O NATAL E OS COITADINHOS |
«Eu não quero receber medalhas, quero justiça na economia, justiça na repartição da riqueza criada, quero emprego com direitos para gerar essa riqueza, quero que a dignidade do homem seja mais valorizada que os mercados, quero que o interesse colectivo e o bem comum tenham mais força que os interesses de meia dúzia de privilegiados.»
Aproxima-se o Natal, há que burilar o verbo amar nos corações, exercitar os bons sentimentos com genuflexões de alma, embeber-se de piedade pelos pobrezinhos, os pretinhos, os velhinhos, os aleijadinhos, olhar todos os “inhos” com os olhinhos que reflectem os seus espiritozinhos. Coitadinhos!...
Dizer às crianças que o Pai Natal não tem brinquedos para todos os meninos nomeadamente os mais carenciados (belo eufemismo!) o que é para eles uma injustiça dado que o menino Jesus ainda não tinha aberto os olhinhos já os Reis Magos o presenteavam com ouro, incenso e mirra, o que lhe permitiu um bom pé-de-meia e bom cheirinho. Coitadinho!...
Claro que as crianças não conseguem entender porque é que o Pai Natal só tem brinquedos para os meninos que já não sabem que fazer a tudo o que possuem, obrigando os seus papás a malabarismos de linguagem para lhes explicar tão grande aberração; ou bênção? Coitadinhos!...
E porque são todos muito bonzinhos, os paizinhos, para colmatar tamanha injustiça, - ou justiça divina, vá lá saber-se - irão com os seus rebentos vasculhar nos gavetões, sótãos e saguões, procurando entre a tralha o que não servindo, serve aos filhos dos desempregados. Coitadinhos!...
Entretanto os funcionários públicos já foram avisados que não devem colocar o sapato na chaminé e muito menos a bota. O natalzinho dos funcionáriozinhos vai ser de chinelo roto. Coitadinhos!...
Começou a agitação nos corações de todos os que gostam muito dos pobrezinhos. Coitadinhos!
A festa natalícia aproxima-se, e há que proporcionar aos pobrezinhos, coitadinhos, a ceia de Natal. Há milhares de meninos que passam fome e os bons corações que explodem de emoção, não vão permitir que os pobrezinhos coitadinhos, não tenham ceia de natal, uma consoada repimpada que os faça esquecer por algumas horas a fome dos dias seguintes.
Milhares de voluntários pedem para os necessitados, gente programada para ter pena dos pobrezinhos uma vez por ano, como se a pobreza fosse um fenómeno cíclico que surge anualmente precisamente pelo natal.
O aviltamento a que são sujeitos os que recebem a esmola, não impressiona esses corações de plástico que, confrontados com a baixeza dos seus gestos, replicam que “é melhor isto que deixar os pobrezinhos sem consoada”. O porquê de haver pobreza é uma questão filosófica de difícil digestão, “pobres sempre houve e sempre há de haver”, Deus assim quer… e depois ainda há o céu que aos ricos é negado. Os pobres têm o paraíso no céu e os ricos na terra. Este é o grande castigo infligido aos ricos e a maior riqueza de que beneficiarão os pobres que serão para a eternidade os senhores do paraíso e arredores.
Um em cada quatro portugueses em risco de pobreza
«Um quarto da população portuguesa encontrava-se em risco de pobreza ou de exclusão social em 2012, situando-se este valor, de 25,3% da população total, em linha com a média da União Europeia, de 24,8%, segundo dados do Eurostat. Relativamente a Portugal, registou-se uma subida de quase um ponto percentual entre 2011 e 2012, com o número de pessoas a enfrentarem risco de pobreza ou exclusão social a subir de 24,4% para 25,3% da população, o equivalente a 2,7 milhões.» por Lusa.
Cid Simões
cheira-me a revoluçãp
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