Quando Cynthia Lennon chegou de viagem e encontrou John e Yoko juntos na casa onde ela vivia com ele, a separação realmente começou. Um acordo provisório foi estabelecido para que Cynthia e Julian, completamente abalados com a atitude de John, pudessem ficar em Kenwood, casa em que John morava com Cynthia, enquanto John e Yoko firmavam residência em um apartamento em Montagu Square, no centro de Londres.
Paul McCartney e Julian Lennon – filho de John e Cynthia que, na época da separação, tinha 5 anos – sempre tiveram uma relação muito próxima. Paul foi o único do círculo de amizade dos Beatles que foi até Kenwood demonstrar apoio por tudo o que havia acontecido. Ele foi dirigindo de sua casa em St. John’s Wood até Weybridge levando uma única rosa vermelha. Paul tinha o costume de usar o tempo que passava no carro para trabalhar em músicas novas e, nesse dia, preocupado com o futuro de Julian, ele começou a cantarolar “Hey Julian” e improvisar uma letra sobre o tema do conforto e da segurança. Em certo momento da viagem de uma hora, “Hey Julian” se tornou “Hey Jules”, e Paul criou o trecho “Hey Jules, don’t make it bad, take a sad song and make it better”. Foi só na hora de desenvolver a letra, algum tempo depois, que ele transformou Jules em Jude, por achar que soava mais forte e musical.
Paul chegou a Kenwood em uma tarde ensolarada, entregou a rosa vermelha e disse “Eu sinto muito, Cyn, eu não sei o que deu nele. Isso não está certo”. Paul ficou algum tempo. Disse que John estava levando Yoko para as sessões de gravação, o que ele, George e Ringo detestavam. Paul havia terminado seu relacionamento com Jane Asher algumas semanas antes. Jane havia voltado para casa, depois da turnê de uma peça de teatro, com alguns dias de antecedência e o surpreendera na casa deles com outra garota. Ela o deixou e, diferente de John, Paul se culpava e estava com o coração partido. Depois de tantos problemas Paul brincou: “Nós podemos nos casar, o que você acha, Cyn?”. Paul não se importou com o que John pensaria disso e foi o único a desafiá-lo. Ele partiu prometendo manter contato, mas um ou dois meses depois o relacionamento de Paul com a fotógrafa americana Linda Eastman teve início e sua vida entrou em uma nova fase.
A música foi se tornando menos específica e John achou que o tema era dedicado a ele, encorajando-o a sair dos Beatles e ir viver com Yoko (“You were made to go out and get her”). Um verso em particular – “the movement you need is on your shoulder” – deveria ser apenas um tapa-buraco. Quando Paul tocou a música para John, comentou que aquela parte precisava ser substituída e que ele parecia estar cantando sobre seu papagaio. “Esse provavelmente é o melhor verso da música”, disse John. “Deixe aí. Eu sei o que significa”. Paul afirmaria mais tarde que, até hoje, lembra de John quando canta essa frase em seus shows.
Julian Lennon cresceu conhecendo a história por trás de “Hey Jude”, mas só em 1987 ouviu os fatos diretamente de Paul, quando o encontrou em Nova York. “Foi a primeira vez que nós sentamos e conversamos. Ele me contou que vinha pensando na minha situação todos aqueles anos atrás, no que eu estava passando e pelo que eu ainda teria de passar no futuro. Paul e eu passávamos bastante tempo juntos – mais do que meu pai e eu. Talvez Paul gostasse mais de crianças na época. Tivemos uma grande amizade, e parece haver muito mais fotos daqueles tempos em que estou brincando com Paul do que com meu pai”, conta Julian. “Eu nunca quis saber realmente a verdade sobre como meu pai era e como ele era comigo”, ele admite. “Mantive minha boca fechada. Muita coisa negativa foi dita sobre mim, como quando ele disse que eu tinha saído de uma garrafa de uísque em um sábado à noite. Coisas assim. É muito difícil lidar com isso. Eu pensava ‘cadê o amor nisso tudo?’. Foi muito prejudicial psicologicamente, e por anos isso me afetou. Eu costumava pensar ‘como ele pôde dizer isso sobre o próprio filho?'”.
Julian não se limita à letra de “Hey Jude” já há algum tempo, mas acha difícil fugir dela. Ele está em um restaurante e a música toca, ou ela surge no carro quando está dirigindo. “Ela me supreende toda vez que a escuto. É muito estranho pensar que alguém escreveu uma música sobre você. Ainda me emociona”, ele diz.
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“Hey Jude” foi o single de maior sucesso de toda a carreira dos Beatles. Chegou ao topo das paradas no mundo todo e, antes do fim de 1967, mais de 5 milhões de cópias tinham sido vendidas. A letra original escrita por Paul foi comprada por Julian Lennon em um leilão, décadas depois.
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