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terça-feira, 28 de julho de 2015

QUANDO AS COMADRES SE ZANGAM…

QUANDO AS COMADRES SE ZANGAM…

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Numa comunicação social dominada pelo poder económico, onde por ela passeiam e opinam as figuras e os figurões do regime, os capangas do arco da governação, vale a pena ler este artigo ABAIXO para ficar a conhecer melhor aquilo que só se conhece quando as comadres se zangam.
pracadobocage.wordpress.com

SÉRGIO FIGUEIREDO


Para acabar de vez com um monólogo patético e deprimente

por SÉRGIO FIGUEIREDOOntem

1. Cobarde é uma palavra forte. Mais forte do que medroso, embora signifique a mesma coisa: diante do perigo e por medo, recua. E recuar por medo é repugnante. Nem os caranguejos, que são repugnantes e medrosos, andam para trás. Um cobarde não anda para trás por incompetência ou, simplesmente, porque percebe que não consegue lá chegar e desiste. A cobardia não é então o resultado da consciência que um indivíduo tem, mas somente daquilo que lhe falta (o vernáculo popular tem uma expressão adequada para isto, mas aqui vamos ficar pelo frouxo que também rima com roxo).
Também é cobarde quem agride à traição. Há outros animais asquerosos que o praticam. Sonsos, cínicos, aparentemente inofensivos, mas à socapa enchem-se de coragem e açoitam o desprevenido. Cobardia não é, portanto, um pequeno defeito. É uma deformação de carácter insuportável.
Quando esta deformação é uma característica de gente que assume responsabilidades na nação, não é a nação que se acovarda, apenas é enganada - e fica contaminado o ar que todos respiram. Chegámos onde estamos, pior em muitos domínios, porque o país se foi perdendo nas mãos de uns quantos incompetentes, de muitos velhacos e de cobardes a mais.
Poucas coisas são tão intoleráveis quanto a cobardia. A corrupção é seguramente uma delas. Tal como a mentira descarada. E o narcisismo, quando aliado à cobardia. Conhecemos vários "pintarolas" assim. Que praticam o culto da sua própria pessoa. São irritantes, fazem figuras patéticas, perdem a noção do ridículo, são o Narciso imortalizado na canção de Gil que acha feio o que não é espelho.
Eles só se tornam verdadeiramente perigosos quando, à vaidade, acrescentam falhas de carácter.
Pregam a moral pública, defendem o interesse coletivo, promovem valores abstratos, falam em nome de todos. Mas, na essência, agem única e exclusivamente em função de si mesmos. É fácil identificá-los, porque são autores e principais atores dos enredos que constroem. Arrogantes senis, desprezam o que não lhes pertence ou aquilo que não circula à sua volta. Colocam-se acima de tudo e todos, num padrão de comportamento afinal tão previsível: egocêntrico, intrinsecamente mesquinho e miserável.
Há uma obra destas em curso, há várias semanas. Persistente, insistente, obsessiva, insultuosa. Nunca me visou nominalmente, mas sou só eu o visado. Desde há um mês, quase diariamente, através de várias formas, debaixo da expressão genérica Direção de Informação da TVI, tenho sido acusado de tudo: censura, prepotência... e cobardia!
2. No dia 18 de junho, na minha caixa de e-mail pessoal, chegava às 09.24 da manhã uma mensagem de desagrado "sobre a programação de Os Porquês da Política" enviada pelo comentador da TVI24 que há mais de três anos a protagonizava. Augusto Santos Silva não poupava nas palavras, desde a indignação àquilo que classificava como desconsideração pessoal, o ex-ministro considerava "inteiramente inaceitável" as constantes alterações de programação que, em algumas semanas, colidiam com o "seu" espaço de comentário regular no canal.
Quero dizer que, seis meses antes deste episódio, já tinha sido eu a renovar a sua colaboração na estação em que passei a desempenhar funções de diretor de Informação. E foi, nessa mesma linha de coerência, que lhe respondi assim, num texto que aqui reproduzo integralmente:
"Caro Augusto Santos Silva
Em primeiro lugar, para que não subsista qualquer dúvida ou equívoco, quero deixar bem expresso e por escrito a enorme consideração que há anos lhe tenho, um apreço que alimento à distância, nunca fomos íntimos, mas que é sincero e descomprometido.
Embora compreenda o que possa sentir, fico triste com o que me conta. Evidentemente que, agora e enquanto diretor de Informação da TVI, destratá-lo e deixar o Augusto indisposto com a televisão que o procurou e valoriza a sua colaboração há tanto tempo não só seria incoerente com aquilo que pessoalmente penso de si, como gratuito porque não aproveitava a ninguém.
E esse é o segundo esclarecimento importante que gostava de deixar claro: a TVI não quer livrar--se do seu comentador Augusto Santos Silva, não equaciona rescindir o contrato de prestação de serviços e terá muito gosto e empenho em até renová-lo para o próximo ano.
Dito isto, apelo à sua compreensão.
Sim, é verdade, a gestão da grelha da TVI24 está diferente desde que o canal mudou de responsável. É inquestionável o facto, embora se possa naturalmente questionar o estilo.
Entendo que um canal de informação deve ser ágil e reagir a factos relevantes da atualidade. Se editorialmente a TVI entende que algo de inesperado e impactante aconteceu nesse dia ou se uma notícia que a estação deu e provocou ondas de choque na vida política e nacional (como sucedeu nesta semana com a reportagem Negócios do Plasma) é nossa obrigação não ficarmos a contemplar uma grelha de programação, seguramente interessante, mas estática e desajustada aos factos noticiosos que a maioria das pessoas nesse dia procura.
É evidente que isso introduz maior instabilidade nas rubricas fixas, nomeadamente no espaço de comentário premium do canal, como é esse o seu caso.
Podemos ter a opção de manter tudo como estava previsto, privilegiar o planeamento à imprevisibilidade, aprofundar temas que escapam ao assunto do dia. E até é possível obter bons resultados, como também é manifestamente o seu caso.
Mas não é essa a minha atitude. Se há uma operação de resgate dos bens pessoais da família mais importante dos últimos 50/60 anos de Portugal, se esse momento marca simbolicamente o fim de um império que dominou grande parte da economia portuguesa, e também da política, é meu entendimento que a TVI 24 tem o dever de ajustar e responder em prime-time a esse imponderável. Para ter uma ideia, o bloco entre as 07.30 e a meia-noite de ontem mudou três vezes ao longo do dia. Por isso a frustração que sentiu diante de informações contraditórias [que a redação lhe fez chegar] - e que aproveito para lhe pedir desculpas. Não para me penitenciar, porque não foi por desorganização ou desleixo. Mas para lhe dar uma explicação, na esperança de que entenda.
Não posso prometer que não volta a acontecer. Mas quero muito conversar consigo para, em virtude disto, a) garantir que não me escapa; b) avaliarmos os dois uma forma de reduzir a aleatoriedade e o desgaste na sua vida e nos hábitos dos espectadores que lhe são fiéis.
Aceitei ontem o convite que o Paulo Magalhães me fez para a apresentação do vosso livro no Porto. Como vamos estar lá os três juntos, podíamos aproveitar a oportunidade. Senão, também na próxima terça, vem mais cedo e conversamos na TVI antes de fazer o seu programa
Abraço amigo."
3. O livro tinha como título Os Porquês da Política, assinado por Santos Silva e Paulo Magalhães e resultava justamente de uma compilação de textos retirados do programa televisivo que ambos faziam desde 2012. Convidaram-me para a sua apresentação pública e, como é óbvio, ninguém no seu perfeito juízo aceitaria o convite se pretendesse eliminar o programa. Mas julgo que toda a mensagem que lhe enviei é, por si só, elucidativa sobre as reais motivações da TVI em relação a este seu colaborador.
Aparentemente, o próprio Santos Silva entendeu isso. E no mesmo dia em que reagia, com aspereza é certo e outra vez por mail privado, aceitando conversar, decidiu fazer um comentário público na sua página do Facebook em que, num cinismo hipócrita, fazia um jogo de adivinha - porque estaria a ser tão maltratado na estação que lhe dava guarida?
Nascia a tese da censura política: "Porque a TVI já estará farta de comentadores inscritos em partidos políticos e, como já lá tem fartura que chegue de inscritos no PSD, não precisa de um inscrito no PS." A linha de argumentação até poderia ser discutível, mas a atitude é indescritível. Sendo discutível, não era verdadeira: Fernando Medina, socialista e atual presidente da Câmara de Lisboa, foi anunciado como novo comentador da TVI.
De censura política passou a uma "habilidade para esconder a censura", como a classificou numa entrevista à última edição da revista Sábado. Caiu o argumento mas continuam a faltar os escrúpulos. De olhos fechados e sem vergonha na cara, Santos Silva já não ofende só a TVI e o seu diretor. É como se Medina fosse cúmplice do golpe. Como se Medina fosse um pateta. Como se Medina não fosse seu amigo. Que pelos vistos não é. É verdade, na indecência não há espaço para amizades.
4. Além de outros disparates, o senhor também explorou a hipótese da perseguição pessoal: "Porque a minha voz se está a tornar muito incómoda neste clima de sufoco em que vivemos." Não é preciso voltar à mensagem que lhe endereçara nesse mesmo dia, para reafirmar o que penso de Santos Silva. Não é nenhum tonto. Descobri somente que era malformado. Quando ele fala de censura, só vejo falta de educação. Quando se queixa da liberdade de expressão, sobra a incoerência. Quem está mal, muda--se. E foi isso que lhe escrevi, novamente em privado, depois de incrédulo ter lido o que havia publicado nas redes sociais:
"Meu caro, quando me deparei com este seu "desabafo" público senti-me estúpido. Deveria ter percebido, logo no primeiro mail que me enviou, que não tinha vontade de continuar a colaborar com a TVI. Evidentemente que, se pensa isto desta gente que por aqui anda, então não deverá sentir-se bem na nossa companhia. Quer você enviar a carta pedindo a renúncia do contrato ou prefere que seja eu a poupá-lo dessa maçada? Cumprimentos."
O senhor não tinha a mínima intenção de sair pelo próprio pé. Queria manifestamente criar um caso. E, no exato momento em que recebeu a carta, anunciando-lhe a dispensa da colaboração, no espaço de uma hora três órgãos de comunicação social contactaram--me para comentar "a expulsão de Santos Silva da TVI". Limitei-me a confirmar o fim da colaboração, elogiando o colaborador e agradecendo-lhe o que deu à estação. E nos artigos publicados, no Expresso, no DN, em toda a parte, lá estavam as mesmas lamúrias de censura e perseguição.
Só que esta história desagradável estava longe de terminar aqui. De boa-fé, a TVI manteve o programa, para as cinco semanas que faltavam para o contrato expirar. Censura?! Perseguição?!
5. Por ironia do destino, estava a prestar as últimas homenagens a Maria de Jesus Barroso, velório naturalmente frequentado por centenas de socialistas, camaradas de Santos Silva, quando me pediram autorização para não divulgar no site da TVI24 as declarações que ele acabara de fazer em direto no canal.
A acusação acabara de dar lugar ao insulto. Além do paradoxo imbecil, de se queixar vítima de censura na própria TVI24, Santos Silva exigia uma explicação por parte da Direção de Informação e chamava o diretor do canal de cobarde.
Quem é cobarde nesta história? Quem bate pelas costas? Quem marca uma conversa em privado e, à traição, atira uma pedra sem aviso e sem pudor? Quem põe em xeque um amigo, que conduz um programa em direto, é apanhado de surpresa com os ataques que estão a fazer à sua direção e à empresa em que trabalha? E como qualificar um homem que entra em nossa casa, senta-se à mesa, aceita o prato que lhe dão, não para de cuspir para o chão e, ainda assim, recusa-se a sair e ainda se diz vítima da situação?
Sim, é verdade: Augusto Santos Silva não voltou à TVI24. Mas por ser malcriado, não porque a sua voz é incómoda. Qual liberdade de expressão!!! É de decência que se trata. E da ética que ele tanto apregoa. Há limites para tudo e, até hoje, evitei participar neste exercício de vitimização deprimente e patético. A armadilha traiçoeira que montou a Paulo Magalhães e a desconsideração soez que revelou por Fernando Medina autoqualifica a personagem e revela a raça de um egocêntrico. Se é assim com os amigos...
Há um mês que mordo os lábios, num ato de contrição que, quem me conhece sabe, é contranatura, não vai com o meu temperamento. Vai morrer afogado num copo de água - pensava. E ainda penso. Mas este monólogo patético e deprimente foi além do tolerável. Chamem-lhe Narciso, chamem-me todos os nomes. Tenho os piores defeitos do mundo, cobarde é que não sou. Alguém perdeu aqui a face. Eu, que apanhei numa e depois noutra, já esgotei as duas que tinha.

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