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Nuno Serra Sanches Osório, que pertenceu à anterior administração da CP (entre Abril de 2015 e Junho de 2017), onde tinha a seu cargo o pelouro financeiro, participou no processo de privatização da CP Carga, hoje Medway, empresa para a qual está a trabalhar desde Março deste ano.
O gestor entrou na CP em Abril de 2015 para substituir Isabel Vicente, que tinha batido com a porta, incompatibilizada com a sua colega da administração Cristina Dias e o então secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro. Em causa estava uma divergência sobre o modelo de privatização da EMEF (que não chegou a concretizar-se).
Sanches Osório, que é próximo do CDS, foi então escolhido para dar continuidade à venda da CP Carga e da EMEF. O grupo suíço MSC haveria de ser o vencedor, acabando por ficar em Setembro de 2015 com a empresa de transporte de mercadorias da CP, cujo nome viria a mudar para Medway.
A administração da CP, então presidida por Manuel Queiró (o qual nunca foi favorável às privatizações do grupo CP) só duraria mais dois anos, tendo Sanches Osório sido administrador entre Abril de 2015 e Junho de 2017. Em Março de 2018 ingressaria nos quadros do grupo MSC, detentor da antiga CP Carga.
Contactado pelo PÚBLICO, o gestor não quis fazer nenhum comentário, limitando-se a referir que não houve nenhum impedimento legal e que só entrou na Medway “dois anos depois, que foi o tempo suficiente para que não houvesse qualquer tipo de problema”.
Para José Reizinho, da Comissão de Trabalhadores da CP, este é apenas mais um caso, entre outros, que fazem parte de um projecto mais vasto que é destruir a CP. “Vêm para aí, fazem o trabalhinho que lhes é encomendado por quem os nomeia, que é o Governo, e depois ficam a conhecer os meandros do sector e continuam ao serviço dos interesses de quem fica com as empresas que já foram da CP”.
O dirigente recorda o caso de Cristina Dias, que foi administradora da CP e saiu, por vontade própria, da empresa para ir para o regulador (Autoridade da Mobilidade e dos Transportes), tendo recebido uma indemnização de 80 mil euros porque era quadro da empresa. Hoje, supostamente, regula a empresa de onde veio.
No caso da CP Carga, José Reizinho diz que o processo de privatização foi tão apressado que a transportadora pública “ofereceu locomotivas e vagões à Medway”. Sanches Osório tinha o pelouro financeiro e “estava encarregue de fazer esses negócios que foram lesivos para a CP, por isso não me surpreende que ele esteja agora na Medway”.
A privatização da CP Carga foi concluída com um pagamento, por parte, da MSC, de 53 milhões de euros (51 milhões para capitalizar a empresa pública e mais 2 milhões pelas acções), tendo o grupo suíço passado a deter 95% do seu capital. Os restantes 5% pertence ainda à CP e não foi vendido aos trabalhadores, tal como estava previsto.
A MSC ficou ainda com activos no valor de 110 milhões de euros, que eram basicamente a frota de 59 locomotivas da CP Carga. À data a Comissão de Trabalhadores contestou o negócio afirmando que as locomotivas estavam subavaliadas pelo que o negócio era lesivo para a transportadora pública.
Manuel Henriques, advogado, que fez parte durante cinco anos do Conselho de Prevenção da Corrupção, diz que não vê grande diferença entre o caso de Sanches Osório e o de Cristina Dias. “Do ponto de vista legal não vejo qualquer impedimento, mas não me parece que seja uma posição correcta do ponto vista ético. Infelizmente a lei permite-o, mas não deveria permitir”, disse ao PÚBLICO.
O advogado entende que “estas situações não deveriam acontecer porque [Sanches Osório] participou no processo de negociação da venda de uma empresa para a qual foi trabalhar, mas infelizmente isto é muito frequente, não só no mundo empresarial, mas também no mundo da política”.
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