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domingo, 4 de fevereiro de 2018

SABIA QUE O EX PRESIDENTE DO URUGUAI JOSÉ PEPE MUJICA FOI GUERRILHEIRO DOS "TUPAMAROS" ?



José Alberto "Pepe" Mujica Cordano  nascido em 20 de maio de 1935) é um político uruguaio que foi o 40º presidente do Uruguai entre 2010 e 2015. 


Ex-guerrilheiro dos Tupamaros , foi preso por 15 anos durante a ditadura militar nos anos 70 e 80. Membro da coalizão da Frente Amplo de partidos de esquerda, 


Mujica foi Ministro de Pecuária, Agricultura e Pescas de 2005 a 2008 e um senador depois. Como candidato da Broad Front, ganhou as eleições presidenciais de 2009 e assumiu o cargo de presidente em 1 de março de 2010.
Ele foi descrito como "o" presidente mais humilde do mundo "devido ao seu estilo de vida austero e sua doação de cerca de 90% de seu salário mensal de $ 12,000 para instituições de caridade que beneficiam pessoas pobres e pequenos empresários. 

OS TUPAMAROS

Nos anos 1960, o Uruguai era conhecido como “Suíça latino-americana”, por ter, entre outras características, um regime democrático relativamente consolidado. Seus dois partidos políticos ocupavam rotativamente o poder e angariavam a predileção dos eleitores: os “blancos” e os ”colorados”. Outros partidos de esquerda, de diversos matizes políticos, nunca obtiveram grande expressão.
O Partido Comunista Uruguaio, fiel à linha política de Moscovo, mantinha-se na legalidade e acreditava na linha pacífica para chegar ao poder, não apoiando nenhuma tentativa de luta armada. Por esse caminho também atuava o Partido Socialista, que depois de 1959 adotara a linha castrista.






Manifestação dos Tupamaros, em Montevidéu. Crédito: Reprodução
Manifestação dos tupamaros em Montevidéu 
O Movimento de Libertação Nacional — Tupamaros (MLN) nasceu em 1962, quando jovens socialistas se indignaram com o trabalho a qual eram submetidos nas plantações de cana-de-açúcar em Bella Unión, no Departamento de Artigas, fronteira com o Brasil. Formaram o Sindicato dos Cortadores de Cana-de-açúcar e pediram a consultoria de um certo estudante de direito que decidiu abandonar a faculdade para ajudar os cortadores. Seu nome era Raúl Sendic, que em pouco tempo se tornaria um dos nomes mais importantes das esquerdas armadas da América Latina.
Sendic liderou, em Montevidéu, marchas e manifestações dos cortadores de cana — trabalhadores que não recebiam salários fixos, moravam em choupanas construídas no meio dos canaviais e trabalhavam até 16 horas por dia. Uma das reivindicações era a desapropriação de 22 mil hectares para distribuir terras aos trabalhadores. Raúl Sendic percebeu que, dentro daquele sistema político, a luta dos cortadores seria infrutífera. Em 1963, rompeu com o Partido Socialista e foi à luta.






José Pepe Mujica, guerrilheiro Tupamaro que passou 15 anos na prisão e posteriormente seria eleito presidente do país. (Foto: Reprodução)
José Pepe Mujica, guerrilheiro Tupamaro: 15 anos na prisão e futuro presidente do Uruguai 
Os tupamaros — nome que homenageia Túpac Amaru, o imperador inca morto pelos espanhóis em 1571 — não acreditavam nas eleições. De base nacionalista, o grupo foi influenciado pela Revolução Cubana, pela Revolução Chinesa e pelos estudos de Régis Debray. Ao contrário, porém, do que pregavam essas experiências, os tupamaros atuavam nas cidades, por dois motivos: primeiro, porque o pampa uruguaio não era refúgio ideal para guerrilheiros; segundo, porque o país era maoritariamente urbanizado.
Em julho de 1963, Sendic e um grupo de jovens roubaram armas do Clube Suíço com o intuito de empreender ações armadas de grande porte. Da Financeira Monty levaram certa de um milhão de dólares. Relatos da época contam que, quando havia clientes na fila dos bancos assaltados, os guerrilheiros ordenavam aos caixas que registrassem cada depósito, pois assim somente o banco arcaria com o prejuízo. Ao povo, os tupamaros se apresentavam como benfeitores: roubavam caminhões de alimentos e os distribuíam nos bairros humildes.






Aloísio Dias Gomide, cônsul brasileiro sequestrado pelos Tupamaros. Crédito: Revista O Cruzeiro
Aloísio Dias Gomide, cônsul brasileiro, no dia de seu casamento. Em 1970, ele foi sequestrado pelos tupamaros 
Com o tempo, os tupamaros começaram a atuar de forma mais violenta. Em junho de 1969, incendiaram a sede da General Motors (GM); em 31 de junho de 1970, realizaram dois sequestros: o policial norte-americano Daniel Anthony "Dan" Mitrione, que ministrava aulas de tortura a agentes uruguaios, e o cônsul brasileiro Aloísio Dias Gomide. Mitrione apareceu morto, amarrado e amordaçado, com dois tiros na cabeça, em 10 de agosto. 

Dias Gomide foi libertado após seis meses de cativeiro.
Em 1973, veio o golpe militar, e os tupamaros entraram em decadência. Nos últimos seis meses de vida da organização, mais de mil militantes foram presos, cerca de 700 só em Montevidéu. Numa autocrítica divulgada na ocasião, o jornal “Correo Tupamaro” anunciou: “Nossas deficiências foram: por um lado, subestimar o inimigo, que era muito mais poderoso do que acreditávamos [...]; por outro, não avaliáramos, em termos justos, a grande capacidade de luta do povo — confiávamos excessivamente nas nossas próprias forças”.






Raúl Sendic, líder dos Tupamaros, um dos principais nomes da luta armada  Revista O Cruzeiro da América Latina
Raúl Sendic, líder dos tupamaros 
memorialdademocracia.com.br
Lucia e Pepe Mujica, amor e guerrilha
Uma história latino-americana. Como dois guerrilheiros tupamaros, que nem sabiam os nomes recíprocos, mantiveram, por doze anos, um romance nas masmorras da ditadura uruguaia. Por Victor Farinelli, na Rede LatinAmérica
Primavera de 1973. Ela não se chamava Ana, mas era assim que todos a conheciam. Ana, a guerrilheira, detida numa prisão militar feminina, construída especialmente para mulheres da guerrilha tupamara, nalgum lugar desconhecido no interior do Uruguai, com uma carta na mão, que era de Emiliano, ou Ulpiano, ou seja lá qual fosse o seu verdadeiro nome.
Em junho daquele ano, o fim do MLN-T (Movimento de Libertação Nacional, também conhecido como Tupamaros), foi um dos episódios que marcou o início da ditadura uruguaia, e levou centenas de jovens revolucionários à prisão, quinze deles como reféns de guerra. Ulpiano era um deles. Se os tupamaros ainda livres voltassem a atuar, ele seria fuzilado.
Um torturador pontapeia as grades da cela, enquanto ri jocosamente e relembra as últimas humilhações, de diferentes tipos, que a fez sofrer. Ana continua a ler a carta. Ele insiste:
– És a nossa preferida, bebé. Vais ficar aqui milhares de anos.
A raiva fá-la apertar o papel nas suas mãos até quase rasgá-lo:
– Olha, daqui a doze anos eu vou sair daqui e viver a minha vida. Você viverá com o fantasma dessas perversões, atormentando até ao dia da sua morte.
Enquanto ele aumentava o volume das gargalhadas, Ana buscava algo onde escrever uma resposta. Precisava contar a sua verdade, que o seu nome não era Ana, que era filha de uma família de classe média de Pocitos, bairro nobre de Montevidéu. Tinha uma irmã gémea, tinha uma família enorme, sofria pelas saudades e pelo medo, mas não medo da morte, era o único medo que não tinha, pois bastava-lhe a certeza de sair dali e para se encontrar com ele.
Lucía TopolanskyLucía Topolansky
Dias depois, o seu advogado forneceu-lhe papel, caneta e a grande coincidência das suas vidas. Ele era casado com a advogada de Ulpiano. Os dois nada podiam fazer pelos dois guerrilheiros. Livrá-los da prisão no meio a uma ditadura era impensável. Mas puderam ser um casal de carteiros, trabalhando por um amor que lutava para sobreviver.
Dois prisioneiros a viver um típico amor tupamaro. O MLN surgiu em meados dos anos 60, fundado por um grupo de estudantes socialistas que queriam fazer a revolução no Uruguai. Diferente das guerrilhas urbanas de outros países, os tupamaros começaram a atuar antes de instalada a ditadura. A vida na clandestinidade impedia que houvesse relações fora da organização e não se podia saber o verdadeiro nome da pessoa amada. O amor deles nasceu quando ela se chamava Ana e ele Ulpiano, e não importava a verdade.
Amor que nasceu com um passo para fora da prisão. Ela, uma estudante de arquitetura com talento para a falsificação de documentos, fazia-lhe uma identidade falsa, e assim se conheceram. Ana tinha um namorado que também era do MLN, chamava-se Blanco Katrás, que meses depois seria capturado junto com ela. Ana só passou alguns meses na cadeia, mas Blanco seria executado pela polícia uruguaia. “Não era o primeiro namorado que eu perdia naquelas condições, e naquela altura, já tinha visto muitos outros companheiros morrerem. Não há tempo para sentir pena quando é preciso salvar a própria pele”, pensava Ana, libertada em 1972, antes de encontrar refúgio na mesma cave em que estava escondido Ulpiano – na época, um dos homens mais procurados do país.
A caça aos tupamaros no Uruguai passou a ser mais intensa nos anos 70, com a ajuda dos Estados Unidos. Os tupamaros sequestraram e assassinaram um agente do FBI, em agosto de 1970 (Dan Mitrione, que anos antes esteve no Brasil, ensinando técnicas de tortura aos militares). Ulpiano era acusado de fazer parte dessa operação – que é narrada pelo filme “Estado de Sítio”, de Costa Gravas.
Ninguém sabe se foi aí, no ocaso do movimento tupamaro, quando viviam de cave em cave pelos bairros do centro velho de Montevidéu, que começou a história de amor de Ana e Ulpiano. “Eles passaram a andar juntos na época mais dura, quando nem sempre havia um teto. Às vezes, era preciso dormir em pântanos fora do perímetro urbano da cidade. Talvez a relação, digamos, física, não tenha começado nessa época, mas com certeza o carinho mútuo sim”, relata Henry Engler, um ex-tupamaro, amigo pessoal de Ulpiano.
O pouco que se sabe sobre o começo da relação é que eles se tornaram imprescindíveis um para o outro nesses últimos meses do MLN, antes do fim definitivo da organização, em junho de 1973. Ambos foram presos. Ana foi levada a uma prisão de mulheres. Ulpiano tornou-se refém, ficava numa solitária, sob ameaça de morte se algum ex-companheiro voltasse a atuar
Tentaram trocar correspondências entre si para sobreviver, com a ajuda dos advogados-carteiros. Ela se confessou, disse que se chamava Lucía, Lucía Topolansky, e que sonhava em sair dali e encontrá-lo. Ele respondeu com a sua própria revelação: “o meu nome é José Alberto Mujica”.
A carta-desabafo de Pepe Mujica, ex-Ulpiano, era a mais bela carta de amor de todos os tempos, segundo as companheiras de presídio de Lucía – “era toda sentimentalona, como todas as coisas do Pepe”, segundo María Elia Topolansky, irmã gémea de Lucía, também ex-tupamara. Passou por todas as mãos e fez sucesso até entre os carcereiros – “naqueles anos, cada carta que chegava era para todas”, conta Lucía, sobre a falta de ciúmes com o bilhete.
José MujicaJosé Mujica
Diz a lenda que a ternura das palavras de Mujica amoleceu as restrições que havia para correspondência entre presos, e assim eles puderam trocar mais cartas que os demais casais tupamaros separados entre prisões.
Essa situação durou exatamente os doze anos que Lucía deu de prazo ao seu torturador, até que o seu amor renasceu como na primeira vez, com um passo para fora da prisão. No dia 14 de março de 1985, ela e a irmã gémea saíram da cadeira e foram para a enorme casa da família – no mesmo dia em que Pepe foi libertado, depois de onze anos na solitária, “conversando com os ratos e agarrado na esperança”, segundo ele mesmo. “No dia seguinte, Lucía foi-se embora, foi morar com o Pepe, e nunca mais voltou”, conta María Elia Topolansky.
Desde então, vivem juntos numa quinta de um bairro de classe baixa, na periferia de Montevidéu. Começaram por cultivar flores e vendê-las no mercado municipal, mas sem esquecer os ideais políticos. Pepe candidatou-se e foi eleito deputado em 1995. Em 2000, passou a ser senador, e Lucía deputada. Em 2005, ela foi eleita senadora, e nesse mesmo momento, trinta anos depois do começo da relação, vinte anos depois de começarem a viver juntos, decidiram formalizar o matrimónio. Cinco anos antes de Pepe assumir como presidente do Uruguai.
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Ana, La Guerrillera
A melhor forma de mergulhar na história de amor de Pepe Mujica e Lucía Topolansky, e também na história dos Tupamaros, é mergulhar na história dela. Por isso os jornalistas e historiadores uruguaios Nelson Caula Alberto Silva escreveram o livro “Ana, La Guerrillera”(link is external), que traz detalhes de tudo o que se contou neste tópico e muito mais episódios sobre a criação do MLN, a vida na clandestinidade e a disputa política que levou o Uruguai à sua mais recente ditadura.
Depois do golpe de Estado de 27 de junho de 1973, os militares mantiveram na prisão os dirigentes tupamaros Raúl Sendic, Eleuterio Fernández Huidobro, Mauricio Rosencof, José Mujica, Adolfo Wasem, Julio Marenales, Henry Engler, Jorge Manera e Jorge Zabalza, na qualidade de reféns e como troféus de guerra durante todo o tempo que durou a ditadura, quer dizer, até 1985. Os dirigentes tupamaros ficaram reclusos em condições infrahumanas de contínua tortura, em quase total incomunicação (comprovadas posteriormente por organismos como a Cruz Vermelha Internacional) e sob a ameaça de serem executados se houvesse alguma ação do MLN-T, qualquer que fosse. 

(Wikipedia(link is external))

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