeus.
- Lavar as mãos antes de refeições, seja por pureza ou higiene.
- Uso de objetos como Estrela de Davi (estrela de 6 pontas), usada em paredes e em jóias, algumas vezes era vista como amuleto.
Ritos Fúnebres
- Cobrir todos os espelhos da casa.
- Toda a água da casa do defunto era jogada fora.
- Cortar as unhas do defunto como também alguns fios de cabelo e envolver tudo em um pedaço de papel ou pano.
- Lavar o corpo de um morto. Normalmente com água trazida da fonte em um recipiente novo, que nunca tenha sido usado, e vestir o corpo em roupas brancas, as mortalhas.
- O corpo era velado durante um dia, e então uma procissão levava-o à igreja e de lá ao cemitério.
- Jogar um punhado de terra sobre o caixão, quando esse era descido à sepultura.
- A casa então era lavada.
- Durante uma semana manter-se-ia o quarto do finado iluminado.
- A casa da família enlutada fechada ao máximo, durante uma semana, com incenso queimando pelos cômodos. Quase ninguém entrava ou saía durante esse período.
- Os homens não se barbeavam durante trinta dias.
- Manter o lugar do defunto à mesa, encher o prato dele ou dela e dar a comida a um mendigo.
- Não comer carne durante uma semana depois de uma morte na família.
- Jejuar no terceiro e oitavo dia e uma vez a cada três meses durante um ano.
- Colocar comida perto da cama do falecido.
- Fazer a cama do falecido com linho fresco e queimar uma luz perto dela durante um ano.
- As parentes mulheres deveriam cobrir suas cabeças e esconder as faces com uma manta.
- Ir para o quarto do defunto por oito dias e dizer: "Que Deus te dê uma boa noite. Você foi uma vez como nós, nós seremos como você".
- Passar uma moeda de ouro ou prata em cima da boca do defunto, e então dá-la a um mendigo. Passar um pedaço de pão em cima dos olhos do defunto e dá-lo a um mendigo.
- Dar esmolas em toda esquina antes da procissão funerária chegar ao cemitério.
- Ter várias luzes iluminando em véspera de Dia Puro, em memória do defunto.
- Em algumas cidades havia o chamado “abafador”, que deveria ajudar alguém gravemente doente a ir embora antes que um médico viesse examiná-lo e descobrisse que o enfermo é judeu. O abafador, a portas fechadas, sufocava o doente, proferindo calmamente a frase “Vamos, meu filho, Nosso Senhor está esperando!”. Feito o trabalho, o corpo era recomposto e o abafador saía para dar a notícia aos parentes: “ele se foi como um passarinho...”.
- Jurar pelo descanso de um morto querido ou pela alma da mãe ou do pai.
Os portugueses têm o estranho costume de não “cruzar” apertos de mão. Isto é, quando quatro pessoas se cumprimentam simultaneamente, tenta evitar-se que os braços se intersectem durante o aperto de mão, formando uma cruz. Quando confrontados por estrangeiros perplexos, desconhecedores do costume, em regra, os portugueses não sabem explicar a razão de ser desta tradição, relegando-a para a vasta categoria das “superstições populares”.
Na verdade, a origem do estranho gesto remonta aos finais do século XV, altura em que os judeus portugueses foram forçados a converter-se ao catolicismo sob pena de morte. Para muitos, a conversão assumiu apenas um aspecto exterior, continuando o judaísmo a ser praticado dentro de casa, de forma secreta e escondida. Vários historiadores compilaram listas de orações criptojudaicas quinhentistas – algumas sobreviveram até aos nossos dias na comunidade de Belmonte – que denotam uma tentativa de manter viva a ligação ao judaísmo. A mais conhecida será a oração dita pelos cristão-novos/criptojudeus ao entrar numa igreja: “Nesta casa entro mas não adoro pau nem pedra mas sim o Deus que tudo governa, Adonai, Deus de Israel” (in Os Criptojudeus da Faixa Fronteiriça Portuguesa, Eduardo Mayone Dias, 1997).
Da mesma forma, outros gestos quotidianos seriam influenciados por esta necessidade de manter afastados os símbolos da religião que lhes fora imposta à força. A cruz (e os crucifixos) era vista pelos cristãos-novos portugueses como um símbolo aziago e, como tal, a evitar a todo o custo. Segundo David M. Gitlitz, professor da University of Rhode Island, no seu livro Secrecy & Deceit: The Religion of the Crypto-Jews, é neste contexto que judeus portugueses forçados ao catolicismo começam a evitar cruzar braços quando apertam a mão a alguém, afirmando que o gesto “dá azar”. O mesmo costume alargou-se também à representação acidental da cruz à mesa, evitando cruzar facas e garfos.
A assimilação dos judeus forçados à conversão, que ocorreu nos séculos posteriores, levou à propagação da prática, tornando-a parte do subconsciente colectivo nacional – chegando mesmo a implantar-se também em algumas regiões do Brasil, onde durante o período colonial existiram comunidades significativas de cripto-judeus, nomeadamente no Recife e na Bahia.
Hoje, ironicamente, o mais católico dos católicos continua a evitar “fazer cruzes” quando aperta mãos, desconhecendo que o gesto surgiu como resistência, e mesmo rejeição, ao catolicismo imposto à força aos judeus portugueses no século XV.
Na verdade, a origem do estranho gesto remonta aos finais do século XV, altura em que os judeus portugueses foram forçados a converter-se ao catolicismo sob pena de morte. Para muitos, a conversão assumiu apenas um aspecto exterior, continuando o judaísmo a ser praticado dentro de casa, de forma secreta e escondida. Vários historiadores compilaram listas de orações criptojudaicas quinhentistas – algumas sobreviveram até aos nossos dias na comunidade de Belmonte – que denotam uma tentativa de manter viva a ligação ao judaísmo. A mais conhecida será a oração dita pelos cristão-novos/criptojudeus ao entrar numa igreja: “Nesta casa entro mas não adoro pau nem pedra mas sim o Deus que tudo governa, Adonai, Deus de Israel” (in Os Criptojudeus da Faixa Fronteiriça Portuguesa, Eduardo Mayone Dias, 1997).
Da mesma forma, outros gestos quotidianos seriam influenciados por esta necessidade de manter afastados os símbolos da religião que lhes fora imposta à força. A cruz (e os crucifixos) era vista pelos cristãos-novos portugueses como um símbolo aziago e, como tal, a evitar a todo o custo. Segundo David M. Gitlitz, professor da University of Rhode Island, no seu livro Secrecy & Deceit: The Religion of the Crypto-Jews, é neste contexto que judeus portugueses forçados ao catolicismo começam a evitar cruzar braços quando apertam a mão a alguém, afirmando que o gesto “dá azar”. O mesmo costume alargou-se também à representação acidental da cruz à mesa, evitando cruzar facas e garfos.
A assimilação dos judeus forçados à conversão, que ocorreu nos séculos posteriores, levou à propagação da prática, tornando-a parte do subconsciente colectivo nacional – chegando mesmo a implantar-se também em algumas regiões do Brasil, onde durante o período colonial existiram comunidades significativas de cripto-judeus, nomeadamente no Recife e na Bahia.
Hoje, ironicamente, o mais católico dos católicos continua a evitar “fazer cruzes” quando aperta mãos, desconhecendo que o gesto surgiu como resistência, e mesmo rejeição, ao catolicismo imposto à força aos judeus portugueses no século XV.
ruadajudiaria.com
1 comentário:
É com curiosidade que leio os textos de Desenvolturas & Desacatos e foi com curiosidade que li êste trecho a respeito dos judeus portugueses,pois eu gosto imenso de História.Mas o que tenho a dizer é que o Deus criado pelo Homem à sua imagem e semelhança e a respectiva e maldita Religião bíblico-judaico-cristã que foi concebida segundo os seus interesses,tem sido e continua sendo motivo de guerras,de barbaridades sem nome desde há milhares de anos.
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