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terça-feira, 25 de agosto de 2015

AH, OS PIRATAS! OS PIRATAS!



  A “toxina botulínica” esgotou
Como tranquilizante e agente moderador da
COPROLALIA
“Ah, os piratas! Os piratas!
A ânsia do ilegal unido ao feroz”
Álvaro de Campos
É certo que muitas das obscenidades mudam de força e mesmo de significado consoante o grupo social ou a região. Há palavrões corriqueiros no Norte que passam horizontalmente por todas as classes, mas no Sul fazem corar quem quer que seja; e o mesmo acontece a alguns que são correntes no Sul, mas que os nortenhos não aceitam de bom grado. A intensidade e o modo como são pronunciados podem também mudar-lhes o significado ou atenuar-lhes o sentido. Tudo isto não nos é estranho e não nos preocupa grandemente. São palavrões, obscenidades, asneiras ou asneirolas que, por vezes, até dão colorido ao discurso ou saem de jacto, quando da clássica martelada no dedo ou da canelada, e que não admitem a educadinha interjeição: “bolas!”
O que nos preocupa, sem quaisquer laivos de puritanismo, é a violência e a constância das obscenidades; por todo o país, em todas as classes, desde a média burguesiazinha parda aos mais desprotegidos, para usar a terminologia em moda, o palavrão, a propósito de tudo ou papagueado como simples desabafo, tornou-se numa constante.
Entre os sociólogos instalou-se um autêntico pandemónio e, porque não encontram resposta científica para o compulsivo chorrilho de palavrões que surgem de todos os horizontes, designam de fenómeno o acontecimento; outra corrente no campo da sociologia classifica o facto de pandemia verbal, enquanto os linguistas esfregam as mãos de contentes e enriquecem os dicionários de calão.
O novo linguajar surge-nos com nova coloração e sonoridade até então pouco usual. Um primor!
Para complicar ainda mais a compreensão do “fenómeno”, os neurologistas afirmam tratar-se de uma vertente do Síndrome de Tourette: a “Coprolalia”, tendência patológica compulsiva para proferir obscenidades, enfermidade totalmente incontrolável porque desinibidora, sendo que esta tendência abrange todas as palavras e frases consideradas culturalmente tabus ou inapropriadas socialmente.
O governo está atento e preocupado; os governos estão sempre atentos e preocupados, não é novidade para ninguém. Assim, uma vez diagnosticado o mal e encomendadas doses massivas de “toxina botulínica” que é injetada nas cordas vocais, o que noutros países tem surtido algum efeito, para nós, portugueses, cada picadela era um estímulo para novos palavrões.
As dificuldades aumentam de intensidade e o mal-estar social agrava-se; segundo os especialistas – os especialistas bem pagos têm uma linguagem académica – há uma relação direta entre a injustiça social e as obscenidades e, bem entendido, quando os analistas nos aparecem na televisão fazendo-nos crer que vivemos no melhor dos mundos, são apodados de tudo e mais alguma coisa, sobrando ainda o suficiente para os governantes, ex-governantes e outros pilantras.
Quando o Costa nos surge qual querubim escondendo o ferrete Bilderberg ou quando Passos tira o Portas da cartola e ambos encenam mais uma farsa, quando fecham escolas e o Serviço Nacional de Saúde se degrada, quando os salários minguam e sobra mês e o desemprego se torna endémico, os palavrões surgem tão vernáculos, tão compulsivos e com tamanha intensidade, traduzidos até em linguagem gestual, com raízes nas Caldas e em Bordalo Pinheiro, que o próprio Albino Forjaz de Sampaio, de quem tanto se falou, deixou de ser referência na matéria, e porque ainda não perdemos a criatividade, mil novos palavrões foram inventados, tão agressivos que os não devo transcrever.
PS/PSD/CDS saquearam-nos todo o património e, de futuro empenhado e escassos meios de sobrevivência, a inflação de palavrões tem sido tal que se elevou a insulto.

Dia 4 de Outubro com a simplicidade dos íntegros, lá estaremos sem palavrões, firmes e conscientes.

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