Um superintendente, que está na Guiné-Bissau como oficial de ligação do MAI pode ser chamado a depor no processo
Não foram só as pistolas glock a desaparecer da direção nacional da PSP, também foram desviadas as munições e os carregadores de cada uma das armas, uma constatação do inquérito interno que está a decorrer e que veio reforçar ainda mais a fragilidade do controlo interno sobre este material. As, pelo menos, 57 pistolas saíram do "quartel-general" da PSP em caixas, contendo cada uma mais dois carregadores e 18 munições de 9mm. O kit completo. A ministra da Administração Interna já admitiu que, depois de conhecidos os resultados do inquérito, possam ter de ser alterados os sistemas de segurança.
O DN sabe que, além dos dois agentes, responsáveis pelo armazém onde estavam guardadas estas pistolas, terem sido suspensos preventivamente, pode ser chamado a depor o diretor do Departamento de Apoio Geral (DAG), um superintendente responsável por este setor desde 2013 até ao final do mês passado. Recorde-se que a situação foi descoberta depois de, a 25 de janeiro, ter sido detido no Porto um suspeito de tráfico de droga, que tinha na sua posse uma destas glock, com as munições e os carregadores. Estas pistolas têm uma inscrição que as diferencia de outras, que é terem gravada a inscrição "Forças de Segurança". Conforme o DN noticiou, outras três armas do lote desviado foram também apreendidas a criminosos numa operação da polícia espanhola, em Ceuta. Esta situação elevou o patamar da investigação, que está a ser coordenada pelo Ministério Público, para suspeita de envolvimento de uma rede de tráfico internacional de armas que, por via direta ou indireta, podem ter corrompido polícias para adquirirem aquele material.
Ainda não há data confirmada para o interrogatório ao ex-responsável pelo departamento, Paulo Sampaio, que está neste momento colocado na Guiné Bissau, como oficial de ligação do ministério da Administração Interna, numa comissão de serviço de três anos. Este é um dos postos mais concorridos pelos oficiais da PSP, pois têm uma remuneração de cerca de 12 mil euros por mês.
Fontes sindicais da PSP esperavam que o superintendente já tivesse sido chamado e têm sido feitas algumas críticas ao facto de só os agentes terem sido castigados. No entanto, um oficial que está a acompanhar o processo garantiu ao DN que se tratou de "uma suspensão meramente preventiva, até para proteção dos próprios, sem que haja ainda nenhuma prova de culpa".
A direção nacional não respondeu às questões do DN, invocando o segredo de justiça, mas desde que este inédito desvio foi conhecido, no passado sábado, que interna e externamente várias perguntas se têm levantado. Como foi possível saírem mais de 50 caixas sem serem detetadas? Quem, além dos agentes, fazia o controlo do inventário das armas? Havia segregação de funções? Como não foi detetada antes a falta das armas?
Na avaliação que tem vindo a ser feita pelos oficiais de topo é reconhecido que os recursos humanos são escassos para alguns departamentos, como é este do apoio geral, e que a prioridade na utilização do efetivo tem sido a rua. "Podemos aumentar a segurança dos procedimentos, aumentar o controlo, mas isso custa recursos humanos e materiais. O nosso foco tem estado na rua, na segurança das pessoas. Há que fazer opções", sublinha um oficial superior desta força. Reconhece que "não havia por sistema conferências físicas do material" (a contagem era feita informaticamente e o último inventário terá mais de um ano) e que "é provável que se vão introduzir contagens físicas do material por elementos que não são os responsáveis habituais pelas armas".
Os riscos de corrupção associados à atividade de todos os departamentos da PSP, operacionais e administrativos, estão avaliados no Plano de Prevenção da Corrupção e Infrações Conexas. No último, de 2016, estão identificados os riscos sobre crimes de "peculato, abuso de poder e violação de segredo por funcionário". O nível de risco considerado pela direção da PSP para algum desses crimes se efetivarem é, para todos, "baixo/médio", numa escala que vai de baixo a elevado. Em relação à "administração de instalações e equipamentos", em que se pode integrar este armeiro da direção nacional, são indicadas como "medidas de prevenção" os "mecanismos de controlo interno": "auditorias, ações aleatórias, controlo de procedimentos, de documentos e processos". Quais delas terão saído do papel não se sabe.
Neste momento ainda está a decorrer a nível de todos os comandos uma verificação pessoal e presencial de todas as armas distribuídas, não tendo ainda sido divulgados resultados. Na GNR e no SEF essa verificação também foi feita e, segundo os porta-vozes oficiais, nenhuma falta foi detetada.
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