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segunda-feira, 4 de março de 2013


A GUERRA DOS APACHES

«...vi apodrecer muitos corpos humanos, mas nunca fui capaz de ver a parte a que 
se chama espírito; não sei o que seja; nunca fui capaz de perceber essa 
parte da religião cristã.» 
Jerónimo na sua auto biografia, citada por Manuel João Gomes, Jornal de Letras 25-08-1986


Coisas boas em jornais
Manuel Cintra Ferreira
Expresso, 27-05-1994

Jerónimo (Guiyatle), Apache. 1898. Frank A. Rinehart. Foto de commons.wikimedia.org


«OS PASSAGEIROS de um comboio que cruza o Novo México e o Arizona encontram 
no percurso uma pequena povoação de nome Jerónimo. É um dos muitos vestígios 
que, numa região bem conhecida dos cinéfilos por ser invariavelmente palco de «westerns», 
testemunham a presença do último povo guerreiro a enfrentar a máquina de guerra da jovem nação EUA, 
formada nos territórios dos americanos nativos (Chiricahua Mountains, Chiricahua Peak, Apache Pass, 
etc.), após a sua expulsão por levas sucessivas de emigrantes europeus.
Vindos do Norte, os povos que formaram as várias famílias de apaches 
(que a si próprios se chamavam «dineh», o povo, sendo o termo «apache» 
de criação espanhola, inspirado num vocábulo do dialecto zuni que significava inimigo) 
ocuparam há alguns milhares de anos uma região de fronteiras fluídas, que iam de 
parte do Arizona de hoje até ao Norte do México. O primeiro contacto com 
o «homem branco» fez-se com os «conquistadores» espanhóis, que buscavam as 
sete cidades de Cibola, o mítico El Dorado. Encontro pacífico e, de certo modo, 
proveitoso, na medida em que foram os espanhóis que trouxeram uma das suas 
bases de alimentação e indústria futura, os carneiros, além do cavalo. 
Se as relações rapidamente perderam o carácter pacífico, a norte do Rio Grande 
os conflitos geravam-se apenas com tribos inimigas, os kiowas, em especial, que na 
sua família incluíam também uma tribo de origem apache, adversária dos seus irmãos 
de língua do Sul.

Prisioneiros Apache, a caminho de Fort Marion, incluindo Jerónimo (primeira linha, terceiro da direita), sentados em um barranco fora do vagão
de trem, perto de Nueces Rio, no Texas. 1886. Arizona. Foto de commons.wikimedia.org

Até meados do século XIX. Os apaches encontram os americanos pela primeira vez em 
1848, aquando da guerra destes com o México. É chefe dos apaches mimbrenos 
Dasodahe, a quem os mexicanos deram o nome de Mangas Coloradas. O encontro é 
pacífico, pois aquela guerra nada tem a ver com os apaches. Pacífica é também a 
recepção de uma companhia de dragões americanos (soldados de infantaria) em 1856, 
que cruzavam o Arizona na sua expansão para o Pacífico. Cochise — que mais tarde dirá 
«quando eu era jovem andava por todo este território e nunca vi outro povo além 
dos apaches» — recebe os intrusos de forma cordial. A paz, porém, é breve. 
Atrás dos soldados vêm pioneiros e pesquisadores que ameaçam os índios que se aproximam dos 
seus acampamentos.
Em 1861, Cochise é atraído a uma emboscada para ser preso acusado falsamente de rapto 
de uma criança. 
Evade-se, mas os seus companheiros não têm tanta sorte. Começa então a primeira 
guerra apache, com Mangas Coloradas chefiando os seus, a que se juntam os 
chiricahuas de Cochise. O combate mais importante tem lugar em Apache Pass 
(a 15 de Julho de 1862), em que 300 soldados americanos caem numa emboscada. 
O Governo americano procura utilizar com estas aguerridas tribos a táctica aplicada 
com sucesso nas tribos das planícies: a força e a negociação para os colocar em 
reservas. Em 1863, Mangas Coloradas é assassinado na prisão (espicaçado com 
baionetas em brasa na prisão, Mangas é forçado a reagir, sendo de seguida abatido 
com quatro tiros na cabeça «por tentativa de evasão»). Cochise toma a liderança 
tendo como braço-direito um outro chefe famoso, Vittorio dos Mescaleros. 
Junta-se-lhes outro guerreiro chiricahua que irá dar que falar, Goyathlay, conhecido pelo 
nome espanhol de Jerónimo.

Grupo de Apaches a sul do Arizona, fotografados (antes de 1886) enquanto estavam sendo perseguidos por um terço do 
Exército dos EUA (20.000 homens) e mais 3.000 soldados mexicanos. Esta é a única fotografia existente de uma força 
americana nativa em luta contra o Exército dos EUA. Totalizando cerca de 39 homens, mulheres e crianças, 
este grupo de Apaches incluia Naiche, filho de Cochise (a cavalo) e Jerónimo (em pé na frente de Naiche).  Foto LIFE Archive.

Até 1872 os apaches resistem num território cada vez mais reduzido, explorando a seu 
favor a fronteira  com  o México (a Sierra Madre será em 1885 e 1886 o último refúgio 
de Jerónimo), Nesse  ano, Cochise rende-se graças aos esforços do general 
O.O. Howard e de Tom Jeffords, que tinha a confiança de Cochise. Se tal foi possível 
deve-se também ao impacte que teve na imprensa de Leste o massacre da reserva de 
Camp Grant, em Abril de 1871, quando a população de uma região próxima massacrou 
mais de uma centena de pacíficos apaches aravaipa que ali viviam da agricultura. 
O Presidente Grant quer ver o problema apache resolvido e envia para a região o general 
Crook. A táctica deste militar consistiu na busca de uma alternativa para a solução militar, 
com criação de reservas e tentativas de aproximação aos resistentes para negociações. 
A rendição de Cochise foi o primeiro resultado. Crook recorreu a outro método para 
esta aproximação e combate: o uso de apaches «assimilados». Estes revelar-se-ão 
úteis na campanha de 1873/4 contra os apaches tontos, dirigidos por Delshay, que 
terminou com a morte deste e a sua cabeça exposta à entrada da reserva.
Em 1875 a maior parte dos apaches estão encerrados em reservas, vivendo em 
condições precárias, apesar do esforço de brancos bem intencionados (Jeffords e 
John Clum, responsável pela reserva de San Carlos) e de apaches cansados de guerra, 
como Taza, um dos filhos de Cochise, que toma a chefia da tribo após a morte do pai 
em 1874. Taza não tem o carisma de Cochise e a reserva começa a agitar-se devido às 
dificuldades de vida. Em companhia de Jeffords, Taza vai a Washington interceder 
pelo seu povo junto do Presidente, mas morre de uma febre, levantando suspeitas no 
seu irmão Naiche. Em San Carlos, incapaz de impedir os atropelos às suas tentativas de 
auxílio aos índios, John Clum demite-se. A agitação aumenta e Vittorio evade-se com a tribo de White Spring.

A partir da esquerda: Yahnozah (irmão de Jerónimo), Chappo (filho de Jerónimo), Fun (segundo primo de Jerónimo) 
e Jerónimo, Tombstone, Arizona.  Foto tirada no acampamento antes da rendição ao general George Crook em 27 de 
marco de 1886. Foto encontrada em hem.passagen.se

De 1877 a 1880 decorre a nova «guerra apache», com Vittorio refugiado no México e 
lançando a partir daí mortíferos ataques-surpresa. A 14 de Outubro de 1880 tem lugar 
o massacre de 3 Castillos, desta vez a cargo dos mexicanos. Vittorio morre em combate 
ao lado de 78 apaches. Nana, outro dos chefes, consegue escapar com 30 sobreviventes, 
tomando a direcção da guerrilha. As suas operações provocam agitação nas reservas de 
White Mountain e San Carlos, da qual 
se evadem Jerónimo, Naiche e mais 70, que se refugiam na Sierra Madre. Em 1882, 
Jerónimo regressa a San Carlos e leva consigo outros apaches. Enquanto isso, os soldados
 mexicanos atacam o refúgio matando mulheres e crianças. Jerónimo com os seus 
junta-se a Nana. O general Crook, que entretanto fora enviado para combater os índios 
da planície, regressa em 1882 com ordens para acabar de vez o conflito. Crook consegue, 
ao fim de várias tentativas, chegar a Jerónimo, convencendo-o a render-se, na Canon de 
los Embudos. Jerónimo aceita desde que possam voltar a San Carlos e não irem para 
a Florida. Para sua surpresa, Crook aceita. Porém, o Governo não esteve pelos ajustes, 
e o compromisso de Crook não passou das palavras.
Inicia-se a última fase do drama apache. Descontentes com o resultado, mas também 
manipulados por comerciantes que procuravam um pretexto para correr com os índios, 
embriagando-os e lançando boatos, Jerónimo e Naiche fogem de Forte Bowie com 34 
homens e uma centena de mulheres. Outro chefe, Chato, recusa-se a segui-lo, e será, 
mais tarde, um dos auxiliares do exército na última perseguição ao velho guerreiro. 
Outro será Alchise, um dos filhos de Cochise. A sua evasão leva o Governo a 
demitir Crook; substituindo-o pelo general Nelson Miles. Entre os fugitivos, há também 
dissenções: Jerónimo procura levar o seu povo para a Sierra Madre sem combates, 
o que provoca a separação de outro chefe, Chihuahua, cujos ataques na região serão 
atribuídos a Jerónimo.
Durante 1886, Miles vai utilizar forças incríveis para perseguir o pequeno bando: 42 
companhias do exército americano, 500 batedores, milicianos e não regulares, para além 
dos mais modernos instrumentos de comunicação em uso, enquanto do outro lado 
da fronteira 4000 soldados mexicanos perseguem o mesmo objectivo. Mas, mais uma vez, 
será apenas através de enviados (o oficial Gatewood e dois apaches) que conseguirá chegar 
a Jerónimo.

Jerónimo e Naiche, (filho de Cochise, líder dos Apaches), a cavalo, ladeados por Chappo (filho de 
Jerónimo), à direita 
e um homem não identificado (segurando um bebê). 1881-1885. Local e fotógrafo desconhecidos. 
Foto de otrwjam.files.wordpress.com


Jerónimo rende-se a Gatewood na Sierra Madre e desta vez o seu destino será a Florida. 
Preso o último chefe segue-se a limpeza: todos os apaches, mesmo os colaboradores e 
os pacíficos aravaipas são enviados para os pântanos da Florida em 1886. 
Os velhos amigos dos apaches, Crook, John Clum e Hugh Scott desencadeiam uma 
campanha para ajuda. Agora que o perigo passara, os corações de Leste comovem-se. 
Os aravaipa regressam a San Carlos, enquanto velhos inimigos dos apaches, os kiowas 
e os comanches oferecem ao povo de Jerónimo parte da sua reserva em 1894.
Em Forte Still, em 1909, morre Jerónimo, já uma lenda, mas vivendo os últimos dias da 
venda de postais seus e de recordações aos turistas, deixando uma autobiografia escrita 
em colaboração com S.M. Barrett, e dedicada ao Presidente Theodore Roosevelt 
(apesar de inicialmente proibida pelo War Department), que se encontra editada em 
português pelas edições Antígona. Em 1912, o cinema apoderava-se da sua imagem com o 
filme Geronimo's Last Stand.
Em 1866 o Governo americano promulgara a lei dos Direitos Cívicos reconhecendo 
a igualdade de negros e brancos (em consequência da vitória do Norte). Aos americanos 
primitivos não foi sequer reconhecido o direito de existirem como cidadãos. A política do 
Departamento dos Índios só viria a ser alterada na década de 30 deste século. 
Até então, eram prisioneiros na sua terra. Durante a Primeira Guerra, os americanos 
primitivos que prestaram serviço militar voltaram como prisioneiros para as reservas após 
o conflito.»

Manuel Cintra Ferreira
Expresso, 27-05-1994

Como Jerónimo viu o Cinema


"Particularmente significativa é a  reacção de Jerónimo ao contacto com a civilização 
americana, depois de se ter rendido e submetido ao cativeiro. Os carcereiros levaram-no 
mais de uma vez a assistir e participar em manifestações mais ou menos espectaculares 
e artísticas, ao cinema, à exposição internacional de Saint-Louis, onde pôde vender, 
autografadas, fotografias suas, com o que ganhou muito dinheiro (2 dólares diários, no 
princípio do século, não era pouco). Aqui fica como ele viu o cinema:"  
«Um dia fomos ver um outro espectáculo e, mal entrámos, fez-se noite. 
Era noite a sério, porque senti a humidade do ar; às tantas começou a trovejar 
e a relampejar. Os  relâmpagos eram verdadeiros, porque o estrondo era mesmo 
por cima das nossas cabeças. Protegi-me e quis fugir, mas não sabia como havia 
de sair dali.(...) 
Diante de nós apareceram então pessoas pequenas e estranhas; depois tornei a 
olhar para o ar e vi que as nuvens tinham desaparecido e que brilhavam j
á as estrelas. As pessoas pequenas pareciam levar pouco a sério o que faziam 
e eu fiz troça delas. Mas as pessoas que estavam ao meu lado pareciam fazer troça 
de mim.»
Jerónimo na sua auto biografia, citada por Manuel João Gomes, 
Jornal de 
Letras 25-08-1986

Os últimos guerreiros


Os Apaches, vistos por John Ford. Foto do filme Forte Apache (1948), encontrada em cockeyedcaravan.blogspot

«JUNTAMENTE com os índios das grandes planícies, em especial os Sioux e os Comanches, os Apaches 
são a presença mais frequente no cinema.
Ainda antes do «western» se constituir como género, a figura do seu último chefe, Goyathlay 
(Jeronimo), seria objecto de uma abordagem em Geronimo’s Last Stand (1912). Contudo, a imagem 
que vemos raramente corresponde à realidade, pelo menos até há bem pouco tempo. Os seus intérpretes 
(secundários e figurantes) misturam mexicanos, brancos e índios de outras tribos (John Ford, por 
exemplo, usava os Navajos, tribo próxima, mas culturalmente diferente, para os Apaches de 
A Cavalgada Heróica e Forte Apache). Quanto aos intérpretes principais, quando a história o 
requeria, cabiam geralmente a actores brancos maquilhados, mesmo nos tempos em que começou a 
mudar o olhar sobre o americano primitivo, a década de 50: Jeff Chandler ou John Hodiak, como Cochise, 
Burt Lancaster em O Ultimo Apache, Jack Palance em O Apache Branco, Michael Pate, em Hondo
Rock Hudson (!) em Herança de Honra, mais tarde Chuck Connors no Geronimo de Arnald Laven e 
Charles Bronson como Chato em Desforra Apache. Mesmo o Geronimo de Walter Hill é interpretado 
por Wes Studi, um Cherokee. Foram, aliás, estes «biopics» que marcaram a revisão da imagem 
do Apache no cinema: Cochise aparece em três filmes (A Flecha Quebrada, Cochise, 
Gigantes da Planície), Jerónimo tivera já direito a «biopic» em 1938 (mas na faceta de «inimigo público»), 
Taza em Herança de Honra, Vittorio em Hondo, o agente dos índios John Clum, interpretado por Audie Murphy, em 
As Fronteiras do Orgulho.

A rendição dos Apaches por John Ford em Forte Apache (1948). Foto encontrada em
www.doctormacro.com

De qualquer modo, a imagem do Apache percorre o cinema de Hollywood ao longo de dezenas de 
«westerns», na esmagadora maioria apresentados como irredutíveis selvagens. As excepções encontram-se 
a partir de 1950, mas o olhar sobre eles enferma de uma visão simplista, invertendo de súbito a situação: 
o guerreiro passa a vítima. Se a intenção é «boa», o resultado é o apagamento de uma das suas maiores 
qualidades: o arreigado amor liberdade e a luta implacável que levaram a cabo para a preservar. Esta visão 
«rousseauniana», que marca grande parte dos «westerns» dos anos 50 (de A Última Caçada a 
O Caçador de Indios) e se prolonga nas décadas seguintes (As Brancas Montanhas da Morte, 
O Pequeno Grande Homem), tem algumas surpreendentes excepções que resultam menos das intenções 
dos filmes do que da leitura que deles se faz: Forte Apache (1948), O Apache Branco e 
A Fuga de Forte Bravo ambos de 1953, Ulzana, o Perseguido (1972), podendo-se também ter em 
consideração O Ultimo Apache, de 1954. Os dois últimos, dirigidos por Robert Aldrich, colocam-se já 
fora do que se chamou «apacheria»: são resistentes individuais, sobre os quais é lançado o mesmo olhar 
que depois se deitou aos últimos pistoleiros. O Ultimo Apache fica viciado por um «happy-end» imposto 
pela companhia: Masai (Lancaster) é deixado em paz quando lhe nasce o filho. O argumento original 
terminava com o índio abatido pela patrulha que o perseguia. Ulzana, o Perseguido, é mais irredutível: 
Ulzana lança-se numa guerra privada para recuperar o filho capturado pelos brancos, e o argumento não 
procura justificações ou alibis humanistas.

Dustin Hofman em O Pequeno Grande Homem de Arthur Penn; um outro olhar sobre os índios.
Foto encontrada em www.toutlecine

É também este o olhar de John Ford no filme que primeiro retratou o americano primitivo com dignidade: 
Forte Apache. Se a história do filme é outra, a presença dos Apaches é feita em traços fortes, 
expondo-se as razões que os levam para a luta sem tréguas, e dando-se-lhes a dignidade do guerreiro à 
altura dos seus inimigos.
O Apache Branco, dirigido por Charles Marquis Warren e A Fuga de Forte Bravo, de John Sturges, 
são verdadeiros choques quando hoje se vêem com um novo olhar (foram recentemente exibidos no 
pequeno ecrã). No primeiro não há conciliação possível entre as forças em presença: é uma guerra total. 
Se a posição do filme era (e é) extremamente racista, mostra, porém, que o índio, para combater o 
invasor da sua terra, precisa de conhecer os seus métodos e as suas armas: o chefe, interpretado por 
Jack Palance, vai para a escola dos brancos, não para assimilar a sua cultura, mas para possuir o saber 
para os combater. A acção de A Fuga de Forte Bravo decorre num forte do Arizona durante a guerra entre os Estados, o que significa que as operações de guerrilha dos Apaches são de Mangas Coloradas ou Cochise, revelando uma impecável 
estratégia de divisão e aniquilamento do pequeno grupo de brancos: cercados no deserto, é traçado à 
sua volta um círculo de lanças, que é a «mouche» para as nuvens de flechas rigorosamente disparadas 
das colinas próximas, indo a pouco e pouco abatendo os seus ocupantes. Nestes filmes clássicos, 
sem preocupações de rigor histórico, se encontra, no fim de contas, um maior respeito pelos 
últimos guerreiros que se opuseram aos americanos no interior do território dos EUA.»

Manuel Cintra Ferreira
Expresso,  27-05-1994


«Quando  Usen criou os apaches, criou também o território deles no oeste. 
Deu-lhes sementes, frutos e caça, porque eles precisavam de comer. 
Para se curarem quando a doença os afligia, fez crescer plantas diversas. 
Ensinou-lhes a encontrar estas ervas e o modo de as transformarem em remédios. 
Ofereceu-lhes um clima ameno e o necessário para se vestirem estava ao alcance das suas mãos. 
Assim era no princípio, os apaches e o seu território, este criado para aqueles pelo próprio 
Usen. Quando eles são arrancados do seu território, ficam fracos e morrem. 
Quanto tempo faltará para deixar de haver apaches?» (Jerónimo)


«Se fosse possível realizar este meu desejo, creio que seria capaz de esquecer todas as 
injustiças  que me fizeram na minha velhice e morreria feliz e contente.(...) Se em vida minha 
não se fizer o que peço, se tiver de morrer no cativeiro, desejo que se conceda aos sobreviventes
da tribo apache, quando eu  desaparecer, o privilégio que eles pedem: o  regresso ao Arizona.» 
(Jerónimo)

«...fora do seu ambiente, em Fevereiro de 1909, Jerónimo morreria no cativeiro, sem ver cumpridos 
os seus últimos desejos: o regresso do seu povo, praticamente extinto, ao Arizona natal:  
Não lhe fizeram nenhuma dessas vontades. A bem da democracia.» 

Manuel João Gomes, Jornal de Letras 25-08-1986

Citizen Grave

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