Governo deu 45 dias para uma inspeção a todas as pedreiras situadas na zona da tragédia.
Dois levantamentos feitos já este ano na pedreira que originou o abatimento de uma parcela da antiga EN 255, que liga Borba e Vila Viçosa, mostram "claramente fraturas a dilatar e, num caso ou noutro, desmoronamentos", avança Carlos Filipe do Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Património.
O historiador acrescenta que "na zona do abatimento foram arrancadas há um mês árvores de grande porte, raiz e tudo" e que "onde não foram arrancadas, a terra não aluiu". A PJ está desde ontem a fazer investigações.
Quanto mais se mexe nesta história, mais se percebe que era uma tragédia anunciada. Carlos Filipe, que coordena um projeto designado Património e História da Indústria e do Mármore, diz que "o que ali se faz, e, de resto, em todas as pedreiras, é uma exploração intensiva, sem qualquer respeito pela natureza".
"A pedra é cortada a direito, provocando toneladas de escombros, sem que nada disto seja fiscalizado".
Carlos Filipe garante que as imagens dos dois levantamentos foram enviadas para a Direção-Geral de Energia e de Geologia. Mas a tragédia aconteceu.
"Estas pedreiras são obrigadas a ter um plano de lavra e uma das condições é terem um engenheiro de minas. Realmente, o nome desses engenheiros costuma constar numa placa, mas o que têm feito eles?", questiona.
A verdade é que esta tendência para a exploração intensiva "nunca foi contrariada pelo Estado e este não tem um controlo direto sobre estas empresas", o que significa que "fica à mercê de uma fiscalização pontual". A verdade é que "não existe uma fiscalização permanente das pedreiras", concluiu.
CASA ROUBADA, TRANCAS...
Agora - após o abate da estrada que provocou duas mortes e três desaparecidos - todos os partidos querem apurar responsabilidades. O CDS-PP, por exemplo, já pediu ao Governo um levantamento de todas as fiscalizações feitas às pedreiras nos últimos anos.
E o BE já requereu, "com a máxima urgência", as audições dos ministros da Economia e do Ambiente.
Já o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, veio garantir ontem que após a fase de recuperação dos corpos das vítimas "haverá o tempo de apurar efetivamente o que terá estado na causa do sucedido".
Entretanto, o Governo determinou que, "no prazo de 45 dias, a Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território tem de proceder a uma inspeção ao licenciamento, exploração, fiscalização e suspensão de operação das pedreiras situadas na zona do acidente".
E ao local da tragédia chegaram já duas equipas da PJ, uma do Laboratório de Polícia Científica e outra com inspetores da Unidade Local de Investigação Criminal de Évora, para investigarem as circunstâncias do acidente.
O funeral de uma das vítimas teve lugar ontem.
Autarca de Borba contradiz-se
António Anselmo, presidente da Câmara de Borba, disse à Lusa que "nunca na vida" foi alertado para a perigosidade da estrada. As declarações contrariam as que deu, em 2014, à Rádio Campanário, quando assumia que "há uma série de estudos que avisam para o perigo da estrada". Ao JN, recusou falar, por agora, sobre "essa questão", porque "no calor do momento podem dizer-se coisas inconvenientes".
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