José Afonso - "Grândola, Vila Morena"
“A música do Zeca já está tão digerida na memória que se puseres um disco a tocar e beberes uns copos com os amigos vais ouvir o que tens na memória, não chegas a ouvir o disco.” Quem o dizia era B Fachada, à conversa com a Time Out, há três anos. Há poucas canções onde isto se sinta tanto como em "Grândola, Vila Morena". Quase toda a gente acha que sabe cantá-la, mas poucos sabem a letra de uma ponta à outra, e menos ainda ouvem, de facto, esta canção arrepiante e circular com direcção musical de José Mário Branco.
Adriano Correia de Oliveira - "Trova do Vento Que Passa"
Magnífica balada composta por António Portugal, a partir de um poema de Manuel Alegre. Ao longo dos anos esta crítica discreta à ditadura salazarista, ao mesmo tempo pesarosa e carregada de esperança, foi gravada por muita gente, do Quarteto 1111 a Amália Rodrigues. A versão definitiva, porém, vai ser sempre a primeira, cantada por Adriano Correia de Oliveira em 1963.
José Mário Branco - "Queixa das Almas Jovens Censuradas”
José Mário Branco ergueu uma grande canção sobre este poema de Natália Correia a que emprestou a voz e o génio. Uma denúncia, tão lúcida como desiludida, do conformismo e mediocridade promovidos pela ditadura e um dos pontos altos do seu álbum de estreia de 1971, Mudam-se Os Tempos, Mudam-se as Vontades.
Luís Cília - “O Povo Unido Jamais Será Vencido”
Escrita por Sergio Ortega Alvarado e os Quilapayún antes do golpe de estado fascista (patrocinado pelos Estados Unidos) que depôs Salvador Allende, em 1973, “El Pueblo Unido Jamás Será Vencido” tornou-se um dos hinos da resistência chilena e da esquerda internacional. Em 1974 a banda chilena, na altura exilada em França, acompanhou Luís Cília, que também vivera em França durante a ditadura salazarista, nesta versão portuguesa da canção.
Fausto - "O Patrão e Nós"
O segundo álbum de Fausto Bordalo Dias, P’ró Que Der e Vier, é maravilhoso. Um disco combativo e politicamente empenhado, gravado em 1974 e sem medo de chamar os bois pelos nomes. Poucas canções são tão directas como "O Patrão e Nós", com versos duros e honestos como: “Tem um banco e muitas fábricas/ Tem nome de patrão/ Mas agarra que é ladrão/ Não faz falta e é cabrão”.
Francisco Fanhais - “Letra Para Um Hino”
Gravado em Roma, em 1975, o disco República nunca foi editado em Portugal. E é uma pena. José Afonso e Francisco Fanhais participaram neste registo de solidariedade para com o jornal República, com inéditos, versões de outros artistas e do seu próprio repertório. Canções de primeira água como esta “Letra Para Um Hino”, escrita por Manuel Alegre antes da revolução de Abril, mas intemporal.
Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo - “Companheiro Vasco”
“Força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço”, prometiam Maria do Amparo e Carlos Alberto Moniz no lado B do single “Daqui o Povo Não Arranca Pé!”, de 1975. Um hino revolucionário pueril e ultimamente inconsequente, mas inspirador. Que vale sobretudo pela exaltação do militar de Abril e primeiro-ministro responsável por medidas como a reforma agrária e as nacionalizações dos principais sectores económicos.
Jorge Palma & Fernando Girão - “O Pecado (do) Capital”
O festival da canção de 1975 realizou-se em pleno PREC. E isso nota-se. Paco Bandeira cantou “Batalha-povo”, José Mário Branco deu voz ao “Alerta!”, do Grupo de Acção Cultural, o vencedor foi um militar de Abril, Duarte Mendes. E o concurso começou com Fernando Girão e Jorge Palma a cantarem sobre “O Pecado (do) Capital".
Grupo de Acção Cultural - "A Cantiga É Uma Arma"
O Grupo de Acção Cultural, ou apenas GAC, foi o melhor e mais consequente dos colectivos de cantores e músicos politicamente engajados que se formaram no pós-25 de Abril. Algumas das principais vozes da revolução estiveram envolvidas (e mais ou cedo ou mais tarde abandonaram) o projecto. "A Cantiga É Uma Arma", incluída no LP homónimo de 1975, foi e é um dos seus maiores hinos.
Sérgio Godinho - “Liberdade”
“‘Liberdade’ é de todas as palavras e conceitos que uso na minha vida, e por arrasto nas canções, a que mais acarinho e que mais defendo, aquela que dá ao norte a sua bússola”, dizia há uns anos Sérgio Godinho, na Time Out. É natural, por isso, que seja esta a canção que o representa nesta lista. Mas podia ser outra qualquer.
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