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terça-feira, 28 de junho de 2016

A inexplicável história do sequestrador que desapareceu de um avião

Em 1971, um homem sequestrou um Boeing 727, recebeu 


dinheiro para não explodir o avião, pulou de para-quedas no 


meio de uma tempestade e nunca mais foi visto



gq.globo.com
D.B. Cooper (Foto: FBI)

 
A pergunta "o que aconteceu com o Boeing 777 da Malaysia Airlines?" é apenas uma entre várias questões sem resposta no mundo da aviação. Além de outros desaparecimentos - como o Boeing 707 da Varig que sumiu no Oceano Pacífico em 1979 enquanto transportava um lote de quadros do artista nipo-brasileiro Manabu Mabe avaliado em US$ 1,24 milhão - o termo "mistério" é o que melhor define a história do único sequestro aéreo não solucionado na história dos Estados Unidos. 
Na tarde de 24 de novembro de 1971, dia de Ação de Graças, um homem alto (cerca de 1,80 m) na faixa dos 40 anos entrou no aeroporto de Portland, se identificou como Dan Cooper e comprou uma passagem só de ida para Seattle - um voo curto, de apenas 30 minutos, feito a bordo de um Boeing 727 da Northwest Orient Airlines. Vestia uma camisa branca de colarinho bem passado, terno e gravata negros, alfinete de gravata de madrepérola, uma leve capa de chuva, uma maleta também preta e sapatos engraxados. Logo após a decolagem, acendeu um cigarro, pediu bourbon com soda e passou um bilhete para Florence Schaffner, uma das aeromoças. No bilhete estava escrito: "Tenho uma bomba na minha maleta. Eu a usarei se necessário. Quero que você se sente do meu lado agora. Você está sendo sequestrada". 
Florence obedeceu à ordem, deu uma rápida olhada no que parecia ser uma bomba dentro da maleta e ouviu as exigências do sequestrador: US$ 200 mil em moeda americana negociável (parece pouco, mas seria o equivalente a US$ 1,34 milhão em 2014), quatro paraquedas e um caminhão de combustível para reabastecer o Boeing depois do pouso em Seattle. Testemunhas o descrevem como um sujeito elegante, calmo, educado e até gentil - ao pedir outro bourbon, ele não apenas pagou o que consumiu como fez questão de que Florence ficasse com o troco. Nenhum outro passageiro percebeu o que estava acontecendo, e todos desembarcaram em Seattle enquanto o avião era reabastecido.
Dez mil notas de US$ 20 recolhidas de bancos locais de Seattle pelo FBI foram entregues ao sequestrador, que deu instruções pormenorizadas à tripulação sobre o padrão de voo que deveriam adotar a seguir: velocidade e altitude bem baixas, posições específicas dos flaps e do trem de pouso e rumo sul na direção da Cidade do México, com mais uma escala de reabastecimento em Reno, Nevada. Após a decolagem, às 19:40 da noite, ele mandou toda a tripulação para a cabine dos pilotos, fechou a porta e ficou sozinho na cabine de passageiros. Com vinte minutos de voo, os intrumentos indicaram que a escada traseira logo abaixo da cauda havia sido aberta. O pouso intermediário em Reno confirmou o que se suspeitava: o sequestrador havia saltado de paraquedas do avião.


Caso nunca encerrado
D.B. Cooper (Foto: FBI)
Por um erro da mídia americana, o nome Dan Cooper acabou confundido com D.B. Cooper, e foi assim que ele ficou conhecido. Apesar da confusão pontual, começava ali a maior caçada humana da história dos EUA em seu território. Impressões digitais foram coletadas dentro do avião, retratos falados foram produzidos, toda a área por onde o Boeing voou foi vasculhada, os números de série do dinheiro entregue como resgate divulgados e um número cada vez maior de suspeitos interrogados. Tudo em vão: nem a identidade real e muito menos o paradeiro de Dan Cooper chegaram perto de serem descobertos. 
Muitos acreditam que ele não tenha sobrevivido a um salto realizado no escuro da noite, com frio e tempo ruim (chovia naquele momento). Só que nenhum corpo, paraquedas ou dinheiro foi encontrado no solo. Além disso, uma análise pormenorizada dos acontecimentos deu várias pistas sobre a capacidade de planejamento do criminoso. Suas instruções relativas ao voo entre Seattle e a Cidade do México indicam que ele tinha bons conhecimentos de aviação. O sequestrador também conhecia detalhes do funcionamento do Boeing 727, um dos raros aviões que permitem saltos a partir de uma porta traseira abaixo da cauda - ele sabia que a porta podia ser aberta a partir da cabine de passageiros, não apenas a partir da cabine de controle, e talvez soubesse que a CIA utilizou aviões 727 como método de infiltração de agentes no Vietnã. Até mesmo suas observações ao sobrevoar os arredores de Seattle indicam que ele havia estudado a área percorrida pelo voo. 
A escada traseira de um Boeing 727 (Foto: reprodução)
O mistério aumentou ainda mais em fevereiro de 1980, quando um garoto de oito anos encontrou três pacotes de notas de US$ 20 enterrados na margem do rio Columbia, perto de Portland, totalizando US$ 5.800. Análises confirmaram que o dinheiro era parte do resgate de nove anos antes. O que parecia ser um caminho para a solução do mistério, porém, se transformou em um enigma ainda maior. O local ficava a mais de 20 quilômetros de distância da rota do avião, e exames geológicos indicaram que os pacotes foram depositados no local pelo menos três anos após os acontecimentos de 1971. As hipóteses são várias: o dinheiro pode ter caído na margem de algum afluente do rio Columbia, e depois de uma enchente seguido pela correnteza até o lugar onde foi encontrado. Pode também ter sido enterrado por um animal ou por outras pessoas, ou mesmo colocado ali pelo sequestrador apenas para confundir as autoridades.  
dinheiro - D.B. Cooper (Foto: FBI)

 
Ao longo das últimas quatro décadas, cerca de mil pessoas foram consideradas suspeitas de serem Dan Cooper. Destes, pelo menos meia dúzia de aspirantes à fama admitiram a autoria do crime mais famoso da história dos EUA - e todos foram descartados pelos exames de impressão digital, de conhecimento dos fatos, de semelhança física com o verdadeiro sequestrador e até mesmo de DNA extraído da gravata deixada no avião.
gravata - D.B. Cooper (Foto: FBI)

 
O interesse pelo caso gerou várias teorias e suposições. Dan Cooper era o nome de um personagem de quadrinhos famoso na França, na Bélgica e no Canadá por suas aventuras envolvendo aviões, mas que nunca havia sido publicado em inglês. Como o homem não exibiu nenhum sotaque durante o voo, pode ser que fosse canadense. Ou então um americano com passagem pela Europa - um militar, talvez. Seus conhecimentos sobre aviação parecem claros, porém a habilidade como paraquedista foi posteriormente questionada por não ter escolhido o modelo mais sofisticado e seguro entre os quatro equipamentos fornecidos.
Seria ele um ex-integrante das Forças Armadas? Ou um simples ladrão que, num ato desesperado, bolou um plano maluco e arriscado para roubar US$ 200 mil? A calma e tranquilidade nas ações não dão muita margem para a segunda opção, a ponto de vários analistas de mentes criminosas sugerirem que o tal Dan Cooper no fundo não estava interessado no dinheiro: ele queria apenas provar para si mesmo e para o mundo que era capaz de realizar uma façanha inesquecível. Se foi isso mesmo, conseguiu: virou símbolo do tipo de crime perfeito que não deixa vítimas nem vestígios, apenas questões em aberto. Seu mistério já foi assunto para um sem-número de livros, documentários, séries de TV e até filmes.

Além disso, cronologicamente a última temporada de 
Mad Men deve cobrir a virada dos anos 60 para os 70. Duas temporadas - a primeira e a sexta - já terminaram em um Dia de Ação de Graças, uma data sempre significativa dentro do universo da série. O único sequestro aéreo não-solucionado da história dos EUA ocorreu exatamente no Dia de Ação de Graças de 1971. Já imaginou se, no último capítulo de Mad Men, Don Draper aparece no balcão de uma companhia aérea, de terno, fumando um cigarro atrás do outro, comprando uma passagem só de ida para Seattle com aquela já clássica expressão de misteriosa sissudez?A última (e talvez mais curiosa) das teorias a respeito de sua identidade é baseada nas semelhanças entre o perfil de Dan Cooper e o de Don Draper, o personagem principal da série Mad Men. Ambos são calmos, elegantes e enigmáticos, serviram como militares (Don com certeza, Dan provavelmente), vivem um segredo relacionado à sua identidade e transparecem uma forte predileção por desaparecer sem deixar rastros. As descrições visuais possuem elementos em comum, e até mesmo o nome da agência onde Don trabalha - Sterling Cooper - dá margens para suspeitar que os autores da série de alguma maneira criaram um paralelo entre os dois.
Mad Men - Don Draper (Foto: divulgação)

 
Por coincidência, as fotos que acabam de ser divulgadas para promover a sétima temporada de Mad Men mostram Don Draper ou em um aeroporto, ou dentro de um avião. Todas elas.
Seria a glória final para Dan Cooper - ou seja lá qual for seu nome. 
[FBI]


gq.globo.com

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