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terça-feira, 3 de maio de 2016

Passos e o "Dr. Rebelo de Sousa". Uma guerra com 20 anos





O conflito latente com o Presidente da República coloca pressão no presidente do PSD que, acreditam os críticos, depende cada vez mais do sucesso do partido nas autárquicas de 2017

Passos Coelho versus "Dr. Rebelo de Sousa". A guerra é antiga, teve agora mais um episódio, mas parece ser desfavorável para uma das partes. O conflito com o Presidente da República é mais um obstáculo para o líder do PSD, que já vai vendo os críticos apontar o seu exame final: as autárquicas de 2017.

O último round entre Passos e Marcelo começou no sábado, quando numa entrevista (ao Sol) o líder do PSD voltou a referir-se ao Presidente como o "Dr. Rebelo de Sousa" e disse ter "pena" que o Chefe do Estado considerasse que lhe tinha chamado "cata-vento". E ainda sugeriu algum deslumbramento de Marcelo: "Irradia felicidade." Ora foi por aqui que Marcelo ripostou, ao considerar a observação do líder da oposição um "simpático elogio". Logo depois viria a farpa: "Mal fora que o Presidente irradiasse infelicidade, azedume, má disposição com a vida e com os portugueses. Portanto, que bom isso ser reconhecido, haver um elogio ao Presidente que irradia aquilo que deve irradiar."

Na verdade, Marcelo acaba por sugerir a tal ideia de mau perder, do pin que não sai da lapela e de um certo agastamento que Passos Coelho estará a sofrer como líder da oposição.

Aliás, o líder do PSD já não teria gostado do que Marcelo fez no 25 de Abril. Após elencar desafios estratégicos para o país, Marcelo puxou dos galões e lembrou que o mandato do Presidente "é, pela sua própria natureza, mais longo e mais sufragado do que os mandatos partidários". E acrescenta a estocada: "E não depende de eleições intercalares."

Ou seja: "Não depende de eleições intercalares", ao contrário do mandato do líder do PSD, que no final de 2017 terá eleições que poderão ser decisivas para a sua manutenção como líder do partido, as autárquicas.

Figuras de topo do partido, para já, não ousam falar em on. Mas há quem seja destemido na afronta ao líder que conseguiu mais de 95% dos votos em diretas há menos de dois meses. O ex-líder da distrital de Setúbal e crítico de Passos nos conselhos nacionais, Luís Rodrigues considera que "um despique entre o presidente do PSD e o Presidente da República não deve existir". Para o ex-deputado, "o país e o PSD não ganham nada" com o conflito.

Luís Rodrigues põe também a tónica na estratégia desde o congresso, dizendo que o PSD "ainda não encontrou o seu registo: anda a reboque do CDS, que toma sempre a iniciativa de fazer a geringonça funcionar".

Para o crítico de Passos, "temos tempo, mas não todo o tempo do mundo. O PSD tem de encontrar o seu registo até às autárquicas de 2017. Senão, aí, temos de encontrar outro caminho". Ou seja: se não correr bem, Passos tem de sair após as autárquicas. Um antigo dirigente da bancada adianta ao DN que "a troca de galhardetes entre Marcelo e Passos é mais uma questão psicológica do que de política". A mesma fonte defende que "ambos andam a ler Alberoni fora de tempo", aconselhando que não se devem perder na "psicologia do enamoramento".

Um atual dirigente do PSD também considera "despropositado" o conflito entre Passos e Marcelo. "Devia deixar o Presidente em paz, ainda para mais é da nossa área política. Tem de se compreender que ele não favoreça o PSD." A mesma fonte ainda encurta os prazos de avaliação na "nova" estratégia de Passos: "Tudo se vai decidir no Orçamento do Estado para 2017. Se aí a geringonça continuar a funcionar, algo terá necessariamente de mudar."

Até 1996, Marcelo e Passos davam-se muito bem. Nesse ano o agora Presidente candidatou-se à liderança do PSD, na sucessão de Fernando Nogueira. No Congresso de Santa Maria da Feira, Passos Coelho ficou encarregado de fazer as listas de Marcelo para os órgãos do partido. Mas algo - que continua por explicar - se passou entre os dois e zangaram-se. Passos deixou o congresso a meio. Não participou em nenhuma votação. Depois, Marcelo colocou Luís Marques Mendes como líder parlamentar. E este chamou Passos para vice na direção da bancada. Marcelo torceu o nariz mas aceitou. Em 2001, Marcelo deixou a liderança do PSD.

Em 2010, Passos candidatou-se pela segunda vez a líder do PSD, tentando suceder a Manuela Ferreira, que Sócrates derrotara nas legislativas de 2009.

Na TVI, Marcelo comentou criticamente a candidatura de Passos, considerando-o um líder fraco. "Alguém se há de arranjar, o partido não fica para Passos Coelho", disse na altura. Depois, ao longo dos quatro anos de governação, foi alternando entre comentários críticos e elogiosos.

Em 2014, na moção ao congresso do PSD, Passos falou das presidenciais de 2016. Disse que o partido não queria um Presidente "cata-vento". Marcelo sentiu que a referência lhe era dirigida e anunciou que já não seria candidato. Mas mudou de ideias e apareceu no congresso do PSD. E, aplaudido pelas bases do partido, impôs-se como candidato.



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