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segunda-feira, 25 de março de 2013


Germanofilia económica


Ainda ante de eclodir a crise financeira provocada por produtos tóxicos que beneficiaram do apoio de ideólogos dos mercados financeiros que agora têm posição de destaque no governo, o mundo debatia a questão cambial. É mais do que evidente que a valorização do euro não teve correspondência na evolução da economia europeia, da mesma forma que todo o mundo sofre com a estratégia chinesa de subvalorização da sua moeda.
  
É óbvio que à Alemanha não interessa qualquer correcção do valor do euro, as suas indústrias exportadoras quase não têm concorrência e uma desvalorização representaria uma perda de riqueza. Sempre que numa economia se desvaloriza a moeda as empresas menos competitivas ganham e as mais competitivas ficam a perder pois a contrapartida em dólares do resultado das suas vendas diminui.
  
A crise financeira provocada pelos Moedas e pelos Borges de Nova Iorque deslocou a atenção dos mercados cambiais para o mercado financeiro. O pânico dos investidores e a necessidade de recuperação das perdas por parte dos agentes do mercado conduziu à crise das dívidas soberanas e a zona euro, sem quaisquer mecanismos de intervenção, era vulnerável a qualquer ataque especulativo. O resultado foram muitos milhões de lucros adicionais conseguidos com uma subida artificialmente exagerada dos juros de dívidas soberanas como a italiana.
  
Novamente a Alemanha não tinha qualquer interesse em partilhar os custos de uma zona euros de que era a grande privilegiada, com o argumento da má gestão dos estados impôs a abordagem liberal aos países do sul para se certificar de que apenas ficaria com os benefícios resultantes de haver uma moeda única. Os prejuízos resultantes da existência dessa moeda deveriam ser compensados com austeridade nos países mais vulneráveis. Se deixaram de ser competitivos então que empobreçam os seus cidadãos, se a moeda não pode ser desvalorizada a bem da riqueza dos alemães então que se condenem os italianos, espanhóis e portugueses à pobreza. De caminho aproveita-se para a Alemanha se vingar dos que ousaram incomodar os seus interesses, os irlandeses devem subir o IRC, os cipriotas devem desmantelar a sua banca.
  
A direita portuguesa, que só é nacionalista quando se fala de Aljubarrota, tem uma forte tendência para a germanofilia, quando tudo corre bem na Europa é muito Atlântica e gosta da América, quando os ânimos aquecem na Europa, seja em consequência do nazismo ou do extremismo da Merkel a direita é germanófila, ao ponto de Passos sempre ter tido ciúmes da relação de Sócrates com Angela Merkel e que explica muita da subserviência governamental em relação aos alemães.
  
É neste contexto que se deve analisar o facto de um ministro das Finanças português que gosta muito pouco de explicar as suas políticas aos portugueses, passar a vida a ir a seminários em Bona e na semana passada ter escrito um artigo publicado no site do ministério alemão das finanças. Na perspectiva do governo português será um motivo de orgulho, para os alemães é uma satisfação ver um governante sujeitar os seus concidadãos a sacrifícios adicionais para assegurar a estabilidade necessário ao aumento da riqueza alemã. Nem o Hitler conseguiu melhor, não há memória de os discursos de Pétain terem sido lidos pelos alemães. O problema é saber quem defende os interesses de Portugal e dos portugueses, ou será que nos vão sugerir que emigremos todos para a Alemanha, usando as mesmas rotas de outros trabalhadores forçados no passado?


O Jumento

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