by joaompmachado |
A CM de Leiria acaba de atribuir e entregar a medalha de prata Cidade de Leiria ao Reitor do santuário de Fátima. Não o diz explicitamente, mas deve estar reconhecidíssima ao Pe. Carlos Cabecinhas, nascido em Leiria, por todos os préstimos que ele, enquanto gestor principal do Santuário de Fátima S.A., tem feito em prol do concelho. A cidade continua a dizer-se simplesmente de Leiria, mas, com a atribuição desta medalha, bem pode passar a chamar-se cidade Leiria-Fátima, tal como a diocese já assim se diz há vários anos. O rol dos serviços prestados à cidade de Leiria pelo medalhado não é referido no acto da entrega, nem é preciso. Basta-lhe ser o gestor-mor do Santuário de Fátima S.A., para merecer a medalha, até o município inteiro. Só que não há medalhas limpas nem medalhados limpos. As medalhas ajudam a impor às populações modelos-exemplos de vida que têm tudo a ver com os interesses dos poderes de turno que as atribuem e entregam. Que o poder nunca dá ponto sem nó. Tudo o que decide e faz é a pensar em reforçar-se, perpetuar-se. Premeia quantas, quantos contribuem para isso, mesmo que, num ou noutro caso, os laureados pareçam ser seus opositores. São os melhores colaboradores, porque nunca vão às causas do Mal, ficam-se sempre pelas acções de caridadezinha e pelos dizeres esquerdistas sem qualquer tradução em práticas políticas maiêuticas consequentes, essas mesmas que fazem as populações abrir os olhos da mente e crescer de dentro para fora em ser, liberdade, autonomia, maioridade.
Nem Salazar, o criminoso-mor da Guerra Colonial, da Pide, das prisões políticas, dos Tribunais Plenários foi tão unha e carne com a hierarquia da igreja católica, no topo da pirâmide social desde a fundação da nacionalidade, como os presidentes das Autarquias do nosso País deste início do Terceiro Milénio, nomeadamente. Apresentam-se todos mascarados de democratas, mas do que eles gostam é da teocracia que faz deles uma espécie de clérigos laicos, agentes laicos do Divino, com as populações a seus pés e as muitas corrupções travestidas de virtude e lavadas. Se é assim na generalidade dos municípios, muito mais no de Leiria, que vive à sombra do santuário e das “aparições”. Tirem a Fátima o teatrinho das “aparições” e, de Leiria, não fica nada que se aproveite. O município sabe disso e nas suas reuniões todos os membros aprovam por unanimidade decisões respeitantes a Fátima, apesar da cidade e freguesia de Fátima integrarem o município de V. N. Ourém.
Salazar sempre quis ser o rei absoluto sem monarquia. O bispo absoluto, sem igreja. O papa, sem Roma. A verdade é que até o cardeal Cerejeira rastejava a seus pés. Conseguia tudo o que queria, contanto que rastejasse a seus pés. E sempre rastejou.O próprio Bispo do Porto, que esteve 10 anos fora da diocese e do país, numa espécie de exílio dourado, às custas financeiras da diocese do Porto, quis ser o papa de Salazar., mas não conseguiu Em assuntos de igreja, concretamente, de doutrina social da igreja, o papa em Portugal tinha de ser ele. Ao decidir-se pelo “exílio”, prestou um enorme serviço a Salazar e ao seu corporativismo fascista, uma vez que, assim, deixou-o de mãos livres, com o cardeal Cerejeira e todos os outros bispos residenciais a seus pés. Tivesse decidido contrariar a proibição dada oralmente na fronteira de entrar no país, nem que essa postura de rebeldia e de liberdade lhe valesse a prisão política no país, outro, muito outro, teria sido o nosso país, na década de sessenta-setenta. Provavelmente, até a Concordata de 1940 teria ido ao ar e a Guerra Colonial poderia não ter acontecido ou não teria durado tanto, porque a ditadura e o ditador ficariam nus perante o resto do mundo e sem chão bastante para se prolongar, como se prolongou, até para lá da morte do ditador.
Não foi assim e, hoje, mesmo com o 25 de Abril 74, o país é esta apagada e vil tristeza que se conhece, com grande parte dos seus jovens, elas e eles, a dar o melhor deles a outros países que se aproveitam da sua generosidade, das suas capacidades, dos seus conhecimentos, graças aos contratos que estabelecem com empresas neles sediadas. As saudades são grandes, mas maior é o desespero do desemprego em massa e o trabalho assalariado sem direitos e sem salários minimamente dignos e garantidos. Chamou-se-lhe a Revolução dos cravos e isso terá sido. Trouxe, é certo, o fim atabalhoado da Guerra Colonial, da descolonização. das prisões políticas e dos tribunais plenários. Mas não cortou o cordão umbilical com a hierarquia-teocracia, materializada na Concordata de 1940, ainda que a tenha retocado aqui e ali. A verdade é que continuamos a ser um país de joelhos diante do papa e dos bispos residenciais. E, até, os párocos têm um peso institucional na sociedade portuguesa que mais nenhum outro cidadão individual tem. E a prova é que os bispos e os párocos têm os municípios e os seus executivos, agnósticos ou ateus que se digam, a seus pés. Como o exemplo da CM de Leiria continua a provar à saciedade. Entre ele e o santuário de Fátima quase não há separação. Basta um rápido olhar em diagonal pelas actas do Executivo leiriense e a conclusão salta de imediato à vista. Uma vergonha.Uma desonestidade política que faz das populações do país eternas pagadoras de promessas, escravas dos clérigos e das suas missas e das suas prédicas-catequeses sem um pingo de libertação para a liberdade. Nem Salazar foi tão longe. Veja-se o que foi Fátima nos 48 anos de fascismo e o que Fátima é hoje, e conclua-se!
A medalha da cidade de Leiria ao Pe. Carlos Cabecinhas veio mesmo a talhe de foice. Ajuda a fazer esquecer a desgraçada prestação que ele teve no programa “Linha da Frente”, da RTP, este mês de Maio, sobre os negócios de Fátima. No que respeita aos dinheiros de Fátima e do Santuário, meteu os pés pelas mãos e não disse uma de jeito. Um vómito. E que dizer daquele aterrorizado rosto com que ele se apresentou diante das câmaras de tv e entrou nas casas de muitas famílias portuguesas no país e na emigração? Um rosto que deixou perceber que estamos perante alguém, gestor-mor da Máfia Fátima S.A., pronto a executar todas as ordens que o bispo de Leiria-Fátima lhe der. Nem que seja a de mentir e de esconder a verdade. É clérigo e basta. Ser humano é que não é. Nem pode ser, já que entre um ser humano e um clérigo há um abismo intransponível. Nunca haviam pensado nisso? Pois é bom que comecem a pensar. E retirem daí as respectivas consequências. Antes que seja tarde.
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