Ana Gomes: “Só Sócrates pensa que é um preso político”
Ana Gomes diz em Luanda, que "só Sócrates pensa que é um preso político", rejeitando comparar a situação do ex-primeiro-ministro aos 15 ativistas detidos em Angola, como tem sido defendido por Luanda.
A eurodeputada Ana Gomes disse este sábado, em Luanda, que “só Sócrates pensa que é um preso político”, rejeitando comparar a situação do ex-primeiro-ministro aos 15 ativistas detidos em Angola, como tem sido defendido pelo poder angolano.
A eurodeputada eleita por Portugal falava numa conferência de imprensa de balanço sobre a visita que promoveu a Angola ao longo da última semana para avaliar o nível do respeito dos direitos humanos no país, a convite da Associação Justiça, Paz e Democracia angolana.
“Em Portugal, só o Sócrates é que pensa que é um preso político. Ninguém mais sustenta que ele é um preso político, ele está acusado por crimes económicos, corrupção, branqueamento de capitais. E a Justiça portuguesa tem que fazer o seu trabalho”, enfatizou a eurodeputada socialista, mesmo assumindo como “negativo” que “não se tenha investigado primeiro e prendido depois”.
Ana Gomes tem sido acusada por alguns governantes e políticos do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) de “ingerência” nos assuntos nacionais, ao falar das detenções dos 15 jovens detidos por suspeita de estarem a preparar um golpe de Estado, afirmando que são presos políticos, tendo sido desafiada por responsáveis do regime angolano a visitar antes José Sócrates, que se encontra em prisão preventiva em Portugal.
“Eu não acho que Sócrates seja um preso político. E eu não concordo que haja uma prisão preventiva tão prolongada relativamente a Sócrates, acho que isso é mau, pode ser permitido pela lei portuguesa, erradamente no meu ponto de visita, mas acima de tudo não concordo que se prenda para investigar. Lá ou cá”, sublinhou.
Associados ao designado Movimento Revolucionário angolano, os 15 jovens detidos desde 20 de junho, ainda sem acusação formalizada, alegam que se encontravam regularmente para discutir intervenção política e cívica, inclusive com ações de formação, como a que decorria na altura de detenção e que envolveria também a leitura e análise de um livro sobre estas matérias.
Por isso mesmo, e apesar de em Angola se lembrar o caso de Sócrates rejeitando que estas detenções sejam de presos políticos, Ana Gomes afirma que são “acusações distintas” e, logo, “situações diferentes”, não comparáveis.
Sobre os 15 detidos em Angola, e após reunir-se com familiares, demonstrando “profundas preocupações” sobre as condições da detenção, a eurodeputada e membro da subcomissão de direitos humanos da União Europeia, afirma que a própria acusação de “golpe Estado” e subversão apontada aos jovens torna “evidente que são presos políticos”.
“É o próprio Governo que os define como presos políticos, mesmo que, contraditoriamente, o negue”, apontou, sublinhando que “ninguém em Angola” acredita que fossem capaz de realizar um golpe de Estado.
Ana Gomes, que se reuniu em Luanda com vários ministros angolanos nos últimos dias, rejeitou ainda as acusações de ingerência, dizendo desconhecer que estava previsto para durante a sua presença em Angola um protesto exigindo a libertação dos 15 detidos e que acabou na quarta-feira com uma carga policial sobre os manifestantes.
“É absurdo. As questões dos direitos humanos e de solidariedade democrática não podem ser postas ao nível desse tipo de intenções. Não tenho nada dessas intenções, tenho a certeza que há muita gente no próprio Governo [angolano] que não subscreve essas palavras (?) mas há sempre uns toscos que recorrem a argumentos grotescos”, concluiu a socialista.
Sem comentários:
Enviar um comentário