AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "Pó do tempo"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Impostos e muros



Inês Cardoso* | Jornal de Notícias | opinião

O voto de quem paga mais impostos deve contar mais? A pergunta assusta de tão perigosa, mas chegou a estar enunciada entre os tópicos de um evento para estudantes de um colégio em Lisboa, entretanto reformulado face às críticas públicas.

A mera sugestão contida na pergunta deveria arrepiar quem a incluiu na divulgação do evento e denota total incapacidade de perceber os princípios de justiça social inerentes ao pagamento de impostos.

Arranca hoje a operação de entrega das declarações de IRS e é óbvia a carga negativa com que a encaramos. Em média, trabalhamos 163 dias só para pagar impostos. É fácil, por isso, procurar argumentos para os diabolizar. São excessivos e mal geridos pelos sucessivos decisores políticos. É injusta a forma como o esforço é distribuído entre a população. É inadmissível a permissividade com que se encaram offshores e se convive com a evasão fiscal.


É tudo verdade, mas é igualmente certo que a relação com os impostos tem tanto de político e ideológico como de compromisso individual. A primeira parte da equação resolve-se nas urnas e na responsabilização de quem gere os cofres públicos e traça as políticas fiscais. A segunda define-nos como cidadãos com sentido (ou não) do dever comum.

À conta dos excessos de Donald Trump e da incapacidade que a Europa tem demonstrado no acolhimento de imigrantes, tem-se falado muito de muros. Mas a intolerância tem muitas formas, nem sempre evidentes nem físicas ou territoriais. Erguemos muros raciais, de diferenças de género, de clivagem na ideologia política. E, mais impercetíveis ainda, muros com que procuramos proteger o nosso dinheiro, o nosso conforto e o nosso individualismo. Podemos apontar desculpas esfarrapadas para nos justificarmos, mas todas as variáveis dos muros acabam por nos afastar dos outros. Só nos fazem mais pequeninos.

*Diretora-adjunta
paginaglobal.blogspot.com

Sem comentários: