Vítor Santos* | Jornal de Notícias | opinião
A passagem do maior avião comercial pelo Aeroporto de Beja, no início da semana, além da justificada amplificação mediática, devia servir de tónico para uma reflexão útil, ainda mais numa conjuntura em que o país discute e aprofunda a descentralização.
Que Lisboa precisa de uma alternativa ao asfixiado Aeroporto Humberto Delgado todos sabemos; que essa nova infraestrutura tenha, obrigatoriamente, de nascer às portas de Lisboa, não parece, de forma alguma, consensual, muito menos inteligente.
Na década passada, o Estado investiu dez milhões de euros na reconversão do Aeroporto de Beja para fins comerciais e não me parece que Portugal tenha ganho muito com isso, atendendo a que por ali transitam menos de mil passageiros por ano.
Se a descentralização está em curso, se é prioridade do Governo e um imperativo do país, porque não investir em serviços de transportes rápidos e eficazes entre Lisboa e Beja, em vez de dar como adquirida a necessidade de mais uma obra estruturante crescer junto à fronteira do centralismo? No mínimo, os políticos deviam equacionar esta solução, que também contribuiria para dinamizar um Alentejo tantas vezes esquecido, porque a descentralização não tem de ser feita apenas a norte de Lisboa.
O argumento de que Beja fica longe chega a ser, esse sim, provinciano, visto todos sabermos que estamos a uma hora de Londres quando aterramos em Stansted e a um pouco mais de Paris, quando o fazemos em Beauvais. Ou seja, quando viajamos para o estrangeiro, parece não haver problema nenhum. Este é, no fundo, o problema de uma boa parte dos portugueses, dos que gostam de fazer longas caminhadas junto ao mar, mas que se recusam a andar 20 minutos a pé para apanhar o transporte público, teimando em entupir as cidades com automóveis.
* Editor executivo adjunto do JN
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