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terça-feira, 28 de junho de 2016

Morreu Bud Spencer, o bom gigante barbudo do cinema italiano


Há um nome que vem imediatamente à cabeça: Terence Hill, o Trinitá. 

Mas a carreira e a vida de Bud Spencer foram mais do que isso.














Morreu o ator Bud Spencer. De origem italiana, foi um dos mais famosos intérpretes do género cinematográfico western spaghetti. Morreu esta segunda-feira à tarde, com 86 anos, num hospital de Roma.


Nascera em 1929, em Nápoles, com o nome de Carlo Pedersoli, mas o mundo conheceu-o como Bud Spencer, o gigante barbudo que marcou uma geração de cinéfilos ao participar em inúmeros westerns cómicos, quase sempre ao lado do grande amigo Terence Hill, também italiano.


Terence Hill era Trinitá, o cowboy insolente (1970). Bud Spencer era o inseparável Bambino. O filme foi um tal sucesso que Hill ficou com o rótulo de Trinitá para sempre, embora tenha havido apenas uma sequela (Continuaram a chamar-lhe Trinitá – 1971). Os dois, que tinham contracenado pela primeira vez em 1959 num filme sobre as guerras púnicas (Aníbal e os elefantes), fizeram ainda inúmeros filmes juntos.


Em 1968, dois anos antes de estrear o primeiro Trinitá, Bud Spencer já tinha no currículo alguns westerns feitos em Itália. O crítico de cinema Roger Ebert encontrou-o perto de Roma a filmar mais uma dessas películas, Os cinco bandoleiros. “Ele tirou duas horas para comer um prato de esparguete, uma costeleta, uma salada, uma taça de sopa, outra costeleta e mais esparguete, tudo empurrado por um litro ou dois de vinho”, descreve Ebert. Mas, mais importante do que as preferências gastronómicas do ator, o crítico registou o que Bud Spencer lhe disse na altura. “O que eu gostava mesmo de fazer um dia era uma paródia destes westerns. Já fizemos tantos westerns em Itália que, de certeza, já ganhámos o direito a fazer uma paródia.”


Ganhou mesmo e tomou-lhe o gosto. Mas a carreira cinematográfica de Carlo Pedersoli começara, anos antes, de forma inesperada. Aluno brilhante, apesar de ter mudado de cidade diversas vezes durante a infância, Spencer chega à universidade com 17 anos, para estudar química. Não chega a concluir os estudos, uma vez que os pais mudam-se novamente, desta vez para o Rio de Janeiro. Também aí não fica muito tempo. De regresso à Itália natal, Pedersoli interessa-se a sério pela natação e até representa o país nos Jogos Olímpicos de 1952 e de 1956.


Em 1951, Bud Spencer era nadador profissional e estudante de Direito. Tinha 21 anos e o desporto dera-lhe o corpo atlético necessário para entrar como membro da Guarda Imperial em Quo Vadis, que então estava a ser rodado nos estúdios Cinecittà, em Roma, de onde saiu grande parte dos sucessos do cinema italiano. O papel era modesto e nem sequer foi creditado, mas abriu definitivamente as portas da sétima arte a Pedersoli, que uns anos depois conseguirá o primeiro papel a sério da carreira, em Um Herói dos Nossos Tempos.


Depois de Aníbal e os elefantes (1959), onde conheceu o companheiro de peripécias futuras, Carlo Pedersoli só voltaria aos ecrãs em 1967, já com o nome artístico que lhe deu fama. Bud Spencer consegue o papel de co-protagonista em Deus Perdoa…Eu não e, a partir daí, lança uma carreira de sucesso baseada quase sempre no mesmo tipo de personagem: um cowboy bonacheirão e divertido.



Bud Spencer, a bisarma sorna


Ao lado de Terence Hill ou sozinho, Bud Spencer atravessou o cinema popular de acção e comédia dos anos 60, 70 e 80 a dar bofetadas e murros em todas as direcções, como recorda Eurico de Barros



Chamava-se na verdade Carlo Pedersoli e era napolitano de casca e gema, mas usava o nome artístico de Bud Spencer em parte como homenagem ao seu ator favorito, Spencer Tracy, em parte porque gostava muito de cerveja da marca Budweiser. Morreu aos 86 anos em Roma, depois de ter aparecido em dezenas de filmes de ação, comédias de pancadaria e “westerns spaghetti” de rapar o fundo do tacho, nos anos 60, 70 e 80. Em cerca de duas dezenas destes, fez parelha com Terence Hill, nomeadamente em “A Colina dos Sarilhos” (1969), no enorme e inesperado sucesso “Trinitá-Cowboy Insolente” (1970) — em Portugal, esteve um ano em exibição no desaparecido Avis, com sessões sempre esgotadas —“Continuam a Chamar-lhe Trinitá” (1971), “Vamos a Isto, Rapazes” (1972) ou “Juntos são Dinamite” (1974), e que entre nós deliciavam as plateias menos exigentes de salas populares como o Avis, o Odeon ou o Politeama. O duo conheceu-se quando foram “extras” no filme histórico “Aníbal e os Elefantes”, em 1959, e além de bons colegas de trabalho, ficaram como irmãos para o resto das suas vidas.
[“Trinitá-Cowboy Insolente]

Hill encarregava-se da conversa fiada e de manejar as armas, enquanto que o lacónico Spencer dizimava os vilões à mão, tendo como sua imagem de marca o murro dado na cabeça do adversário com o punho fechado, como se fosse um martelo. Por isso, uma das suas personagens mais populares era o “Inspector Martelada”, vedeta de vários dos filmes que fez sem Hill. Bud Spencer compensava o que lhe faltava em dotes de representação (quase tudo, na verdade) com o seu ar de bisarma sorna, falando pouco e batendo muito. Chegava para o público dos seus filmes, com ou sem Terence Hill, que queria era vê-los “despachar” vilões a tiro e ao murro, e não estava interessado em rasgos shakespeareanos.Nessas décadas de 60, 70 e 80, o cinema italiano era prolífero em versões locais de formatos ou séries B americanas, e Bud Spencer, ao lado de Hill ou sozinho, foi uma das suas grandes vedetas.
[Terence Hill e Bud Spencer, antologia]

Os filmes de Spencer resumem-se pelos seus títulos: “O Murro Atómico”, “Chamavam-lhe Bulldozer”, “O Xerife Quebra-Ossos”, “O Bombardeiro”, “Pela Medida Grande”, “O Inspector Martelada no Nilo”, “O Terror do Far-West”. Eram arraiais de estalada e murro, modelos do subgénero “arte e ensaio de pancada”. Nos anos 80, o ator transferiu o seu peso para a televisão, onde apareceu numa série de telefilmes policiais e de ação com novas personagens, que mais não eram do que versões para o pequeno ecrã das do cinema, como se pode ver pelos nomes: “Extralarge”, “Big Man”. Em 1994, ele e Hill fizeram o último filme juntos, um “western” cómico tardio realizado por este, “Os Caça-Sarilhos”.
[Bud Spencer em acção]

Em 2005, e depois de, dois anos antes, ter aparecido num filme de Ermanno Olmi, “Cantando por Detrás das Cortinas”, Bud Spencer interpretou para a RAI o episódio-piloto de uma série, “Padre Speranza”, que se pretendia mais “séria” e dramática do que aquilo a que o ator tinha habituado o público, e onde interpretava um padre rebelde que enfrentavo crime organizado na Sicília, mas o projeto não teve seguimento. A idade também já não ajudava e tinha reduzido muito o ritmo de trabalho desde finais dos anos 90. Hoje, quase com 90 anos, o “Inspetor Martelada” deu finalmente descanso aos punhos.

observador.pt

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