“Estamos hoje a lutar mais por Abril e pela liberdade do que tantos outros”
Passos reivindica herança de Abril no programa da coligação para o Estado Social. Pisca o olho à maioria absoluta e puxa pelo discurso do medo: “As empresas de rating estão à espera do resultado das eleições”
“Nestes 4 anos fomos nós a defender o estado social do socialismo”, reivindicou Passos Coelho, fazendo uma projeção para a próxima legislatura: “Se conseguimos em 4 anos defender o Estado Social, livrando-o da bancarrota (…), imaginem como não poderemos nos próximos 4 levar mais longe a aposta na educação, na valorização das pessoas, no conhecimento, na saúde, no social”.
Num discurso que teve sempre na mira a herança do anterior Governo e o risco colocado por um eventual regresso do PS ao poder, Passos Coelho dramatizou a escolha de 4 de outubro enquanto confirmação do caminho escolhido em 2011, quando os eleitores derrotaram os socialistas. “É importante que em 2015 se confirme que a escolha que foi feita [em 2011] não foi apenas um acaso e que nós sabemos o que queremos“, apelou o líder social-democrata, reivindicando para a coligação a concretização do projeto da democracia: “Nós confiamos nos portugueses e sabemos que o que se passou até hoje não foi uma exceção ditada por um resgate externo, foi o princípio de uma mudança importante que há muitos anos ambicionávamos para Portugal e que em mais de 40 anos de democracia não conseguimos”.
Já era claro que Passos Coelho não queria deixar terrenos marcados para a esquerda - pelo menos desde que escolheu a data de 25 de abril para o anúncio da nova coligação com o CDS. Esta quarta-feira ficou ainda mais clara essa opção, também vincada na valorização que tanto o primeiro-ministro como Paulo Portas fizeram das propostas do PàF em termos de políticas sociais. “Este programa é marcadamente social”, reivindicou o líder do CDS, que falou antes de Passos Coelho.
O PAPÃO DAS AGÊNCIAS DE RATING
Nem as duas intervenções da cerimónia, nem o documento apresentado, trouxeram novidades. “Não estamos aqui com invenções”, orgulhou-se o chefe do Governo. Mas confirmou-se a estratégia PSD-CDS para os próximos dois meses: por um lado, a reivindicação do sucesso de ter sido concluído o resgate da troika e a promessa de manter o rumo nos próximos quatro anos - “Quem resolve o passado é de facto quem tem a chave do futuro”; por outro, os argumentos de medo relacionados com um eventual retrocesso em caso de vitória socialista.
“As empresas de rating estão à espera do resultado das eleições”, alertou o primeiro-ministro, trazendo à memória frases semelhantes de Passos antes das eleições de 2011. Em maio desse ano, falando da troika, Passos Coelho dizia: “Eles não podem dizer que o Governo tem de mudar, porque não podem ingerir-se na política portuguesa. Mas, no fundo, é com isso que eles contam”, disse num comício em Viana do Castelo. Agora, ao reivindicar o sucesso conseguido nos juros da dívida, deixou a ideia de que um regresso do PS abalaria o rating (que, apesar de tudo, se mantém no nível “lixo”).
Sem ser explícito no apelo à maioria absoluta, o chefe do Governo deixou, igualmente, uma mensagem sobre os riscos de um resultado “escasso ou incerto”. Se se verificar uma vitória da coligação nessas condições, sublinhou, “muito do tempo que podíamos beneficiar para executar estas políticas e este programa serão gastos a pensar na próxima eleição ou na próxima campanha”.
TIRO AO PS
Previsivelmente, o PS foi o bombo da festa. Paulo Portas, que agradeceu “aos portugueses que fizeram sacrifícios para tirar Portugal da bancarrota”, disse-o com todas as letras: “Há um partido responsável pelo resgate, pela troika, pelo memorando e pela austeridade que o mesmo tornou inevitavel - é o PS, e nunca pediu desculpa aos portugueses, e nunca agradeceu aos portugueses terem superado a crise que o PS criou e deixou”.
Também na comparação dos programas, Portas destacou a diferença entre as duas principais propostas que vão a votos. “O nosso plano é gradual, etapa por etapa, outros prometem tudo num instante. Os portugueses bem sabem que mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”, concluiu o líder do CDS, classificando o programa socialista como “radical”, nomeadamente nas propostas para a Segurança Social.
Passos pegou na deixa e carregou nas cores. “Aqueles que teimam em não aprender com o passado, se obstinam em propor ao país mais do mesmo que o país conheceu, esses evidentemente estão condeandos repetir os mesmos erros. Mas não podem condenar o país a passar pelo mesmo sofrimento”, disparou o primeiro-ministro. Não só as políticas, como os protagonistas se repetem, acusou. “Nem o cuidado tiveram de mudar as caras mais responsáveis por essas politicas do passado.”
SEI O QUE FIZESTE EM 2013
Passos reivindicou para o seu Governo um lugar na história. “Politicamente, foi história que fizemos”, frisou, invocando o cumprimento do memorando e da legislatura. Mas, relembrando essa história, acabou por invocar o ponto mais dramático dos quatro anos de coligação.
O momento mais insólito da cerimónia, que levou a um hotel de Lisboa boa parte do Governo e dezenas de dirigentes dos dois partidos, foi quando Passos Coelho recordou, nem mais nem menos, do que a demissão “irrevogável” de Paulo Portas. Tudo para dramatizar a importância do resultado de 4 de outubro.
“Quando em 2013 passámos por um período mais difícil, até aqueles que não tinham votado em nós ficaram preocupados com as consequências que poderiam vir para as nossas vidas”, caso o Governo caísse e houvesse um segundo resgate, lembrou Passos Coelho. “O futuro do nosso Governo estava ligado ao futuro de Portugal”, sublinhou. A história, diz, repete-se daqui a dois meses: “O futuro do país dependerá decisivamente das escolhas nas próximas eleições” e “mais uma vez” o destino do Governo e de Portugal “está ligado”.
Portas, longe dessas invocações, empolgou-se com o novo slogan do PàF, “Agora Portugal pode mais”. “Não há, porventura, frase que melhor sintetize o caminho que o país fez, os ganhos que conquistou e o futuro que tem nas mãos.
Sem comentários:
Enviar um comentário