Asa Branca
Aqui uma matéria sobre o grande clássico do Rei do Baião. A música, composta há mais de 67 anos (gravada em 1947, em parceria com Humberto Teixeira), conta com mais de 500 interpretações no Brasil e no mundo, sendo uma das canções que recebeu maior número de gravações.
Há 67 anos, Luiz Gonzaga entrava no estúdio da RCA para gravar uma toada chamada Asa Branca, a primeira parceria sua com o cearense Humberto Teixeira, o maior clássico da música nordestina em todos os tempos, com mais de 500 regravações no Brasil e mundo afora. Teixeira, que estava no estúdio na noite da gravação, relembrou aquela sessão histórica, anos mais tarde, em Fortaleza, ao pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez: “...No dia em que gravamos, com o conjunto de Canhoto, ele disse assim: ‘Mas puxa, vocês depois de um negócio desses, de sucessos, vêm cantar moda de igreja. Que troço horrível’! Aí então, eles com um pires na mão, saíam pedindo, brincando, uma esmola pro Luiz e pra mim, dentro do estúdio. Mal sabiam eles que nós estávamos gravando ali uma das páginas mais maravilhosas da música brasileira”.Na terra de Luiz Gonzaga, os 60 anos de Asa branca, o hino não oficial do Nordeste, não terá comemorações. Em São Paulo, porém, hoje, às 10h, anuncia-se um “pelotão de choque cultural contra a mesmice e a burrice nacionais”, que invadirá a Praça da Sé, no Centro da cidade, para lembrar a efeméride, e cantar sucessos de Luiz Gonzaga. O evento foi idealizado pelo radialista e escritor paraibano Assis Ângelo, que arrebanhou repentistas, coquistas, emboladores e forrozeiros para prestar homenagem a Gonzagão e ao parceiro Humberto Teixeira. Entre os artistas que participam deste arrastão da Asa Branca estão os pernambucanos Caju & Castanha, Anastácia e João Silva, este último o parceiro com a maior quantidade de composições com o Rei do Baião.
Em 1945, Luiz Gonzaga foi levado pelo compositor Lauro Maia, ao escritório de advocacia de Humberto Teixeira, na avenida Calógeras, no Centro do Rio. Gonzagão andava há algum tempo à procura de um compositor com quem pudesse retrabalhar os ritmos do Nordeste, que conhecia tão bem dos forrobodós freqüentados com o pai Januário, sanfoneiro conceituado no sertão do Araripe. Sertanejo de Iguatu, Humberto Teixeira já era compositor de relativa fama e simpatizou com o pernambucano, que conhecia de músicas como Moda da mula preta e Vira e mexe. os dois se reuniram, das quatro da tarde à meia-noite, para formatar uma música nordestina, que tivesse apelo popular para tocar no rádio: “Nesse mesmo dia nós fizemos os primeiros versos, discutimos as primeiras idéias em torno de Asa branca, que só dois anos depois foi gravada”, contou Humberto Teixeira, esquecendo de acrescentar que Asa branca não foi uma composição inédita da dupla. “'Asa Branca' é uma música do meu pai Januário, mas não tinha este nome, era chamada de 'Catingueira do Sertão' (a catingueira é uma árvore comum no semi-árido). Quem gravou com a letra original foi meu irmão Zé Gonzaga”, lembra a cantora Chiquinha Gonzaga, 81, irmã de Luiz Gonzaga. Ela só consegue lembrar dos versos iniciais da música que o pai dela tocava: “catingueira do sertão/fulorou, botou no chão/catingueira miudinha... Não recordo mais, lembro de outras coisas que meu pai tocava. Quem sabia todas aquelas músicas era Antônio da Pata que cantava no conjunto do meu pai”, desculpa-se Chiquinha.
O velho Januário nunca escondeu de ninguém que Asa Branca era uma música sua. Dominguinhos conta que um dia estava em Exu, na casa de Januário: “Enquanto seu Luiz tocava "Asa Branca" na sanfona, Januário comentou comigo: ‘Esta música aí foi esse negro safado que roubou de mim’, claro que em tom de brincadeira. Januário também havia se apropriado da música, que fazia parte do repertório de dos sanfoneiros da região, como também dos cegos que tocavam nas feiras em troca de dinheiro. Além do mais "Juazeiro", "Meu Pé de Serra", "Vira e Mexe", sucessos inaugurais de Luiz Gonzaga também eram temas musicais correntes no Sertão, e foram levado por ele em seu matolão, quando deixou o povoado do Araripe, Exu, em 1930.
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Fonte: Jornal do Commercio. Recife-PE: 03/03/07
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