A habitação foi a bandeira do agora vereador do BE durante a campanha para as autárquicas. Agora acusam-no de não cumprir o que defendeu para Lisboa.
Se há tema que sempre esteve presente na agenda de Ricardo Robles foi a questão da habitação — e da falta dela a preços acessíveis — na cidade de Lisboa. Fez disso bandeira eleitoral durante a campanha para as autárquicas de 2017, quando era candidato pelo Bloco de Esquerda à câmara da capital. E é também por isso que a notícia de um eventual negócio, envolvendo uma casa em Alfama que lhe pode render mais de quatro milhões de euros, tem provocado tantas reacções que, na sua maioria, criticam a actuação do vereador bloquista, acusando-o de não cumprir o que sempre defendeu para a cidade. Ricardo Robles veio a público garantir que a demissão está fora dos planos, que não despejou ninguém e que procedeu “de forma exemplar com todos os arrendatários do imóvel", considerando que a compra “não foi uma operação especulativa".
Em Setembro de 2017, o BE escolhia o Largo da Severa, na Mouraria, para o arranque das duas semanas de campanha. Na altura, ao lado da líder bloquista, Catarina Martins, discutia-se habitação e Robles condenava a gestão de Fernando Medina na câmara da capital, admitindo que a venda de imóveis municipais tinha contribuído para “a subida dos preços especulativos" das casas em Lisboa.
Antes disso, em Julho, numa entrevista à Rádio Renascença, afirmaraque tinham sido “vendidos 100 imóveis da autarquia entre 2013 e 2015, no valor de 33 milhões de euros”, e que nenhum estava afecto à renda acessível. “A câmara de Lisboa transformou-se numa agência imobiliária que contribui para a especulação na cidade mas que não dá nenhum contributo para resolver o problema da habitação”, disse.
Na mesma ocasião, Robles criticava ainda a concentração do alojamento local em algumas zonas da cidade, dando o exemplo da freguesia de Santa Maria Maior, onde se situa o imóvel que comprou com a irmã, e onde “uma em cada cinco casas estão em regime de alojamento local. “Isto cria uma drenagem de disponibilidade de habitação absolutamente brutal para quem quer viver na cidade e faz subir o preço do arrendamento em flecha, como temos assistido”, disse então.
Em declarações ao Observador, o candidato do Bloco de Esquerda a Lisboa propôs que fossem feitas alterações ao Plano Director Municipal (PDM) para que reflectisse “a obrigatoriedade” de que sempre que houvesse “construção nova ou uma grande intervenção de reabilitação", 25% ou uma percentagem a definir deveria ser reservada para fogos a custos controlados”. “O promotor quando faz uma obra sabe que tem taxas municipais, sabe que tem cedências de espaço público e sabe que tem uma responsabilidade sobre a habitação em Lisboa”, apontava.
Ao pùblico na primeira entrevista que deu depois de ter firmado um acordo político que permitiu a Fernando Medina ter maioria absoluta no executivo municipal, Ricardo Robles voltaria a criticar a gestão socialista, reprovando a estratégia que tinha sido seguida de venda de património camarário sem “garantir que esse património pudesse servir para resolver o problema da habitação”. Os imóveis alienados pela autarquia nos últimos anos, disse, serviram uma “lógica de especulação pura e dura ou para habitação de luxo e dedicada ao turismo.”
Já este ano, em Março, Ricardo Robles defendia numa entrevista ao Diário de Notícias que “o problema da habitação” se tinha agravado em Lisboa. “Os preços continuam a aumentar brutalmente e isto está a criar uma crise social. Encontrar casa, seja para arrendar seja para compra, apesar de o crédito para a habitação estar mais acessível, continua a ser proibitivo”, argumentou. “Esta é uma cidade cada vez mais para ricos e menos para lisboetas e para quem quer viver na cidade, para trabalhar, morar, estudar”, insistiu.
A poucas horas de começar a ser questionada a credibilidade política para continuar como vereador em Lisboa, o dirigente bloquista dizia-se “do lado dos moradores” do Prédio Santos Lima, em Marvila, na luta contra o “bullying e a especulação imobiliária”. Ricardo Robles reagia assim no Facebook a um texto do Esquerda.net sobre o prédio da Rua do Açúcar, onde vivem 17 famílias com contrato de arrendamento que receiam ter de abandonar as casas. Em 2017, o imóvel foi vendido por 2,7 milhões de euros. Agora, está à venda por 7,2 milhões. No final desse mês, no Rock in riot, um protesto contra a gentrificação na capital, publicou no Facebook: o “grito de revolta necessário contra a especulação e o direito de morar em Lisboa não se pode transformar num privilégio para poucos”.
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