A pouco mais de um ano de eleições locais, o PS trata de evitar que haja estilhaços autárquicos sobre o Governo. Assim, tem um acordo tácito com o PCP para que não se façam concorrência.
Em causa está a efectiva posição de concorrência em que os dois partidos irão ficar no próximo acto eleitoral nacional, uma concorrência que é já tradicional, com os socialistas a tentarem conquistar câmaras que são presididas pelo PCP e, por seu lado, os comunistas procurarem ganhar em autarquias que são do PS.
Quanto ao Bloco de Esquerda e ao efeito que as autárquicas podem vir a ter nas relações com o PS, as informações obtidas pelo PÚBLICO vão no sentido de que não há, na direcção do PS, qualquer temor de que este dossier venha a perturbar as relações e o apoio do Bloco ao Governo. O argumento, segundo os socialistas, é simples: o Bloco de Esquerda não é um partido autárquico e até hoje nunca apostou em conquistar autarquias.
“As autárquicas só seriam problema se o PS e o BE conquistassem câmaras ao PCP, isso podia criar uma crise existencial”, afirmou ao PÚBLICO um outro membro do Governo, sublinhando que há da parte da direcção do PS e do núcleo duro que gere o quotidiano de relação com o PCP a consciência de como o poder autárquico é essencial para o PCP, logo vital para a sobrevivência do Governo. Não vá o PCP ficar retraído em relação ao entendimento bilateral que mantém com o PS, no caso de vir a perder câmaras para os socialistas.
O risco de o PCP perder câmaras para o Bloco de Esquerda seria outro motivo de preocupação para os socialistas e para o Governo, já que poderia introduzir instabilidade na relação entre PS, BE, PCP e PEV. Mas esse risco parece afastado, pelo menos de acordo com a perspectiva que o mesmo membro do Governo transmitiu ao PÚBLICO.
“O BE não é um partido autárquico e não se prevê que PS possa ganhar mais de uma ou duas câmaras ao PCP e o PCP uma ou duas câmaras ao PS”, explicou o mesmo membro do Governo, assumindo os limites do acordo táctico sobre autárquicas que existe entre os membros da maioria parlamentar de esquerda que suporta o Governo.
O mesmo membro do Governo foi mais longe nas explicações sobre o “pacto de não-agressão” e garantiu que não só a continuidade do Governo não estará em causa após as autárquicas, como o PS não se sentirá abalado enquanto partido do Governo com o resultado das eleições locais.
E defende que “para o PS ganhar” as autárquicas “basta manter o que já tem”, ou seja, a maioria das câmaras e a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses. O mesmo membro do Governo conclui que, em relação as eleições autárquicas, “salve uma hecatombe, não há crise”.
A pouco mais de um ano da campanha e quando a escolha de candidatos já começa a ser preparada, o discurso oficial dos socialistas é o de que não se conclui sobre resultados nacionais com base em eleições locais. Da estratégia dos socialistas faz parte a ideia de recandidatar todos os presidentes em exercício que não tenham atingidos os três mandatos de limite, explicou ao PÚBLICO um terceiro membro do Governo.
O regresso dos dinossauros
Mas há no estado-maior socialista a preocupação com a impossibilidade de controlarem todas as variantes que podem interferir com este pacto de não-agressão com o PCP. É que estas autárquicas serão as primeiras em que poderão recandidatar-se antigos autarcas afastados em 2013 pela lei da limitação dos mandatos.
O desejo de regresso de ex-presidentes poderá obrigar o PS a aceitar contemplar essa vontade dos próprios. Um eventual “não” do PS poderá ter como consequência estes ex-autarcas candidatarem-se como independentes e isso baralhará as contas e as previsões tácitas do pacto de não-agressão entre socialistas e comunistas.
Refira-se que, desde que o Governo tomou posse com base nos entendimentos bipartidários do PS com o Bloco de Esquerda, o PCP e o PEV, existe uma expectativa assumida por inúmeros observadores e comentadores políticos de que a base parlamentar do executivo poderia ruir após as autárquicas, precisamente pela concorrência directa entre PS e PCP no poder local. Essa insistência levou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a garantir a estabilidade: “O Governo existe para durar uma legislatura. Há claramente um ciclo político marcado pelas autárquicas e estar a especular sobre a instabilidade política nesse ciclo não faz o mínimo sentido.”
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2 comentários:
A meu ver, os partidos de esquerda deveriam equacionar em tempo útil uma coligação nas autárquicas, para se prevenirem de um previsível desvario do presidente marcelista.
Mas, tendo em conta o sectarismo existente no aparelho do PS, acho inviável essa possibilidade.
pois deveriam amigo. Um abraço
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