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segunda-feira, 1 de abril de 2019

“O que poupamos nos passes paga a escola da nossa filha”






expresso.pt



Ir todos os dias de Setúbal para Lisboa de transportes públicos poderia custar 158 euros por mês até esta segunda-feira. Com a entrada em vigor das novas tarifas, a 1 de abril, o mesmo passe custa agora 40 euros e passa a incluir todos os transportes da Área Metropolitana de Lisboa (AML). Também na Área Metropolitana do Porto (AMP) as novas tarifas arrancam esta segunda-feira.

Natacha Costa, 39 anos

Vive em Setúbal e trabalha em Lisboa
Trajeto diário: Setúbal-Lisboa-Setúbal
Passe anterior: €123
Passe atual: €40


Natacha e o marido vivem em Setúbal e trabalham em Lisboa. Ela na Praça de Espanha, ele perto da Alameda. Todos os dias de manhã, até hoje, a logística era esta: levantavam-se às 5h40, acordavam a filha de quatro anos às 6h15 e saíam de casa às 6h45, de carro, para deixarem a criança com a avó que depois a leva à escola. “É tão cedo que não dá para sermos nós a deixá-la, nem daria para pagar o complemento para que a aceitassem mais cedo na escola”, conta a mãe. Depois vem o caminho para Lisboa: Natacha pagava €123 pelo passe de autocarro da TST (Transportes Sul do Tejo) e o marido mais €158 pelo combinado Fertagus-Carris-Metro. Eram €281 por mês que passam agora a €80.
“Os novos preços alteram bastante a nossa vida. 

O que poupamos nos passes paga a escola da nossa filha. São 200 euros. Além disso, vamos passar a poder sair de casa mais tarde e a escolher o meio de transporte, seja um dia o autocarro, noutro dia o comboio”, diz Natacha Costa, 39 anos, que há já três anos faz diariamente o trajeto de Setúbal para Lisboa. “Vou poder começar o dia com menos stress porque deixo de estar dependente daquele autocarro àquela hora.” E, feitas as contas, são menos 2 mil euros ao fim de um ano.


É precisamente nos passes de quem vem de mais longe, como Setúbal, que a diferença de preço mais se sente. Segundo dados da Câmara Municipal de Lisboa, todos os dias entram 370 mil carros em Lisboa e só da Margem Sul são cerca de 104 mil, três em cada quatro através da Ponte 25 de Abril. E estima-se que estes novos preços venham também a ter impacto no número de automóveis a entrar em Lisboa, ao atrair mais pessoas para os transportes públicos.
João Carlos Santos
Mas há que olhar para o resto. “Em 2016, comecei por usar o comboio da Fertagus para ir para Lisboa, mas os horários eram um problema, sobretudo ao fim do dia. A partir de certa hora, só tinha um comboio direto para Setúbal de 30 em 30 minutos, portanto só o conseguia apanhar mais de uma hora depois de ter saído do trabalho. Chegava demasiado tarde a Setúbal para ir buscar a minha filha à escola.”


Desistiu do comboio, que lhe custava cerca de 120 euros por mês. Passou a comprar o passe combinado: ia de autocarro pela ponte Vasco da Gama até à Gare do Oriente onde depois apanhava o Metro. Mas as despesas mensais do casal só com transportes ultrapassavam os €300. “O meu marido não tinha alternativa a ter o passe combinado e eu acabei por optar ficar só com o passe de autocarro que custava €123. Tenho é de apanhar o das 7h da manhã e vir pela ponte 25 de Abril. Mas poupei 40 euros.”


A partir desta semana passa a poupar ainda mais e a ter mais flexibilidade. “A medida é muito boa e há já muito tempo que os transportes de entrada em Lisboa exigiam uma solução. Mas a verdade também é que o aumento da procura que se prevê para os próximos tempos vai exigir de certeza alguns ajustes”, defende.
João Carlos Santos

Aurora Almeida, 43 anos

Vive em Almada e estuda em Lisboa em regime pós laboral
Trajeto (três vezes por semana): Almada-Lisboa-Almada
Carro: €200/mês


Três vezes por semana, ao fim do dia, Aurora Almeida tem de fazer o trajeto de Almada para Lisboa para ir às aulas na Cidade Universitária. Está a um ano de acabar a licenciatura e concilia a faculdade com o trabalho em Almada, perto do local onde mora. “Neste momento vejo-me obrigada a ir de carro para Lisboa mas os custos são incomportáveis”, conta a técnica administrativa de 43 anos.

“Já tentei ir de transportes públicos e até tenho um autocarro da TST que me dava jeito, mas o último a sair da Cidade Universitária em Lisboa para a Margem Sul é às 20h20”, aponta. E o problema está nessa dependência: se não chegar a tempo de o apanhar, não lhe resta outra alternativa senão comprar bilhetes avulsos para o Metro, comboio e autocarro para poder chegar a casa. “Pior ainda é que muitas vezes chegava a horas para o apanhar e ele era suprimido. Portanto, acabei por decidir ir de carro. E o pior é que, nesses dias, para chegar a horas às aulas, tenho de levar o carro de manhã para o trabalho.”

Aurora aplaude a redução do preço dos passes que poderia permitir-lhe poupar cerca de 160 euros por mês, tendo em conta os €200 que gasta com o carro. “Já imaginou o que seria essa poupança durante mais um ano inteiro na faculdade?”, questiona.
Só que o preço não lhe resolve o problema. “Se esta medida não vier acompanhada por mais transportes e de forma mais regular não me serve de muito. Vou carregar o meu cartão com algumas viagens só para experimentar. Se o autocarro voltar a falhar, não me compensa comprar o passe.”

Apesar de as novas tarifas entrarem agora em vigor, o novo mapa da rede rodoviária de transportes só estará a funcionar em pleno em 2020, que através do aumento das carreiras em certos períodos do dia ou da semana ou da extensão da rede. Segundo o vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Miguel Gaspar, um grupo de trabalho da AML e as operadoras de transporte estarão a acompanhar a evolução da procura dos transportes e a fazer os ajustes necessários.

Tânia Nunes, 46 anos

Vive em Algueirão (Sintra) e trabalha em Lisboa
Trajeto diário: Algueirão-Lisboa-Algueirão
Passe anterior: €49 (€150 na família)
Passe atual: €40 (€80 na família a partir de julho)


O trajeto de casa para o trabalho é simples: vive perto da estação de Algueirão, na linha de Sintra, e sai na última estação, o Rossio, onde trabalha. “Apesar de viver perto da estação, normalmente vou de carro porque me dá jeito tê-lo ali ao fim do dia. Por volta das sete da manhã estaciono-o facilmente e não há parquímetro”, conta Tânia Nunes, 46 anos.

Até hoje, pagava €49 mensais, a partir de agora passa a poupar €9. “A diferença direta até nem é muito grande, mas como acabava por comprar à parte alguns bilhetes de Metro, sempre vou poupar mais do que nove euros por mês.”

Mas em casa há mais despesas com transportes: ao seu passe de comboio junta-se o do marido (mais €49) e o da filha (€52 euros, pelo combinado com a Carris para quem tem menos de 23 anos). Feitas as contas, até agora eram 150 euros em transportes que passam agora a ser €110 - mas só até que entre em vigor o passe-família (Navegante Metropolitano Família), que permite a cada agregado, independentemente do seu tamanho, pagar um máximo de €80 por mês.

“Sem dúvida que estamos a pensar comprá-lo porque é uma poupança de €70 em relação ao que pagávamos até agora. A minha filha mais nova ainda não anda de autocarro, mas ao fim de semana passamos todos a poder usar o comboio para ir até Lisboa ou Sintra, por exemplo”, explica.

Ao contrário dos restantes passes, em vigor a partir desta segunda-feira, o passe-família só vai estar disponível em julho. “Por questões técnicas, necessita de ser operacionalizado para ser simples e ser desburocratizado”, explicou em março o presidente da CML, Fernando Medina.

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